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A Troika não erra, Keynes sim

03-01-2014 - Raquel Varela

A Troika erra nas previsões não é porque são estúpidos ou malvados, como tantos escrevem. É porque o custo unitário do trabalho (entenda-se massa salarial) caiu como nunca e mesmo assim a taxa média de lucro na produção contínua pífia. Se lessem Marx em vez de Stiglitz já tinham compreendido porquê e deixariam de andar espantados com este facto «incrível» de não ser possível produzir dinheiro sem limites!

Não vivemos uma «era financeira» nem temos uma economia paralisada no sector produtivo. Não temos, como diz o PCP e o BE, um país esmagado pela dívida pública – há um sector importante do país que vive dessa renda (dívida pública) e outro sector do país – o da «burguesia nacional», que vive feliz à sombra das exportações feitas com baixos salários. Produzimos muito, temos na indústria a mesma população activa de há 40 anos atrás, sensivelmente, e exporta-se como nunca – e mesmo assim a taxa média de lucro não sobe e por isso a Troika e o Governo baixam ainda mais o “custo” unitário do trabalho, desempregando ainda mais pessoas, prolongando ainda mais o horário de trabalho, cortando ainda mais nos salários. E mesmo assim a valorização da propriedade (títulos de empresas produtivas!) é limitadíssima, e as bolsas oscilam entre o negativo e mínimo.

Estamos em cima de um vulcão e os programas de esquerda que surgem – perdoem-me, os da velha, da nova, da do meio e da do lado -, são uma espécie de linha Maginot. Uma linha de fortificações francesas construídas depois da I Guerra sobretudo para evitar uma invasão alemã. Sabem os caros leitores que foi totalmente inútil, tendo as tropas alemãs invadido a França como um passeio suave no campo. Uma das razões porque a linha falhou foi porque uma parte dos franceses era parte também daquela politica expansionista e nazi – o que é Vichy? Mas a outra razão porque falhou, a mais importante porventura, deve-se ao facto dos empresários alemães estarem dispostos a tudo, incluindo erguer a mais tenebrosa máquina de guerra de sempre, o nazismo, para conservar a sua propriedade. Não seriam derrotados com castelos, nem os de pedra nem os «castelos no ar» das políticas apaziguadoras de acordos de boas intenções como os que levou Estaline a fazer um Pacto criminoso com a Alemanha hitleriana. A derrota da revolução alemã, em banho Maria durante uma década politicas keynesianas, até 1929, não evitou o nazismo. O nazismo só existiu porque a revolução alemã foi derrotada.

Por isso quando vejo estes programas dos partidos de esquerda em Portugal com “renegociação da dívida”, “eurobonds”, “produção nacional”, e sobretudo muitas esperanças eleitorais que afastam as pessoas da democracia directa (controlo da produção) e canalizam a sua ansiedade para jogos de poder e comunicação de 4 em 4 anos, até tremo. Se o conjunto dos trabalhadores portugueses – manuais, intelectuais, formados ou não, no activo e reformados – não arranjarem coragem para romper com este modelo de acumulação podem fechar os olhos durante uma geração, porque isto vai ser um país de feios, porcos e maus. Como todos os lugares onde a luta pela sobrevivência se instala.

A Troika não erra, mas Keynes errou. A política keynesiana que inverteu a crise de 1929 chama-se economia estatal a intervir ao máximo – guerra. Foi em 1941 – e os manuais escolares de História (em geral acho-os bons) sobre isto mentem – , que os EUA voltaram à taxa de desemprego de 29. O que é natural: tinham transformado os desempregados em soldados…

De tantas palavras a reconstruir no nosso significado a mais importante contínua a ser Revolução – retirá-la da bagagem de quem construir o horror estalinista, devolver-lhe o sentido de utopia de solidariedade.

 

 

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