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A morte

15-01-2016 - Henrique Pratas

Este texto é o resultado de muitos comentários que tenho ouvido por parte de algumas pessoas com que mantive alguma conversa e é contado na primeira pessoa do singular pelo simples facto de entender que nenhum de nós aceita que um dia não sabemos quando iremos para outras “paragens” e outros nem sequer pensam que a vida não é eterna e praticam todos os impropérios que lhe ocorrem, passando por cima de tudo e de todos, sem respeito nenhum pelas outras pessoas que partilham a mesma sociedade.

Agora que estou perto dos 60 anos, abril de 2016, tenho andado a pensar muito que tempo de vida é que vou ter, sendo certo que a única coisa que temos certo na vida é a morte, que poderá aparecer mais cedo ou mais tarde, não a controlamos, mas escrevo eu quanto mais tarde melhor, apesar de andar numa fase em que a vida não me dá nada daquilo que desejava.

Aproveitei estes interregnos provocados pelo Natal e o Ano Novo que há muito não me dizem nada, para fazer balanço daquilo que gostaria de termos de sociedade enão pessoal.

Várias vezes já vos escrevi que quando o 25 de abril de 1974 ocorreu, eu faria 18 dois dias depois, nesta idade sonhamos, queremos mudar o Mundo, participámos e alinhámos, em todas as ações que achávamos que devíamos participar, acreditámos em todas as pessoas, pois não existiam razões para que tal não acontecesse.

Chegado a esta fase e fazendo um balanço daquilo que queria e o que temos, em termos de sociedade, apetece-me desistir, desaparecer, porque aquilo que pretendia nada se concretizou, temos uma sociedade sem valores, onde o dinheiro dita leis e as influências sejam elas politica ou económicas dominam a nossa economia, onde está a tão apregoada igualdade de oportunidades, onde está a sociedade que imaginei, onde todos os cidadãos tivessem uma vida digna, com acesso à saúde e às outras prestações de serviços que lhe são necessárias?

Afinal sonhei, idealizei, lutei, trabalhei e não consegui mudar uma virgula é perfeitamente dececionante, estou exausto e apesar de continuar com os meus objetivos e de saber o que quero, já não me apetece puxar a carroça e por vezes a melhor para mim, talvez uma posição egoísta, seria morrer, já estou cansado de ver violações aos normativos legais, as instituições que são manipuladas a torto e a direito os políticos que se preocupam apenas com o seu bem-estar e não com a defesa dos direitos daqueles que os elegeram, para mim isto está tudo invertido e não tenho nada a ver com isto, mas é que não me identifico rigorosamente nada com o que existe, tento viver à parte disto tudo, mas quando por qualquer motivo a minha paralela se aproxima ou toca a outra paralela da dita sociedade democrática onde a generalidade dos cidadãos se inserem, o choque é imediato porque não me identifico com nada daquilo que é praticado, sempre tentei ser um homem livre, com ideias próprias, sem preconceitos ou ideias pré-concebidas, onde me pautei por princípios como a defesa da liberdade, a igualdade e fraternidade, mas chego agora à conclusão que estes valores não existem de todo o respeito pelas pessoas é cada vez menor e cada um não respeita o outro, só me interrogo ao que nós chegámos e ao que vamos chegar.Por mim, não me apetece fazer esta viagem prefiro ficar já aqui, não quero fazer parte integrante do faz de conta, nem quero participar de forma nenhuma neste tipo de sociedade que me querem impor, por mim chega.

Independentemente do que acabei de escrever eu ainda nestes últimos anos tentei alterar o estado de coisas com intervenções, pensava eu que modificava alguma coisa, não, não consegui modificar nada, cheguei à conclusão que falo mas as pessoas não entendem aquilo que digo, andei a pregar aos peixes, chega. A maior dificuldade para mim é que fui educado a ser solidário, a ser amigo na verdadeira aceção da palavra, a honrar a minha palavra, a cumprir com as minhas obrigações, a ser profissional, incorruptível, ou seja aceitar nada que não seja meu, a não mexer em nada que não seja meu ou que me seja a ver ou a tocar. Estou perfeitamente desenquadrado disto tudo, não quero passar por cima de ninguém mas também não gostava que passassem por cima de mim, gostava que houvesse mais respeito, decência, valores, princípios, mas como isto não é a prática corrente, não me apetece viver nada desta vida, não sei que rumo dar à minha vida para mim nesta fase só me apetece desaparecer no sentido literal do termo, estou desolado, triste e descrente do rumo que esta sociedade tomou, não, lhe pertenço.

O que farei à minha vida, não sei dou voltas e voltas, penso e repenso, vou sempre parar a um beco sem saída, a situação está crítica porque não vejo melhorias no estado do País onde vivo e as soluções que são propostas não nos levarão a caminhos diferentes daqueles que já percorremos, sabe-se lá como nos últimos 4 anos e quase chegado aos 60 anos, questiono, vale a pena viver nestas condições, o que é que a vida me dá de bom, ao fim e ao cabo estou cheio de cicatrizes algumas contraídas por decisão minha, outras que não esperava de todo e algumas resultantes dos amigos que pensamos ter e não ter. Já lá vai o tempo em que o valor da amizade era “cultivado”, hoje em dia os amigos são coisa rara, o que temos são conhecidos que apenas se aproximam de nós e sob uma suposta “capa” de amizade se aproximam de nós para obter algo que necessitam, a reciprocidade não existe, quando pensamos que temos um amigo, na verdadeira aceção da palavra, estamos perfeitamente enganados e isto nota-se nos gestos mais pequenos, logo amigos conto-os pelos dedos de uma mão e ainda sobram dedos com fartura, o que existem são interesses e tudo gira à volta disto e isto a mim não me interessa, não me quero dar com as pessoas com o objetivo de alcançar alguma coisa, por isso e por outras coisas mais, não tenho nada a ver com isto, como é que me vou libertar disto não sei, mas que não alinho com o que me querem impor, uma sociedade descartável e de ocasião, não contem comigo.

Henrique Pratas

 

 

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