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O Consumo da Cultura em Portugal

06-12-2013 - Eurico Henriques

A recente publicação dos resultados do Eurobarómetro, que avalia o estado da cultura nos países da Comunidade, constitui um exemplo claro do que entendemos como cultura e como ação a ter em defesa da sua divulgação. É claro que a cultura não é um “pacote de amêndoas” que se dá ou se adquire como e quando se quer. Ela é contínua, dinâmica e está em constante enriquecimento. A sua dimensão aprecia-se através dos atos que cometemos, daí os resultados que se conseguiram. No conjunto das apreciações que se fizeram, a propósito de Portugal, escolhi estas doze que me parece ilustrarem com rigor a importância da cultura e da forma como expressamos a nossa formação e riqueza cultural:

  1. Vamos pouco ao cinema. Quase não vamos a bibliotecas públicas nem visitamos Museus. No que se refere a espetáculos de teatro, dança ou ópera, vamos muito pouco.
  2. Não temos grande interesse em ler um livro, mas vemos muita televisão e ouvimos rádio.
  3. Portugal surge quase no fim da lista feita pelo Eurobarómetro sobre a participação em atividades culturais. Está no fundo da tabela em conjunto com a Bulgária e a Roménia.
  4. Os portugueses são dos cidadãos da União Europeia com menos taxas de participação em atividades culturais. É mesmo o país com menor interesse pela leitura. Só 6% das pessoas que foram inquiridas têm uma atividade cultural. A Na Suécia são 43%, na Dinamarca são 36% e na Holanda 34%. Em Espanha a taxa é de 19%.
  5. O inquérito mostra que 71% dos portugueses não foram uma única vez ao cinema nos últimos 12 meses. Houve menos 1,2 milhões de frequentadores nas salas de cinema no nos últimos dez meses. Esta não frequência constitui um indicador de crise social, uma vez que ir ao cinema não será só para ver filmes mas sim uma forma fácil de participar na Cultura.
  6. Apenas 40% dos portugueses leram um livro no ano passado. A média europeia é de 68%. Na Suécia é de 90% e na Dinamarca de 82%.
  7. A atividade cultural mais comum na União Europeia e em Portugal é ver e assistir a programas na televisão, sendo a média na União de 72% e em Portugal 61%.
  8. Falta estimular o ensino da cultura (cultural) nas escolas. Falta o olhar dos decisores políticos e da sociedade para a cultura, considerando-a um bem essencial.
  9. O que estará a acontecer à Cultura em Portugal? Haverá pouca educação e formação? Pouco dinheiro disponível? Como estará o nosso sistema de ensino?
  10. A resposta mais credível será a de que “é uma questão de educação”.
  11. Os relatórios indicam que os resultados sobre o inquérito à leitura de livros são bastante influenciados pelo nível de escolaridade. Do mesmo modo a idade constitui um fator determinante nos que vêem mais televisão e ouvem rádio.
  12. As razões mais apontadas são as de que se dá pouca importância à cultura. As pessoas têm poucos recursos financeiros. O nível geral da educação é baixo. Os mais velhos estão mais ligados à televisão e à rádio, os mais novos são mais diversificados e passam o tempo entre a leitura, o computador e o cinema.

Os resultados apontam para uma necessidade de aumentar o “consumo” dos produtos culturais. No entanto e como já tive oportunidade de referir em trabalhos anteriores, não podemos ignorar o que foi a sociedade portuguesa durante grande parte do século XX. O estado totalitário e a forma de sociedade a que deu origem privilegiaram a ignorância da maioria dos cidadãos como forma de domínio. Agora sofremos as consequências disso.

Eurico Henriques – Mestre em Comunicação e Ciências da Educação. 5/12/2013.

 

 

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