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O pior do aparelhismo

31-07-2015 - SÃO JOSÉ ALMEIDA

A reforma do sistema político que o país precisa passa por uma nova mentalidade face ao poder.

O PS finalizou o seu processo de preparação para a campanha eleitoral com a aprovação das listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. Acabou assim um primeiro teste à liderança do novo secretário-geral do PS. E se António Costa conseguiu impor os seus critérios para a formação das listas e a sua escolha de candidatos – à excepção da Madeira -, a verdade é que as pressões contra os critérios e a rejeição de algumas das pessoas por si escolhidas mostram que a sua liderança não é incontestada.

O mais grave dos aspectos revelados pelo processo de formação das listas, não é a percepção de que Costa não tem ainda uma liderança solidificada, o que normalmente só ocorre quando o novo líder conquista o Governo e a gravitas do poder ajuda a cimentar o domínio partidário. Observe-se a transformação operada em Passos Coelho quando ascendeu a primeiro-ministro e atente-se no silêncio com que, até agora, tem sido feita a lista da coligação, tarefa que inclui cerzir os candidatos do PSD e os do CDS na expectativa de diminuição de lugares elegíveis.

Assim como é normal, num partido democrático e com sensibilidades internas como o PS, as guerras por representatividade que fizeram os apoiantes do anterior líder, António José Seguro. Acabaram com cerca de 30 lugares elegíveis, o que, tendo em conta o expectável crescimento eleitoral, se o PS eleger cem deputados, corresponde à quota de 30% de votos que Seguro teve nas primárias. E mesmo os protestos finais dos que ficaram de fora, casos de António Galamba e Miguel Laranjeiro, são normais, já que protestar e discordar é um direito que lhes assiste.

O pior foi a forma despudorada e quase ostensiva como os que dão corpo ao aparelhismo partidário mostraram que estão à espera de que o PS seja Governo para darem, mais uma vez, azo à cartelização do Estado. Mesmo sabendo que o seu espectáculo irá prejudicar eleitoralmente o partido cujo interesse, enquanto militantes, deviam supostamente defender.

Nem sequer é válida a desculpa de que não têm consciência das consequências. Têm tanta que, em relação ao “compromisso ético” , depois de inúmeras pressões para que este não existissem, quando chegaram ao momento da votação, ninguém votou contra. A vergonha falou mais alto.

É verdade que este documento devia ser desnecessário e que todos os candidatos deviam de sua livre vontade e ética pessoal saber como agir. Mas é também verdade que a promiscuidade na política está a estigmatizar os partidos de tal forma, que se justifica que sejam dadas garantias aos eleitores.

Incompreensível é que pessoas que têm problemas com a Justiça tenham insistido em permanecer nas listas. O caso que mais falado foi o do deputado Rui Duarte, que só saiu da proposta de lista de Coimbra apresentada pela distrital, quando percebeu que Costa iria mesmo retirá-lo da lista. Evitou o enxovalho na Comissão Política, afirmando a sua opção de sair.

Pior acabou o caso da lista de Santarém. O deputado António Gameiro, que preside à federação distrital, tem todo o direito a defender-se de uma acusação que diz ser falsa e de interpor recurso contra a condenação que lhe foi aplicada em processo cível. Mas enquanto o seu caso não estiver fechado, devia ter o cuidado de não se candidatar. Até porque poderia sempre voltar à Assembleia daqui a quatro anos, já sem problemas com a Justiça pendentes.

Já despudorada foi a contestação à entrada de novas pessoas em alguns círculos. É lamentável o espectáculo dado por algumas figuras do aparelho ao contestarem a presença de personalidades de prestígio, com cujo convite Costa procurou surpreender o país e dar um sinal de abertura do partido. Nomeadamente a contestação em Viseu a Maria Manuel Leitão Marques, em Coimbra a Helena Freitas, em Leiria a Margarida Marques.

Assim, como é triste o espectáculo dos que insistem em permanecer sentados no Parlamento como se tivessem um direito divino aos lugares. É mesquinho e ridículo lutar para continuar como deputado ao fim de anos e até de décadas em São Bento. É mesquinho e ridículo procurar ignorar que a limitação de mandatos é o caminho a seguir. É mesquinho e ridículo opor-se à renovação de quadros parlamentares e à entrada de novas gerações no Parlamento.

A reforma do sistema político que o país precisa passa por uma nova mentalidade face ao poder, por uma atitude despojada de olhar o aparelho de Estado e os órgãos de soberania, por uma reinvenção do conceito de serviço público. E se Costa acabou por impor os seus critérios e as suas escolhas, e deu um passo mais na construção do seu poder partidário, o PS enquanto partido, precisa ainda de fazer o caminho das pedras da sua própria reconstrução enquanto partido que existe para representar os cidadãos.

Fonte: Publico.pt

 

 

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