Edição online quinzenal
 
Domingo 5 de Maio de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

O MEDO

24-01-2014 - Eduardo Milheiro

Lembro-me quando li pela primeira o livro do filósofo José Gil «O Medo de Existir», e de um parágrafo em particular:

“O medo vertical e medo horizontal. O medo vertical nasce da autoridade hierárquica, do dispositivo que implica uma graduação de poder. O medo herda-se, é interiorizado, estende-se a toda a superfície social. O medo vem de longe, do salazarismo, até de muito antes, a que sucedeu o medo horizontal do desvio à norma. O medo vem do presente que se perpetua por falta de ideia do futuro. O medo horizontal é o que vemos nas caras das pessoas na televisão, quando perdem um emprego. É um medo que se tem quando se avança com uma estratégia de competitividade num mercado para ver se a iniciativa vence ou não.”

José Gil sabe caracterizar o medo em Portugal como ninguém o fez, é uma tragédia que ainda hoje persegue os Portugueses, os Portugueses têm medo, e se não vejamos: nas greves hoje temos muitos trabalhadores que não as fazem, e não fazem porque têm medo de represálias, que podem passar pelo seu despedimento, pois cada vez mais, devido à precariedade da contratação, o despedimento é feito sem dificuldade nenhuma para a entidade empregadora, ora isto é “O MEDO”. Nas autarquias os trabalhadores calam-se perante o que passa pelos seus olhos mal feito: corrupção, gastos sem justificação, favorecimentos, porque aí onde todos se conhecem é perigoso denunciar ou falar sobre os assuntos, pois pode-se tornar inconveniente para as suas vidas meter-se, como eles dizem, em assuntos a que não são chamados. Isto é “O MEDO”. “O MEDO” está inscrito nos Portugueses, sejam operários, sejam jornalistas, sejam funcionários públicos, ou sejam das forças de segurança ou mesmo militares, até no milhão de desempregados que temos “O MEDO” existe.

Como se constata, os partidos políticos cada vez estão mais afastados dos cidadãos, e o grande motivo é sempre o mesmo, “O MEDO” de não agradarem ao chefe e não serem candidatáveis, de não agradarem ao chefe e não terem o seu emprego arranjado pelo partido, “O MEDO” de não fazerem parte das comissões que decidem o que o partido vai fazer, “O MEDO” de não poderem vir a ter uma carreira política porque discordam do chefe, “O MEDO” de serem afastados da grande corrente que lhes permite conhecimento com outros intérpretes que lhes possam proporcionar carreiras, benesses sociais e materiais.

É este o Portugal de hoje, é assim há dezenas de anos. Esta herança do Salazarismo ainda não desapareceu do seio da nossa sociedade e vai ser difícil de desaparecer, com um Portugal depauperado, da caridade e do desemprego principalmente jovem, mais difícil vai ser.

Acredito que só uma grande mudança, diria mesmo uma mudança radical, o começar de novo, como donos de nós mesmos, da nossa economia, da nossa independência monetária, sem amos europeus e sem sermos subjugados ao poder neo-liberal das potências mais ricas da Europa que mandam no euro, poderemos libertar-nos. Esperemos que isso aconteça rapidamente ou, penso eu, estaremos perante o agravar de uma grande tragédia que já acontece no nosso País, onde “O MEDO” permanecerá.

Desculpem lá, mas apetece-me dizer, porra!! Percam lá O MEDO, por vós e pelo futuro dos vossos filhos.

Eduardo Milheiro

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome