NOVA POLÉMICA COM A ÁGUA DA BARRAGEM DOS PATUDOS EM ALPIARÇA
19-06-2015 - Eduardo Costa
Há algumas semanas, publiquei aqui um artigo dedicado às águas hipereutrofizadas da Barragem dos Patudos à entrada de Alpiarça, fiz essencialmente uma retrospectiva entre as contradições e inércia do posicionamento institucional autárquico e o que as várias análises disponibilizadas nos demonstravam.
Por desconhecimento à data da elaboração do artigo, não referi nele um outro dado relevante para esta problemática e para o qual entretanto fui alertado e procurei aprofundar. Estou a referir-me às frequentes descargas que são efectuadas directamente na barragem, através de um colector com cerca de meio metro de diâmetro, situado a poucos metros da estação de captação e filtragem que as “Águas do Ribatejo” possuem no local e que, supostamente, seria apenas para descargas da água da chuva, que nunca de resíduos líquidos das “AR”.
Mas vamos aos factos. Quando do início da denúncia dos aumentos brutais do tarifário das “AR”, o Sr. Presidente da Câmara de Alpiarça promoveu uma sessão de esclarecimento realizada em 16Jan2014, organizada pelas “AR” na biblioteca, no sentido de se justificar o injustificável.
Lá tive também a oportunidade de confrontar as “AR” com um estudo da DECO a nível nacional, sobre qualidade das águas distribuídas, no qual se afirmava que a água em Alpiarça era de má qualidade devido à elevada concentração de Arsénio. Em resposta, os elementos das “AR” presentes, afirmaram que esse estudo já estaria desactualizado, por a captação de água se fazer a profundidades diferenciadas e ser sujeita a filtragem pela moderna unidade, localizada junto à Barragem dos Patudos.
Ora essa estação de captação e filtragem, possui 2 gigantescos filtros azuis que, sempre que se encontram frequentemente saturados, necessitam de serem lavados e recirculados com água sob pressão, que depois é descarregada directamente na barragem, pelo referido colector, o que pressupõe que aquela estação tenha um ramal ligado á rede pluviométrica local, de legalidade questionavel.
Sendo a barragem um lençol de água hipereutrofizada, contaminada com perigosas cianobactérias e sem a adequada renovação; é óbvio até para qualquer leigo na matéria, que estas frequentes descargas com água, carregada de resíduos provenientes da lavagem periódica desses 2 filtros saturados, apenas vão piorar mais, a grave situação ambiental da barragem.
Inquirido o Sr. Presidente da Câmara de Alpiarça em Reunião de Câmara de Abril/2015, sobre se tinha conhecimento desta situação, respondeu com natural incomodo afirmativamente e que as “AR” garantiam (?) que tudo estava autorizado pela Agência Portuguesa da Ambiente e que as “AR” também faziam análises que demonstravam que não havia qualquer problema (?).
Procurada uma clarificação na Assembleia Municipal de 30Abr2015, recusou-se desta vez, perante os deputados municipais, a uma resposta objectiva em termos de “sim ou não” a 3 simples perguntas:
1º Se a CMA autorizou aquele ramal de descargas poluentes na barragem, ser ligado à rede pluviométrica local.
2º Se confirma que a Agência Portuguesa do Ambiente autorizou essa descargas na barragem.
3º Se possui as análises desses fluidos poluentes, que garantem a “normalidade” da situação.
Julgo que não deveríamos estar tão descansados, sobre o alegado posicionamento das “AR” perante a CMA e que a situação impunha uma clarificação junto da Agência Portuguesa do Ambiente e a efectivação de análises pela CMA nos momentos dessas descargas, conforme efectuado na barragem noutras situações. Já não falando dos argumentos técnicos que terão estado na base do licenciamento autárquico (?) da ligação de um ramal daquela estação de filtragem directamente á rede pluviométrica local e que se presume não ter sido clandestino.
Façamos votos que esta alegada “normalidade”, agora não da autarquia mas das “AR”, não seja idêntica àquela que as análises referidas em artigo anterior contrariaram a posição do autarca, de que as águas da barragem permitiam actividades desportivas na barragem, incluindo 2 provas nacionais de Triatlo com muitas centenas de jovens a nadar daquelas águas, ocorridas no ano passado.
Entretanto a barragem continua sem qualquer aviso sobre a eventual perigosidade das águas para a saúde pública, face á sua contaminação com cianobactérias, produtoras de neurotoxinas e hepatoxinas, perigosíssimas para a saúde humana e com inúmeras pessoas a usufruírem daquele paradisíaco local sem conhecimento dos eventuais riscos que podem correr e sem um posicionamento oficial da entidade de saúde pública local.
Eduardo Costa
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