Social democracia sempre
12-02-2016 - Francisco Louçã
A direita portuguesa é um fado triste, para mais cantado com voz vinda do além (ou de fora).
Passos Coelho chama-lhe “social-democracia sempre” na sua esforçada recandidatura à continuidade em que promete renovação. Ora, o nome da candidatura, esta “social democracia sempre”, é uma floresta de enganos. O PSD, está bom de ver, não é um partido social-democrata, é de há muito um partido liberal pragmático que dá muito mais importância à venda da EDP ao capital internacional, mesmo que seja ao Partido Comunista Chinês, e ao corte das pensões, que festeja, do que a qualquer política distributiva, que abomina. Social-democracia não existe em Portugal, talvez excepto num partido meritório que vale 0,7%.
Chamar à aventura de austeridade e de liberalização, que a direita protagonizou, uma “social-democracia sempre” é por isso uma graça. Em homenagem do vício à virtude, Passos Coelho devia chamar-lhe somente pelas iniciais, SDS, pois com o nome PàF a artimanha resultou e é bem melhor que ninguém se lembre de perguntar pela tal da social-democracia.
Acresce ainda que a SDS se oferece simplesmente como uma voz de Berlim (ou de Bruxelas, que nesta geografia é a mesmíssima coisa). Diz Bruxelas ou Berlim: a consolidação orçamental é insuficiente, repete o PSD que é insuficiente (e o CDS acrescenta, muito insuficiente). Diz Berlim ou Bruxelas: as regras são para cumprir, repete o PSD que é para cumprir (e o CDS que é para cumprir muito).
Esta estratégia é arriscada. Primeiro, porque lembra demasiado os tempos da troika e os seus mandantes e não percebo porque é que o PSD pensa conseguir fichas eleitorais ao evocar o seu papel nesse passado recente, com o custo redobrado de mostrar a cara de Passos Coelho como cartaz. Segundo, é arriscada porque só resulta se o povo português mantiver uma atitude temerosa perante os deuses dos trovões e se, desse modo, for convidativo manter os partidos de direita nesta lógica de submissão a Berlim. Assim, esses partidos apostam a sua identidade ao apresentar-se como arreatas de Merkel. É muito arriscado, o vento pode mudar.
Mas, sobretudo, que é esta SDS, social-democracia sempre, que se reduz a uma voz emprestada? Ao colocar-se nesta posição impossível, quererá mesmo Passos Coelho que olhemos para ele como alternativa de futuro, se se exibe como uma sombra do passado?
(no blog tudomenoseconomia, no Público)
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