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25 de Abril Sempre

01-05-2015 - Fernando Pacheco

Obrigado Eduardo Milheiro, pelo teu convite ao uso livre do poder terrível da palavra.
A nossa aliança, firmada no sofrimento das cavernas da resistência, contra a servidão, junta-nos de novo para o combate. Amigos do peito e do coração.

Companheiros, nesta data da memória da alegria, ofereço a todos o meu testemunho sentimental, porque acredito, que a Grande Política, nunca pode afirmar-se inteiramente, quando despida da força poderosa dos afetos.

Como bem escreveu o Luís Catarino:

“Abril foi o momento exaltado de amor e alegria entre as pessoas que repartiam o céu entre si”

Num atrevimento que só a mim compromete, relembro aqui os meus Heróis, do sonho prometido:

Eurico Pacheco e Capitolina Outor, meus Pais, pilares sublimes da minha força, fontes matriciaisda minha irredutível insubmissão.

Carlos Araújo , Velho Republicano telúrico e puro, 1º Presidente da C.M. de Alfândega da Fé em Democracia.

José Afonso , revolucionário sentimental, compositor e cantor, poetada alegria e do combate.

Luís Catarino , militante do MDP-CDE e da liberdade, deputado do Povo, à Assembleia Constituinte de 1976.

Salgueiro Maia , soldado inicial, referência incorruptível do Movimento das Força Armadas.

Vasco Gonçalves , cavaleiro temerário da esperança e da generosidade.

Costa Gomes , Patriarca do equilíbrio e da sensatez.

Todos deixaram a sua marca indelével no tempo ena memória. Nunca quiseram a parte do céu que lhes cabia, livrando-se deladesprendidamente, em favor dos outros.Da sua vida, fizeram o sonho imaginado, e na hora da partida, nada levaram consigo, exceto a justa gratidão de todos.

Nessa madrugada gloriosa que aqui nos junta, eucorria pelas ruas do Porto, para chegar depressa a Lisboa, a tempo da Revolução. Banhado em lágrimas de felicidade incontrolável, pressentia e já sabia, que o golpe militar noticiado na rádio, anunciava o inadiável fim da ditadura.

De súbito, na lateral poente da Praça do Município, com a Avenida da Liberdade à vista, esbarrei na tragédia.

O linchamento popular de um soldado da Guarda Nacional Republicana.

Incrível! Um bando de pessoas normais, possuídas de raiva, destilava ódio selvaticamente, sobre um farrapo humano.

Num impulso de compaixão, sem medo, imagino eu, elevei-me acima de mim mesmo, e do alto dos meus 20 anos de revolucionário utópico e radical, enfrentei a turba e ralhei com eles, gritei-lhes na cara, qualquer coisa de sério e irrecusável, sobre a abissal diferença, entre a culpa da ditadura e a dos homens anónimosobrigados a servi-la.

Por milagre a agressão parou. As pessoas ficaram atordoadas, assustadas consigo próprias. Regressaram ao mundo, e levantaram aquele homem do chão.

O soldado, num lapso, olhou-me com fraternidadee sem agradecimento. Sangrando, aprumado, sumiu-se no primeiro beco, de arma à cintura sem nunca lhe tocar.

Neste episódio grotesco, salvámo-nos todos, reabilitando connosco a nobreza indeclinável, da nossa humana condição.

Não sei quem era ninguém, suponho que cada um seguiu o seu caminho e o seu sonho, que é o que a vida manda.

Entrei na Avenida da Liberdade, tranquilo, e perdi a pressa de chegar à Revolução.

Tinha acabado de tropeçar nela.

Ali mesmo.

Não podia ter havido melhor prenúncio, para o que aconteceu a seguir.

A Revolução explodiu, magnífica. Perfeita foi a sintonia entre Povo e Armas. O cravo vermelho no cano da espingarda deslumbrou o Mundo. O turbilhão dessa incrível liberdade torrencial redimiu num sopro, toda a possibilidade de rancor e de ressentimento.

Não dava para acreditar. Eramos tão felizes, que qualquer sede de vingança, pelos crimes da ditadura, morreu ali.

Foi lindo. Um Povo inteiro, num abraço gigante e comovente, reencontrado consigo próprio e em paz com os seus demónios.

Sem esse gesto grandioso de vital fraternidade, Abril nunca teria acontecido.

Os que tiveram o mérito e o privilégio, de protagonizar esse instante inesquecível, compreendem que falo de coisas de outro mundo.

Eu afirmo que aconteceram de verdade.

Desgraçadamente, faltou ética e vitalidade, ao segundo fôlego da República. A Democracia nascente perdeu o rumo, e na sua deriva caótica, acabou atropelada. O coma profundo em que vegeta, indigna os Portuguesese sobressalta Portugal.

E agora pergunto eu, estamos ou não estamos, determinados a enfrentar o medo e a honrar a memória de Abril?

Claro que estamos!

No dia 5 de Outubro de 2014, em Coimbra, António Marinho e Pinto, tomou a iniciativa e já fez a Convocatória.

O Partido Democrático Republicano nasceu ali mesmo e disse ao que vem.

Inscreveuas pessoas concretas, no universo do real e colocou-lhes na mão, a possibilidade do sonho prometido.

“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!

Todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas de forma serena mas firme, característica de Salgueiro Maia, formaram de imediato à sua frente. Depois seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura.”

25 de Abril Sempre!

Viva a República!

Fernando Pacheco

Abril de 2015

 

 

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