Sim sou solidário
04-12-2015 - Pedro Barroso
Sim, acho a condição de fome e indigência a pior das vergonhas da raça humana. Sim, sabemos q é necessário ajudar.
Numa sociedade ideal, o E stado proveria a tal carência; mais, numa sociedade ideal, ela não existiria.
Mas esta historia repetida do Banco alimentar contra a fome mexe comigo. Ajudo sempre; mas sobra-me alguma reflexão.
Há pouco tempo decorreu mais uma acção conseguindo recolher cerca de 2600 toneladas de alimentos, segundo o que deu nos noticiários.
Por vergonha - ou medo de um dia sermos nós a precisar...- desperta um instinto súbito de caridade e humanismo, jogando com o período do Natal e a chegada do subsídio respectivo - para quem recebe. Timing inteligentemente calculado, claro.
A 1ª duvida que se põe é saber se a D. Jonet é voluntária ou não. Se tem vencimento ou não. Se continua a acreditar que "devemos aprender a viver pobres", que há "muitos pobres profissionais" e que no fundo "não há miséria em Portugal" ou não. E se este tipo de senhora metida a caridosa, merece ou não o cargo que tão agarradamente ocupa.
A 2ª dúvida é saber se os alimentos recolhidos chegam integralmente às mãos de portugueses carenciados sem qualquer desvio na sua entrega como centenas de ex voluntários já começam a denunciar.
A 3ª duvida implica contas - Imaginando que cada um dos mais de 2 milhões e meio de pessoas comprou 2 ou 3 produtos no supermercado, numa média, digamos, de 2 euros, façamos um pequeno cálculo:
2.500.000 x 2€ = 5.000.000€ (cinco milhões de euros) foram pagos pelos doadores aos hipermercados.
Lindo. Emocionante.
Mas antes da refeição distante que irá originar, quem lucrou com isto?
– O Estado arrecadou mais de 1 milhão € em IVA.
– Os hipermercados meteram ao bolso quase um milhão e meio €, fazendo as contas a margem de 30% de lucro, - que às vezes é bem mais alta...
Portanto - sim, a economia circula. Sim, gera-se uma cadeia solidária. Sim, é bonito ajudar. Sim, quero acreditar que chegue tudo ao sítio certo.
Mas nem o Estado nem os grandes impérios da distribuição alimentar são capazes de abdicar um cêntimo das suas fatias de leão! Nem das tais verbas faraónicas de lucro, nem das matérias "gordas" fiscais... . Bondosa gente.
Não me perguntem como; mas diminuir lucro, ceder uma tolerância especial nos dias de peditório, criar um dia sem IVA, qualquer coisa que fosse uma amostra visível de comparticipação dos "grandes" face ao que os pequenos (os cidadãos, afinal) conseguem oferecer; e candidamente esperam que chegue intacto e incólume ao seu justo e humano destino.
No jogo das prioridades éticas q se me puseram, muito bem, não deixei de contribuir. Mas interrogo-me.
E leio e ouço tanta coisa sobre tudo isto, que me começa a fazer alguma espécie esta candura eterna de quem tanto dá, face à ganância oculta e farisaica de quem tanto ganha.
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