Passados largos anos da abertura de Auschwitz a indiferença ainda mata
30-01-2015 - Henrique Pratas
Passados que estão mais de 70 anos da abertura do campo de concentração de um dos campos de concentração, Auschwitz, não gostava de deixar passar em claro esta triste efeméride, através da fotografia é visível a inscrição que estava em todos os campos de criação criados “Arbeit mach Frei”, em português o “ trabalho liberta ou élibertador”, como é que foi possível que se enganassem milhões de pessoas que foram despojadas de tudo e fossem enviadas para os locais onde iriam obter a sua libertação, as experiências que Mengel fez sobre Humanos foram inqualificáveis, indignas e no meu entender deveriam ter sido severamente condenadas.
Para quem como eu já esteve em Auschwitz, apesar de o campo de concentração não estar a “ funcionar” sente-se o horror que deve ter estado lá, sente-se um frio, ficamos gelados por dentro, ao sentirmos o silêncio sepulcral, ouvimos os gritos daqueles que lamentavelmente passaram por lá e daqueles que lá ficaram, mesmo depois de desactivado, para quem tem memória e condena os actos praticados sente-se a chegada dos comboios de mercadorias que já não chegam mas estando lá sentimos que eles ainda continuam a chegar, sentimos as pessoas a sair dos vagões aos gritos e os militares alemães aos gritos para que estes se encaminhem sem pestanejar, ou esboçar qualquer outro tipo de sentimento sob pena de serem os primeiros a entrarem nos designados chuveiros colectivos para poderem fazer a sua higiene, ainda nos dias de hoje existem e sente-se o que foi a aflição daquelas pessoas eram empurradas para dentro de umas casas construídas para o efeito e recebiam ordem para se despojarem de toda a roupa entravam para fazerem uma limpeza geral, pois segundo os mandantes da altura, o exército alemão, aquelas pessoas estavam impuras e havia que purificá-las.

Esta purificação passava pelo que vos descrevi anteriormente, as pessoas, homens, mulheres e crianças eram convidadas a entrar nos referidos pavilhões, recebiam ordens para se despirem e entre choros, gritos e submissões para os mais incrédulos eram-lhes retirados de forma violenta todos os seus pertences, depois de estarem todos nus os “guardas” do campo fechavam as portas e entre gritos e choros como já escrevi anteriormente era despejado um pó branco altamente tóxico que matava a maior parte dos que se encontravam lá dentro por asfixia.
Estas práticas horríveis foram concebidas e postas em prática por Mengel um dos braços direitos de Adolf Hitler, assim Auschwitz-Birkenau constitui um dos bastiões da máquina de extermínio nazi.
Por toda a Europa, e em boa parte do mundo, renovaram-se os esforços de homenagem às vítimas e de lembrança do terror e do sofrimento provocado naquele complexo, mas eu entendo que nenhuma manifestação consegue apagar os actos horrendos que ali foram praticados e o arrependimento dos líderes Mundiais que contribuíram para estes actos, não apaga os crimes que ali foram cometidos.
Auschwitz, foi originalmente construído para albergar prisioneiros políticos polacos, foi mais tarde expandido e transformado num matadouro para os judeus de toda a Europa. A libertação das dezenas de milhares de prisioneiros nazis pelas tropas do Exército Vermelho soviético foi comemorada, mas tanto os líderes mundiais como as centenas de sobreviventes que ainda puderam oferecer o seu testemunho deploraram os novos sinais de ódio e perseguição que continuam a vitimar judeus e outras minorias na Europa e no mundo.
Roman Kent, um dos antigos prisioneiros e membro do Conselho Internacional de Auschwitz, sublinhou no seu discurso que " lembrar não é o suficiente". " Não queremos que o nosso passado seja o futuro dos nossos filhos".
Um outro testemunho marcante na cerimónia que reabriu as cicatrizes do mais negro episódio da moderna história europeia foi o de Ronald Lauer, o presidente do Congresso Mundial Judaico,descendente de judeus húngaros nascidos em Nova Iorque em 1944, Lauer falou na indiferença que permite que o ódio ganhe terreno nas sociedades até ser tarde de mais. "Disse: queria fazer outro discurso aqui, mas depois do que aconteceu recentemente em Paris não posso deixar de falar. Os judeus estão novamente a ser atacados na Europa", lamentou. " Pensávamos que o ódio aos judeus tinha sido erradicado mas agora acordamos e em vez de 2015 mais parece 1933. Como é que isto está a acontecer outra vez? E porquê? “
Nas cerimónias dos 60 anos da libertação, quando o historiador britânico Laurence Rees publicou a sua monumental investigação sobre Auschwitz, confessou que se sentia pressionado pela passagem do tempo, que empurra para o fim a era dos testemunhos em primeira mão das vítimas e dos seus carrascos.
