Sem Palavras
20-03-2015 - Henrique Pratas
Não tenho escrito nada porque fiquei muito triste com um facto que aconteceu no passado fim-de-semana.
Na sexta-feira passada dia 13 de março desloquei-me para o Arripiado para passar um fim-de-semana descansado, mas a primeira paragem para jantar foi em Almeirim, onde jantei de uma forma soberba, comi uma sopa da pedra, com pedra e tudo o que tinha direito e uns lombinhos em pau de loureiro, acompanhei a refeição com vinho tinto, porque o vinho é tinto e a seguir para ajudar a digestão solicitei ao empregado que me arranjasse um digestivo para me facilitar o funcionamento da aparelho digestivo. Entretanto enquanto conversava com a minha mulher lembrei-me de lhe dizer que nunca mais votava no Cavaco Silva, nunca votei, mas ela como fica sempre aflita quando digo alguma coisa que não está à espera experimentei e o resultado foi fabuloso, porque como à boa maneira portuguesa estava um casal ao lado que começou a tentar conseguir ouvir o que dizia, apercebendo-me disso e como gosto de “provocar”, voltei a repetir o que tinha dito, acrescentando “não me volta a enganar”.
Nunca votei em semelhante personagem nem no partido que o suporta, mas apeteceu-me ver a reacção das pessoas que se encontravam a jantar às minhas afirmações, senti que havia uma certa indignação e que começava a ficar incomodados, ao sentir isto insisti, estava a dar-me um prazer enorme ao ver as caras daquelas pessoas perfeitamente indignadas, mas algumas vezes é preciso agitar as consciências, foi o que fiz e produziu mos resultados que esperava, fiquei contente e depois de sair devem ter ficado a falar sobre o que tinha dito. Convém aqui salientar que tenho consciência que a personagem não se pode candidatar ou não será candidato a nada.
A partir de Almeirim até ao Arripiado foi a minha mulher que conduziu, por razões óbvias.
A noite de sexta-feira para sábado foi bem dormida. No sábado de manhã cedo levantei-me e fui a Elvas buscar umas siricaias, como sabem é um doce típico alentejano que, simplesmente adoro, às 10 horas já estava em Elvas e às 12 horas estava de novo no Arripiado, andei a ver os terrenos e as plantações e fiquei triste com dois factos. O primeiro pela quantidade água que o rio Tejo levava, nunca tinha visto o rio com tão pouco caudal de água, nesta altura do ano o segundo e que me abalou significativamente foi o de ver uma palmeira mais que centenária, pois foi plantada pelos meus bisavós, doente o escravelho que entrou em Portugal por um importador de palmeiras do Algarve de Marrocos, para além das palmeiras, importou também um bicho que se tem espalhado por todo o País nas palmeiras e que seca as folhas todas e que acaba por matar a palmeira, fiquei destroçado, pois as recordações que guardo dessa palmeira são muitas, a de estar com os meus avós a conversar à sua sombra na hora do calor e nas noites quentes de Verão de estarmos debaixo dela a ver o rio e a apanhar o fresco. Também me recordo dos tempos em que a Sociedade do Arripiado, faziam festas, pediam aos meus pais para cortarem algumas folhas para enfeitar o espaço onde se realizava a festa, fiquei doente e triste, morreu mais um bocado de mim. Apesar de saber que este fenómeno estava a ocorrer em Portugal, nunca esperei que ela fosse atingida, porque através de contactos que fiz para os competentes serviços portugueses, à procura se antídoto para esta epidemia foi-me dito que não havia mas que nestas palmeiras centenárias era pouco provável que o “bicho” entrasse, enganaram-se e enganaram-me e soluções como vêm nesta País quando precisamos delas não existem, conforme já lhes escrevi foi mais um bocado de mim que morreu e fiquei com muito pouca vontade de voltar ao Arripiado, pode ser que isto passe, mas para quem durante anos e anos se habituou a ver a palmeira com toda a sua pujança, visível de todos os lados é muito triste recordo-me muito bem, que quando ia de comboio e saia em Tancos a primeira coisa que tentava localizar com o meu olhar era a palmeira e lá estava ela, havia uma grande cumplicidade entre nós. Não vou ter tempo nem vida para voltar a ver uma outra palmeira e se vier ater não será a mesma coisa. Palermice, pensarão alguns de vós mas não sou uma pessoa de afectos e aprendi desde muito cedo a gostar de pequenos prazeres e a dar valor àquilo que muitos de nós não dá, não é só o dinheiro que é importante existe muito mais coisas mais importantes que o dinheiro, existem determinados “marcos” na nossa vida que são mais importantes que o vil metal, porque nos deram prazer, momentos bons e prazenteiros na vida e isso para mim não é quantificável, não tem preço e valor tem muito.
Esta semana escrevo-os apenas este texto porque estou em convalescença do que aconteceu à minha palmeira e que agora não tem outro remédio senão deitá-la abaixo, eu não quero ver nem saber, já pedi à minha mulher para me tratar disso quando for possível, porque agora há que deixar que as folhas sequem todas e a árvore comece a secar, sintoma em que o bicho já desapareceu, até lá há que esperar que ele destrua tudo o que tem a destruir, não há nada a fazer.
Lisboa, 19 de março de 2015
Henrique Pratas
Voltar |