O euro é uma ditadura financeira
10-07-2015 - Jorge Bateira
"Duas coisas deviam agora ser evidentes. Primeiro, que o euro não é de todo a moeda “da” Grécia. Em segundo lugar, isto também é verdade para todos os membros do euro, não apenas para a Grécia.
Nenhum dos membros do euro é emissor de moeda soberana. Todos usam uma moeda estrangeira. Mas se nenhum deles é emissor de moeda, quem é que emite o euro? O emissor do euro é, evidentemente, o BCE. Ele decide quanta moeda cada Estado-membro pode ter.
O caso da Grécia não é único: em todos, a criação de moeda é controlada pelo BCE.
Portanto, temos Estados supostamente soberanos permitindo que a oferta de moeda seja determinada por um organismo supranacional, não eleito, que está acima da lei e não responde perante ninguém. E este organismo pode congelar ou retirar dinheiro dos bancos desses Estados a todo o momento e por qualquer razão.
Que o banco central de uma união monetária deliberadamente restrinja a oferta de moeda numa parte da união, é bizarro. Em nenhum sítio, o banco central de uma união faz isto.
Por exemplo, seria impossível que o Banco de Inglaterra negasse liquidez aos bancos da Escócia.
Mas o BCE negou liquidez aos bancos gregos, não porque ficaram insolventes (o que é um motivo razoável para negar liquidez a um banco) mas porque o soberano não quer seguir orientações orçamentais.
Ele assumiu um papel político que não devia ter. (...)Assim, a Zona Euro é, na realidade, uma ditadura financeira conduzida pelos banqueiros. Não consigo perceber que alguém queira voluntariamente aderir a isto, muito menos manter-se nisto.
Mas é a democracia. Se o BCE responder a um voto Não no referendo aumentando o corte no valor dos títulos dados como garantia dos empréstimos aos bancos – de facto, fazendo cortes no dinheiro que concede aos bancos – a oferta de moeda à Grécia ainda se reduzirá mais e os seus bancos podem colapsar completamente, não lhe deixando outra opção que a de introduzir uma moeda paralela.
Nominalmente, a Grécia pode manter-se no euro, mas não lhe será possível usar o euro como moeda interna. Grexit, 'de facto' se não 'de jure'."
Jorge Bateira
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