Os três dilemas de António Costa e do PS
06-03-2015 - André Freire
Primeiro, saber qual será a extensão da vitória. Já se percebeu que o PS irá lutar por uma maioria absoluta, mas tal afigura-se improvável.
Mas mesmo não havendo maioria absoluta, fará diferença se a maioria for ampla ou se for uma maioria magra. Para um bom resultado, um discurso claro, mobilizador, realista mas ambicioso, é crucial. Até agora tem faltado, mas está ao alcance de Costa, assim ele o queira fazer e correr os riscos associados.
Segundo, o dilema ligado à política de alianças. Costa tem dito que quer dessacralizar a ideia de "arco da governação", mas não basta. Se o PS quer ser alternativa não pode dar sinais de se vai aliar à direita, reciclando-a e branqueando o seu legado. Para ser alternativa precisa de rejeitar não só as políticas atuais mas também os seus protagonistas. Claro que se a maioria (relativa) que vier a obter for confortável e existirem novos parceiros potenciais de aliança no parlamento, tais como o PDR e o LIVRE-Tempo de Avançar por exemplo, a tarefa pode ficar facilitada.
Terceiro, qual o mandato que pretende obter para negociar com a Europa. Sabemos que não são fáceis as negociações europeias, mas, por um lado, sabemos que a persistirmos neste rumo os partidos socialistas arriscam a irrelevância política. Por outro lado, sabemos que as vitórias que o Syriza tem obtido na arena europeia são devedoras do mandato claro que recebeu dos seus eleitores. Quererá Costa arriscar neste domínio e tomar posições minimamente claras em temas-chave, ou preferirá ver se os ventos europeus lhe sopram de feição? Até agora parece mais neste segundo registo, mas os riscos de "hollandização" são muito elevados neste caso.
André Freire
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