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EX- COMBATENTES DA GUERRA COLONIAL

06-05-2016 - Henrique Pratas

Nos últimos tempos tenho andado de almoços em almoços dos ex-combatentes da Guerra Colonial, que como sabem só foi para alguns, quero eu dizer que quem ia para a frente de combate eram alguns oficiais do quadro e a maior parte eram milicianos ou soldados, que foram “convidados” a participar naquela Guerra sem lhe terem explicado sequer ao que iam e eles como estavam proibidos de perguntar não o faziam, tinham “ganho” apenas, uma viagem de ida.

Como vos disse anteriormente participei em muitos almoços convívios de muitos ex-combatentes e é de salientar a amizade que eles construíram, ao vê-los parece que tinham estado ontem uns com os outros, mas não passou-se um ano, mas não parecia.

Dos que estavam presentes notava nos seus rostos a felicidade de estarem uns com os outros, mas também lá estavam as marcas de um guerra para a qual foram voluntários à força, acompanhados das suas famílias pus-me a observar tudo. Registei na minha memória que haviam uns que eram mais calados, só quando eram desafiados é que participavam nas conversas, notavam na cara daqueles homens a injustiça e o sofrimento que passaram na Guerra, estavam-lhes marcados no rosto as peripécias e as situações de aflição porque passaram, também as famílias estavam marcadas pelo mesmo estigma, falavam mais umas entre as outras de com os próprios maridos, pais ou avós.

Falaram com saudade dos que já não puderam estar presentes pelo facto de já terem partido e de outros que por motivos vários não puderam estar presentes pelo simples facto de não possuírem meios financeiros para se poderem deslocar.

As companhias onde estive presente tinham homens de todos os cantos do País e como os convívios foram realizados perto de Fátima, muitos não se puderam deslocar. E em Fátima tentei eu saber porquê, porque independentemente de serem crentes ou não, muitos deles vão agradecer o facto de terem voltado vivos, isto é real não é ficção é assim e ponto, não há que questionar.

Notei que no meio havia um que se pautava por preferir estar sempre isolado, não se juntava ao grupo achei estranho, mas sem fazer perguntas a ninguém fui observando sem ser notado, vi a constatar quando ele se veio despedir de mim que estava fortemente medicado, mas independentemente de se encontrar nesta situação não deixou de dizer estou presente é louvável.

Como devem imaginar passados 41 anos da Guerra Colonial ter terminado é de admirar o espirito de união com que estes homens ficaram porque fazem questão de se encontrar todos os anos e qual é o papel do Estado no meio disto tudo, nenhum.

Não existe reconhecimento a nenhum destes homens que vos escrevo que estiveram na Guerra, é uma injustiça, tenta-se escamotear através do esquecimento o que aconteceu há uns anos atrás, os homens não foram para a guerra por opção foram obrigados pelo Estado Português e o que é que este faz por eles nada, muitos ou a maior parte deles são votados ao infortúnio, vivendo com o stress de guerra e as suas consequências que ainda perduram nos dias de hoje.

O Estado português trata muito mal todos aqueles que deram tudo por ele incluindo a própria vida, enquanto outros que nada fizeram por ele a não ser tirarem partido da posição que conseguiram no Estado e encheram os bolsos, que se pavoneiam no meio desta desgraça como pessoas de posição, são “apanhados” em todas os negócios menos próprios ou vigarices de forma descarada.

Quem é que se lembra que estes homens existem?

Henrique Pratas

 

 

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