RECORDANDO
22-04-2016 - Matos Serra
Quando, no seguimento do passado 4 de outubro de 2015, começou a gizar-se um entendimento, na perspetiva de um programa de governo do Partido Socialista, apoiado por forças políticas à sua esquerda, nomeadamente, como veio a verificar-se, pelo PCP, pelo BE e pelo PEV, alterando a fatalidade desse ARCO do esgotado bailinho governativo, o clássico bailado a três, em que os bailadores mores PSD e PS, quando não tinham mandamento para bailar a solo, iam buscar a dama predileta, o CDS-PP, para bailar, a dois, sempre a mesma valsa “Neoliberal”… na perspetiva de alteração desse baile mandado, em que os próceres do dictat neoliberal tinham assumido, para si, que algumas forças políticas, (partidos) em que uma parte do povo votava e se considerava democraticamente representado, não tinham os mesmos direitos, designadamente, o de fazerem parte da governação do país, nessa perspetiva, ia eu a dizer… e quando a dupla da austeridade pensava, a todo o custo, manter-se no poder… ao perspetivar-se uma alternativa no entendimento das forças políticas da esquerda, visando uma aliança, logo se levantaram muitas vozes de gente defensora dessa política neoliberal empenhada em continuar, na via da austeridade e em degradar, cada vez mais, a vida da maior parte das famílias portuguesas.
Recordo aqui, como exemplo dessas vozes, a de um senhor que já passou pelo Ministério das Finanças, fruiu vantagens no desgraçado processo de passagem dos setores estratégicos do país para mãos privadas e estrangeiras e assumiu, depois, chorudas alcavalas cumulativas, ao serviço dos novos donos de um desses setores privatizados para daí fruir mais uma desmesurada renda mensal. Esse senhor, que aponto como exemplo, sem pessoalizar expressamente, pois não me interessa o ataque pessoal mas, tão somente, participar, desta forma possível, na luta contra este sistema desumano, desequilibrado e injusto… que, por uma questão de higiene não referencio expressamente, nem valeria a pena já que me interessa, sim repudiar é o sistema que criou esta vergonhosa política de classe e de lesa Pátria que alimenta o apetite desmesurado dos seus agentes.
A perlenga desse senhor, que por acaso foi pública, era igual ao de muitos outros que, em surdina, faziam o mesmo zum –zum … e não poderia, na altura, ser outra… com ela distorciam as realidades para construir um discurso à medida das suas aspirações gananciosas… Diziam, ele publicamente, acompanhado em surdina por muitos outros, que o PS deveria estar a ajudar esse governo, feito de párias que conquistaram o poder enganando o povo com mentiras e falsas promessas, para assim, esse governo antidemocrático e anticonstitucional, porque estribado em fraudes eleitorais e violador da Constituição da República, matar dois coelhos com a mesma cajadada, “ acabar com o PS que, no próximo futuro, o eleitorado desprezaria, transformando-o num vulgar PASOK sem expressão, e ser, por ele, PS, ajudado nas suas políticas contra o povo português, a favor da clique austeritária de que o referido senhor fazia parte…
O seu discurso, e o de outros como ele… introduzia, também, mais uma falsidade então propalada aos quatro ventos, com que os defensores e adeptos desse desgoverno tentavam amedrontar o povo com o quadro, que se vislumbrava, de um acordo à esquerda que poria borda fora esse governo de lesa Pátria…
Essa falsidade radicava no espantalho do não alinhamento das forças políticas à esquerda do Partido Socialista nas subordinações ao euro, à NATO e ao torniquete da dívida, sendo que essas forças políticas preconizavam, (e continuam a preconizar…), uma preparação para eventualidades futuras de renegociação da dívida e saída voluntária ou forçada do torniquete da dívida e do euro.
Ora a política de alianças, que esses senhores fingiam desconhecer, assentava e assenta em plataformas para programas comumente aceites para planeamentos de governação futura e que as partes abdicariam de aspetos programáticos próprios a favor de um programa, aceite em comum, que salvaguardasse pelo menos no essencial, a dignidade e o bem-estar do povo…
Não se tratava, como os comentadores encartados queriam fazer crer, destas forças de esquerda eliminarem dos seus programas específicos, esses parâmetros fundamentais da sua política de libertação futura.
Todos aqueles, de nós, em que ainda permanece o sentido de justiça e de patriotismo, sabemos que a dívida, e a sua gestão agiota, faz parte da política neoliberal exploradora e especulativa, que a NATO é um instrumento agressivo ao serviço não de uma defesa mas de uma ofensa dos povos… e que o euro é um garrote que afronta a liberdade política e económica de que, mais tarde ou mais cedo, os povos amantes da dignidade terão que libertar-se…
Contudo, a prioridade era (e continua a ser) libertarmo-nos da austeridade cruel que, nessa altura, a aliança PSD/CDS-PP configurava.
A bem da Pátria e do Povo esta era (e continua sendo) a sagrada luta, numa frente de esquerda PS/BE/PCP/PEV apoiando um governo PS que afaste, definitivamente, os insaciáveis da austeridade que consideram que o povo, enquanto não morrer à fome, estará a viver acima das suas possibilidades.
Como pode aceitar-se que, num país que fez abril… (que uns tantos traíram…) enquanto alguns beneficiados do atual sistema consideram demais um vencimento de 530 euros para sustentar, durante um mês, uma família trabalhadora, haja quem, no transato ano de 2015, tenha auferido, numa empresa prestadora de serviços ao povo, a irracional soma de mais de 6000 euros diários… como muito recentemente foi noticiado, relativamente a um determinado senhor, entre muitos mais, sem que uma nuvem de vergonha tenha assolado o país… HAJA DECÊNCIA!....
Quero, depois de quarenta anos de baile mandado a dançarmos o arquinho PS/PSD/CDS-PP deixar o público testemunho de sincera admiração aos socialistas, Dr. António Costa e a quantos tiveram a coragem de o acompanhar nesta atitude nova, como protagonistas de algo novo sem esquecer todos os obreiros desta fresca e democrática inovação na política portuguesa que pode marcar, indelevelmente, a história político-social da nossa Pátria, por um futuro de maior dignidade e bem-estar dos portugueses, porque a História haverá de ser feita com coragem, coerência e unidade dos seus melhores filhos. Que seja esta uma primeira etapa na construção de um futuro com justiça, harmonia e dignidade!...
Matos Serra,
Tenente-Coronel Para-quedista que, em abril de 1974, arriscou a vida pela
dignidade da Pátria.
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