Edição online quinzenal
 
Terça-feira 9 de Setembro de 2025  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Schadenfreude

17-07-2015 - Francisco Pereira

Esta palavra do léxico alemão, traduz o estado de alguém que retira prazer dos eventos maléficos que acontecem aos outros. O conceito em si existe noutras línguas, mas um termo tão específico, só o encontramos mesmo na língua de Goethe.

Terá sido esse prazer maléfico, relacionado com a inveja que leva a chanceler a tomar de ponta os Gregos e os Portugueses? Será esse sentimento invejoso e intrinsecamente mau que leva os alemães a invejar povos que tentam não serem robots dedicados? Ficaremos sem resposta, ainda que anteriormente durante o século XX e por duas vezes a gula e muito desse sentimento de Schadenfreude, além de uma copiosa e ressabiada inveja levou a que os teutões por duas vezes lançassem a Europa no caos e na voracidade de guerras selvagens pouco dignas, da tão propagada, por eles, superioridade intelectual da cultura germânica, será que foi o Schadenfreude que levou aos abjectos campos de concentração?

Esse sentimento mau, em especial para quem gosta de alardear uma frieza e racionalidade dignas de qualquer ser originário de Vulcano, será que o doutor Spock também sentia Schadenfreude, infelizmente o velho Vulcano já deixou de ir para além das estrelas, mas podemos sempre perguntar ao capitão Kirk.

Um destes dias vi escrito, já não sei onde, que os países ricos do Norte da Europa, que já eram ricos, hoje estão ainda mais, não querem pagar mais aos madraços caloteiros do Sul. A questão anda dividida consoante a ideologia do papagaio, que como eu, emite a sua opinião, os esquerdelhos cruxificam os tedescos, a direita ultramontana e sacrista santificam-nos, sendo que objectivamente ninguém quer saber da Grécia para nada, e muito menos do real problema da caloteirice que jaz subjacente, a saber, trata-se da completa falência do projecto de uma União Europeia.

Ora a bem da honestidade intelectual, importa que se diga, que os países ricos, não eram assim tão ricos no início desta trapalhada chamada EU, e os que o eram, muito deviam a planos Marshal, a perdão de dívidas e ao trabalho de emigrantes que lhes refizeram o país, não desmerecendo claro está do trabalho dos próprios.

Ora a bem da honestidade intelectual, importa que se diga, que toda esta trapalhada é culpa desses mesmos países ricos do Norte da Europa com a Alemanha à cabeça, não totalmente culpados, mas os maiores culpados sem dúvida, ao quererem o melhor dos dois mundos criaram isto, uma União Europeia que não o é.

Pagaram aos madraços do Sul para que estes últimos deixassem de produzir, reservaram para si quotas protectoras na agricultura, nas pescas, na indústria e alienaram os dirigentes patetas, labregos e pulhas dos países periféricos com os milhões, que esses mesmos dirigentes e as suas clientelas parasitas esturraram em casas, negociatas e por aí adiante, daí que hoje seja vulgar miúdos com pouco mais de 50 anos de idade possuírem fortunas de milhões, ora este tipo de políticas tinha de dar errado, ainda para mais que a Europa, intencionalmente ou não, se “esqueceu” de criar mecanismos de verificação da saudável utilização desses dinheiros.

Quem, com apenas alguns neurónios, tenha assistido à destruição da economia de Portugal a que se assiste desde 1990, com toda a certeza previu que iríamos chegar onde estamos hoje, sem produzir nada, ou muito pouco e asfixiados por colossais dívidas, enredados nas teias da usura dessa Europa rica, seríamos presa fácil desta global farsa económica.

Ora com as economias arruinadas pela imposição desses países ricos do Norte, que enfiaram pelo gorgomilo dos do Sul, as suas tralhas, recordem-se as licenças de fabrico da G3 pelo qual pagávamos bom dinheiro à Alemanha, os Fiat G91 que vieram em contrapartida à instalação dos alemães em Beja, e muito mais que haveria a contar, apenas em relação a negociatas de ferro velho em que a Alemanha têm saído sempre a ganhar muito, mais recentemente as fragatas Meko 200, os tanques Leopard e os famosos submarinos.

Os exemplos anteriormente citados tipificam aquilo que tem sido o “modus operandi” dessas “democracias” ricas do Norte da Europa, e esse “modus operandi”, é idêntico nos outros países deste malfadado Sul europeu, onde terão outros exemplos parecidos em que os que arrecadam os lucros são os mesmos, criou um desequilíbrio económico que só poderia redundar como actualmente verificamos numa catástrofe.

Os países do Sul, culturalmente o oposto dos do Norte e seria bom que essas diferenças fossem tidas em linha de conta, que não são, deixaram-se enredar e são culpados essencialmente de laxismo, mercê de povos analfabetos e politicamente ignorantes, as más escolhas políticas, no caso de Portugal, PSD e PS tiveram 30 anos de rédea solta, para malbaratar o erário público a seu bel prazer, num frenesim, quase pornográfico, de estoirar as colossais provisões financeiras que nos foram “dadas” pelos nossos queridos “irmãos” da pródiga mãe Europa.

Com tais amigos, era inevitável que aqui chegássemos, a este beco, e o que deveria estar a ser discutido era como e porque é que chegamos aqui, não aquilo a que ora tristemente se assiste, porque a realidade é bastante mais escura do que o aparente “quem deve a quem”, isto tudo numa Europa sempre lesta a meter o bedelho nos problemas dos outros, e a ser muito solidária, nos locais mais recônditos do planeta, mas que não consegue resolver, os seus problemas, uma União Europeia de faz de conta, que só é União na imediata proporção que satisfaz os desejos de alguns dos seus membros.

Voltemos porém ao Schadenfreude e a esse comprazimento com o mal dos outros, que parece característica comum ao ser humano, ainda que alguns pareçam ter especial apetência para sob uma capa de racionalidade, remoer esses sentimentos torpes e comezinhos.

Será que esse Schadenfreude nos impede a nós portugueses de não passarmos de capachos de uma Europa que nos tirou quase tudo e pela qual nos endividamos até ao tutano sem sequer disso termos tido consciência?

Francisco Pereira

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome