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Bons ventos de Espanha

29-05-2015 - Francisco Louçã

Foi mesmo uma vitória para as esquerdas.

Primeiro, porque as esquerdas conseguiram o mais importante nas eleições mais difíceis: demonstrar que o bipartidismo (em Portugal, o termo consagrado é “alternância”) pode ser posto em causa. Os partidos da direita e do centro, o PP e o PSOE, perderam três milhões de votos: o PP perdeu 10% do eleitorado e o PSOE ficou abaixo dos seus resultados de 2011.

Segundo, porque este desequilíbrio do sistema político tradicional permitiu vitórias fundamentais, como a de Alda Colau em Barcelona e de Manuela Carmena em Madrid. Levaram o movimento social à vitória eleitoral. É certo que, em ambos os casos, para governarem a autarquia e afastarem os nacionalistas de direita e o PP de Rajoy, terão que ampliar as alianças à esquerda e mesmo ao centro: em Barcelona com os socialistas e alguns nacionalistas, em Madrid eventualmente com os socialistas (mas não será fácil). Mas para aqui chegarem, o que lhes permitiu vencer foi desafiarem e baterem o centro: em Madrid a coligação da esquerda, quase toda (só a Izquierda Unida não aceitou e ficou com 1,7%), teve 31,9%, enquanto o PSOE ficou pelos 15,3%; em Barcelona, a maior coligação das esquerdas teve 25,2%, ao passo que os nacionalistas de direita, a CiU, conseguem 22,7%, mas o PP fica pelos 8,7% e o partido socialista pelos 9,6%. A estratégia vencedora foi portanto a da convergência que se atreveu a desagregar o sistema da alternância. É a esquerda que pode fixar o programa dos governos municipais de Barcelona e de Madrid.

Agora, como é de esperar, haverá discussão entre as esquerdas de outros países sobre como interpretar estes resultados e até haverá quem os reclame como se fossem seus. Vale a pena uma reflexão sobre estas lições, sobretudo porque em Portugal ninguém se prepara para as acompanhar.

Vale a pena porque, num tempo em que a Grécia anuncia que já não tem mais dinheiro para pagar aos credores institucionais e caminha para a insolvência, todas as questões europeias são mais relevantes do que nunca. A União Europeia, que não permitiu ao governo grego reestruturar a dívida e continua a exigir a redução das pensões, muito menos aceitará em Espanha uma política que se desvie da austeridade. Estamos portanto todos no mesmo barco.

Por isso mesmo, é pena que em Portugal as esquerdas estejam divididas para fazerem o contrário do que deu a vitória em Espanha. Uns porque acham que é apoiando o centro que terão “um pé no governo” e, portanto, favorecem o “voto útil” no PS, esperando que a alternância resolva os problemas do país. Outros, a maioria, porque acham que a convergência é inútil e há pouco a fazer.

Uns e outros estão errados. Uns porque não podem o que querem e outros porque não querem o que podem.

Francisco Louçã

 

 

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