" Dentro de pouco tempo, o último sobrevivente e o último criminoso estarão reunidos com aqueles que foram assassinados no campo", acentua no livro "Auschwitz e a Solução Final".
" Depois disso não restará ninguém nesta terra que tenha conhecido directamente o que aconteceu neste lugar. E existe o perigo de que, quando isto suceder, a história venha a fundir-se com o passado distante e este se converta noutro acontecimento terrível entre muitos mais."
Nos testemunhos ouvidos, uma ideia sobressaiu: a de que a história aproveita o tempo para se servir cada vez mais fria, distante, não tendo já a seu favor a culpa, o que torna impossível obrigar os povos à missão de impedir que esta se repita no que já provou ser uma certa inclinação ou anseio trágico.
A história assume aos poucos um peso lendário, desafiando o futuro a superá-la.
"Não queremos que o nosso passado seja o futuro dos nossos filhos" , repetiu, em lágrimas, Roman Kent, do alto dos seus 86 anose avisou que a promoção do "pluralismo, da tolerância e dos direitos humanos tem de incluir a oposição ao anti-semitismo e ao racismo. Essa devia ser a norma e não a excepção".
Primo Levi , numa das passagens mais marcantes de uma das obras que eternizarão as particularidades do sofrimento do Holocausto, lembrou que a tentação é sempre julgar que o perigo está do lado de uma monstruosidade que, em certos momentos, se impõe à bondade, ou pelo menos ao bom senso das sociedades humanas.
Mas, como salientou este prisioneiro de Auschwitz, " os monstros existem, mas o seu número é pequeno para os tornar verdadeiramente perigosos. Mais perigosos são os homens médios, os funcionários dispostos a acreditar e a agir sem primeiro levantar questões”.
O escritor italiano e judeu lembrou que, se a história prefere esconder o homem atrás de líderes como Hitler e Mussolini, fá-lo porque quem lê o passado adora escandalizar-se, questionar-se à distância sobre como foi possível, concluindo que setratou, grosso modo, de um equívoco e que os homens, na sua maioria, foram ingénuos.
O que Primo Levi também nos diz é que todos os líderes devem ser olhados com desconfiança, e que essa desconfiança nasce da consciência de que o homem só precisa de agir sob ordens para esquecer a distância entre o certo e o errado, entre um gesto que mata e aquele que deixa viver.
Para mim ainda nos dias de hoje não consigo entender como é que foi possível que horrendos actos tenham sido imaginados, concebidos e postos em prática, para mim jamais serão apagados da minha memória e como Roman Kent, um dos antigos prisioneiros citou no seu discurso, lembrar não é o suficiente", " não queremos que o nosso passado seja o futuro dos nossos filhos".
Mas muito sinceramente temo que semelhantes actos venham a ser praticados, ou provavelmente já são praticados nos nossos dias e não sabemos e o que é que fazemos para os evitar questiono eu?
É muito preocupante o comportamento e as atitudes tomadas por alguns Países no contexto das Relações Internacionais, não sei para onde caminha a Humanidade, tenho muito medo, não só por mim, mas pelas gerações vindouras, para onde caminhamos volto a questionar e não me canso de o fazer, tenho a certeza que em nada contribuo para a destruição da mesma, mas não deixo de sentir que todos os dias e por todas as vias me querem empurrar para onde não quero ir.
Que fazer, para além de resistirmos de nos indignarmos e demonstrarmos essa mesma indignação através de diferentes formas, diariamente a todas as investidas dos dirigentes Mundiais, dos Meios de Comunicação Social, dos Poderes/Interesses Instalados, não sei o que fazer mais, mas uma coisa eu sei que qualquer acção a tomar deva ser feita colectivamente sozinhos não vamos a lado nenhum, todos podemos fazer muito.
Quando me refiro a todos não me estou a referir apenas aos portugueses, não nos podemos esquecer que vivemos numa “aldeia” global e quantos mais formos no desenvolvimento das acções que conduzam a uma mudança de paradigma maior será a probabilidade de sucesso.
Uma última coisa vos escrevo, faça-se o que se fizer, jamais serão apagados da memória colectiva os hediondos actos praticados nos chamados Campos de Concentração.
Henrique Pratas
Voltar |