Herberto Helder
27-03-2015 - Henrique Pratas
O País para além de perder potencialidades vilipendiadas pelo Desgoverno perde também pessoas à séria, ontem foi o Herberto Helder que de uma forma breve e sucinta deixo aqui alguns apontamentos sobre a “personagem” outros só vividos contados não têm graça nenhuma.
O escritor e poeta português Herberto Helder, o mais importante entre os vivos, morreu esta segunda-feira aos 84 anos, na sua casa, em Cascais. Era considerado o maior poeta português da segunda metade do século XX.
Nascido no Funchal em 1930 e de ascendência judaica, não gostava de conceder entrevistas, recusava-se a ser fotografado e não atribuía especial significado aos galardões. Em 1994, o poeta Herberto Helder foi distinguido pela sua obra, que "ilumina a língua portuguesa". No entanto, querendo manter-se um "poeta oculto", recusou receber o Prémio Pessoa, pedindo ao júri: " não digam a ninguém e dêem oprémio a outro".
Sugestões de leitura dos seus poemas " O Amor em Visita",foi publicado em 1958, frequentava ele o círculo modernista do Café Gelo, no Rossio, onde privava com personalidades como Luiz Pacheco, Mário Cesariny, João Vieira ou Hélder Macedo, "A Morte Sem Mestre" a sua última obra publicada em 2014 e "Servidões" publicado em 2013, convém salientar um aspecto muito simples que é: os seus livros terem apenas uma edição.
Nota para não Escrever
Herberto Helder, in 'Photomaton &Vox'
Se o conhecimento é uma forma de escrita, mesmo sem palavras, uma respiração calada, a narrativa que o silêncio faz de si mesmo, então não se deve escrever, nem mesmo admitindo que fazê-lo seria o reconhecimento do conhecimento. Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente. Pode também escrever-se por asfixia, porque essa não é maneira de morrer. Pode escrever-se ainda por ilusão criminal: às vezes imagina-se que uma palavra conseguirá atingir mortalmente o mundo. A alegria de um assassinato enorme é legítima, se embebeda o espírito, libertando-o da melancolia da fraternidade universal. Mas se apesar de tudo se escrever, escreva-se sempre para estar só. A escrita afasta concretamente o mundo. Não é o melhor método, mas é um. Os outros requerem uma energia espiritual que suspeita do próprio uso da escrita, como a religiosidade suspeita da religião e o demonismo da demonologia. A escrita - inferior na ordem dos actos simbólicos - concilia-se mal com a metamorfose interior - finalidade e símbolo, ela mesma, da energia espiritual. O espírito tende a transformar o espírito, e transforma-o. O resultado é misterioso. O resultado da escrita, não.
Lisboa, 24 de março de 2015
Henrique Pratas
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