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Memórias (12)

13-03-2015 - Henrique Pratas

Nesta fase do Ciclo Preparatório, começaram as atividades da Mocidade Portuguesa e de Religião e Moral, assim mandava o regimento do Estado.

Na Mocidade Portuguesa só fiz foi asneiras, quando era para treinar par o 10 de junho, em que fazia ginástica, saltava todos os obstáculos todos, o cavalo, tudo, que jogava bem futebol, que corria os 100 metros como ninguém, nessa altura só fazia porcaria porque não queria ir fardado, contribuir para um espetáculo que não me dizia nada e depois eram muitas horas íamos de manhã cedo e só voltávamos à noite, não gostava, daquela palhaçada, mas também nunca me consegui livrar, apesar de só fazer asneiras nas diferentes modalidades os professores não eram parvos e apercebiam-se que eu estava a fazer de propósito, lá tive que gramar dois 10 de junho, dado que o ciclo preparatório eram só dois anos, mas no último tive um professor de Educação Física que me topou muito bem, eu bem experimentei fazer as parvoíces todas mas ele não foi na conversa e um dos dias desafiou-me para fazer o salto de cavalo com mortal à retaguarda, primeiro fiz mal e espalhei-me ao comprido em cima dos colchões, depois como ele era sabido volta-se para mim e em estilo de provocação e armado em bom faz um salto do melhor e eu parvo que não percebi a provocação, vá de pensar, vou-te mostrar como é que se faz e fiz um salto muito mais perfeito que o dele caindo com os pés juntos sem me inclinar para nenhum dos lados, nem dar nenhum passo à frente ou à retaguarda, só depois quando ele me disse então eras tu que não conseguias é que dei conta da calinada que tinha feito, mas estava feito e havia que assumir, fui apanhado, não havia nada a fazer a não ser fazer tudo como sabia.

Eu nunca gostei de desenho e essa disciplina para mim foi sempre um martírio, desenho à vista não conseguia fazer nada de jeito, em desenho livre, só fazia árvores, casas, mar, o céu e o sol, não passava disto, no desenho geométrico que requeria alguma paciência e cuidado na utilização do compasso e do tira-linhas, para preencher os sólidos que entretanto desenhámos com o compasso a tinta-da-china, para que ficasse mais perfeito e completo. Ora isto para mim já era um pavor e um belo dia um companheiro meu, da minha turma o Brás, depois de eu ter feito um esforço diabólico para fazer o que me tinha sido solicitado em termos de desenho geométrico e até que tinha corrido tudo muito bem quando passei para a fase de “encher” o que tinha feito a tinta-da-china, esse meu amigo companheiro de brincadeira e de vida, vem por trás de mim e dá-me uma palmada no cotovelo, ora nesta fase do desenho é fundamental a precisão ao dar-ma a pancada no braço, esborratei tudo, fiquei lixado e pensei para comigo perdido por cem perdido por mil, enchi o godé de guacho preto, bem cheiinho, peguei no pincel mais grosso e pintei, a folha de desenho em tamanho A4, onde tinha acabado de desenvolver uma tarefa bastante árdua, toda de preto e cheguei-me ao pé dele e espetei-lhe com a folha na tromba é óbvio que viemos os dois imediatamente para a rua e o sacana em vez de se chatear comigo ainda se pôs a rir em plena sala de aulas, ora o nosso caminho só podia ser um, rua.

Saídos à porta da sala de aulas de desenho e escrevo isto porque eram umas salas diferentes das outras diz-me para mim ainda bem que fizeste isso, não me estava nada a apetecer estar na sala de aulas, eu ainda lhe disse podias ter dito que eu arranjava outra maneira para virmos para a rua agora estragar-me o desenho é que não porque agora vou ter que fazer tudo de novo, resposta imediata dele não te preocupes que eu ajudo-te e lá fomos para onde queríamos ir que era para perto do portão da Escola onde aparecia uma senhora a vender scones, com esse fiquei amigo até aos dias de hoje.

Lisboa, 04 de março de 2015

Henrique Pratas

 

 

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