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UMA HISTÓRIA PARA OS INDIFERENTES

25-03-2016 - Matos Serra

“Sobre a estabilidade final”

Há algum tempo passado, era o tempo em que estavam no poder o Dr. Passos, o Dr. Portas e a Dra. Maria Luísa, que agora trabalha para uma empresa predatória inglesa. Depois de uma manhã de trabalho, ao pequeno almoço, liguei o televisor e ouvi, mais ou menos isto… a sequência exacta das palavras alterou-se um pouco com a minha estupefacção, relativamente ao que então ouvi e com o tempo que, desde então, decorreu. A arenga vinha da parte de um desses senhores engravatados que vinham, nesses dias, falando muito de estabilidade, “não estou a fazer humor negro”… era mesmo de estabilidade que esse senhor falava… Era mais ou menos isto:

- O país precisa de estabilidade, nós temos é que garantir a estabilidade;

- Nós valorizamos a estabilidade e vamos assegurá-la;

- Blá… blá… blá… ………….. …………

Era um qualquer Excelentíssimo Senhor Secretário ou Ministro, ou adjunto de Ministro ou um senhor do CDS ou do PSD que eram, então, partidos dos senhores ministros, secretários, subsecretários e adjuntos e adjuntos dos adjuntos – eram tantos que qualquer um lhes perdia o conto e ficava à nora com a sua identificação…

Falava, então, dos compromissos do Dr. Portas, da estabilidade que resultaria da reversibilidade do Dr. Portas, do Dr. Portas que transformou a irreversibilidade na mais rápida reversibilidade política de que há memória e de que a História guardará recordação e memória futura, do Dr. Portas da estabilidade do “dito por não dito”, do “dito por não dito” que asseguraria a garantia da estabilidade da austeridade, da fome, da miséria e da instabilidade das famílias portuguesas.

Me lembro de ter ficado dez minutos a benzer-me até que um fiat-lux me garantiu alguma compreensão sobre o que estava ouvindo…

Compreendi que havia perdido toda a noção sobre o novo sentido das palavras emanadas da boca desses tão clarividentes e sapientes políticos que asseguravam a estabilidade política e económica do país e que, do sentido que eles davam à palavra estabilidade eu estava mais longe que daqui à Alfa de Centauro, tão refinado era o sentido que tais sublimes criaturas davam à palavra ESTABILIDADE.

Esse fiat-lux trouxe, então, a clarividência ao meu pobre topete e percebi que estabilidade também podia querer dizer logro, falcatrua, corrupção, fome, miséria, desdém ou suicídio e, até podia, numa pirueta magistral, querer dizer o seu contrário, isto é, INSTABILIDADE… porque era na instabilidade da vida dos portugueses que se estabilizavam muitas barrigas grandes que por aí se pavoneavam (e ainda se pavoneiam) com toda a empáfia e era e continua a ser, também, na instabilidade geral, nas assimetrias monstruosas entre ricos e pobres que muitas excelências pardas, nessa altura, apoiadas em moldes espartanos pelos Excelentíssimos Senhores Ministros e Sua Excelência o, então Senhor Presidente da República, radicavam a estabilidade da Pátria.

E pensei, com o coração a sangrar, como eles levavam a estabilidade absoluta, total e final a alguns milhares de portugueses pela, politicamente eficaz, via do suicídio.

Pensei, sobretudo, nos suicídios neste Alentejo, calmo e esvaído, que hipotecou, ou deixou hipotecar… a sua produção e as suas riquezas, nomeadamente, a terra e as gentes (seus recursos naturais e humanos) pelos ínvios caminhos da cedência a interesses estranhos e condenou ou deixou condenar os seus filhos a forçados desterros e estava hipotecando ou deixando hipotecar a sua dignidade pelo processo da pobreza consentida e pelo providencialismo recorrente.

E, nesses fatídicos dias, pensei, sobretudo, com uma dor amarga, na morte, por suicídio, do meu amigo João Luís, que então ocorreu aqui na bucólica e simpática vila de Cabeço de Vide, onde vivo. Um jovem de pouco mais de quarenta anos que deixou mulher e filhos no inferno da aflição sócio-económica. A filha mais velha desta família alentejana fora para França e o casal com os outros filhos estava a preparar a saída quando se deu o desenlace… o resto continua, hoje, para mim, uma incógnita..,

Estes e outros casos, que aconteceram e continuam a acontecer cada vez com mais ESTABILIDADE E CRESCIMENTO, são a fuga para a estabilidade FINAL de cada vez mais portugueses, SE NÃO ACORDAREM OS INDIFERENTES.

Prezados concidadãos, escrevi este texto como catarse e com o coração ainda a sangrar.

Hoje, felizmente, com mudanças que o último 4-10-2015 permitiram, volto a ter algumas razões para o sonho e a esperança se não continuar o sono de muitos indiferentes…

Matos Serra

 

 

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