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Fui às Urgências e safei-me

23-01-2015 - Henrique Pratas

O título que dou a este meu texto foi-me “dado” por uma da letra de umas canções do Vitorino, onde em determinada altura está escrito “fui às sortes e safei-me”.

Não sou político nem candidato a nada mas com o anúncio de tantas mortes nas urgências dei um saltinho só, sem aparato e sem acompanhamento, por diferentes hospitais e de facto constatei que estava instalado o caos. A chamada triagem de Manchester, não sei porque é que lhe atribuíram neste nome, porque a cidade é espectacular e o trabalho designado pelo mesmo nome nem por isso, seria normal que a 1ª triagem fosse feita por um médico, mentira constatei in loco que não é verdade, esta triagem em muitos casos são feitos por enfermeiros, que independentemente dos seus anos de experiência, não são médicos, estes últimos não substituem os primeiros e vice-versa.

Logo à partida quando vamos às urgências somos em primeiro lugar vistos por um enfermeiro, ou por um médico pouco experiente que face ao afluxo de pessoas com sintomas diferenciados, merecem uma atenção especial, que não lhes é dada convenientemente.

Nesta fase importantíssima atribui-se uma pulseira que determina a prioridade dos doentes que vão ser vistos por um médico ou vão realizar exames complementares de diagnóstico, se isto funcionasse como estou a escrever tudo bem, mas o pior é que não funciona como vos estou a descrever.

As pulseiras são atribuídas de acordo com quem faz a avaliação, que eu já questionei tenho sérias reservas às pessoas que estão a atribuir as pulseiras e partir daqui nada funciona porque os médicos, classe privilegiada e corporativa, com honrosas excepções, entraram numa fase de fazer os serviços mínimos e existem casos que os médicos que também são pessoas adoecem à sexta-feira e à segunda.

A escassez de médicos, espante-se, segundo a afirmação do Ministro da Saúde, é notória, porque segundo palavras dele muitos foram para a reforma antecipada, eu oiço isto e questiono, o Ministro está a fazer de mim parvo, então ele não sabia que ao introduzirem as penalizações na reforma da função pública que os médicos eram os primeiros a solicitar a sua passagem à reforma porque a maior parte deles já tinham anos de serviço? Ou o Ministro esteve ausente do Conselho de Ministros onde esta decisão foi tomada ou está a tomar-nos como parvos. Em meu entender havia que tomar medidas para que os quadros médicos fossem repostos face às necessidades ou será que os senhores que nos Des) Governam não sabiam as consequências das medidas introduzidas, havia que reduzir pessoas na função pública e este foi o mote não olharam para as consequências, não venham agora com as desculpas de mau pagador, que o POVO não é parvo.

Sei que entre os médicos há um mau estar instalado existem Directores Clínicos, nas Unidades de Saúde, simples e nas Unidades de Saúde Familiar, que deram orientaçõesprecisas e concisas, mas que não escreveram para que os médicos que estão sob a sua jurisdição, atenderam única e exclusivamente os utentes que lhes estão distribuídos, urgências devem ser reencaminhadas para os HOSPITAIS, como citei isto foi dito mas não escrito, mas é a prática, entrámos naquela fase do quanto pior melhor, esta foi a forma de os médicos de uma forma muito sub-reptícia demonstrarem ao Ministro que os tutela que trabalham horas a mais e que o n.º de médicos não é suficiente, não à memória de um Ministro ter comprado uma guerra com esta classe e tê-la ganho, no meio de isto tudo quem se trama somos todos nós, não escrevo que eles não tenham razão o aumento da carga horária para 8 h/dia é demasiada acompanhada da redução nos vencimentos e no pagamento do trabalho suplementar pior e os médicos estavam habituados a rendimentos mensais mais elevados do que têm actualmente.

Para mim esta é uma forma de reagir a medidas tomadas sem serem pensadas e devidamente ponderadas, mas o Ministro é ele e não eu, não venha agora é com desculpas esfarrapadas porque para mim ele vai de carrinho.

Voltando às urgências, deparamo-nos com pessoas espalhadas em macas nos diferentes corredores e sujeitos a todo o tipo de correntes de ar ou de desconforto que não necessitam quando se encontra numa situação de recurso. Acresce que se junta pessoas com diferentes infecções ou outras sintomatologias passiveis de serem transmitidas uns aos outros, sem que para isso se apercebam que tenham contribuído.

Como sabem as infecções cruzadas são um grande risco nos Hospitais, entramos lá com umas queixas e saímos de lá se não tivermos os devidos cuidados, com mais do que levámos, tudo isto porque a generalidade dos Hospitais não tem condições para receber os potenciais utentes, nem oferece as condições de trabalho necessárias e suficientes para os profissionais que lá trabalham, em suma os nossos hospitais são maus em termos de instalações, mas temos uma coisa muito boa que são os profissionais que lá trabalham. Como referi anteriormente os médicos, enfermeiros e auxiliares, alguns não são todos, temos que ter esta consciência, são espectaculares face às condições de trabalho que lhes são dadas, mas têm limites que em tempo oportuno não foram considerados pelo Ministro da Saúde ou do Des) Governo na sua totalidade, todos nós sabemos que o acesso aos hospitais, excluindo a situações de acidentes graves está mais concentrada ao final do dia, isto porque nós não temos uma política de saúde preventiva e a maior parte das pessoas estão até à última, vão tomando uns comprimidos que se anunciam na televisão, ou vão a uma farmácia e apresentam as queixas e o farmacêutico ou auxiliar de farmácia, “prescreve” a toma de alguma coisa, esta prática na minha opinião devia ser proibida, e esperam que faça efeito umas vezes faz a maior parte das vezes não faz e aí tem que se socorrer das urgências e afluxo é muito face aos profissionais disponíveis que temos muitos terminam o seu horário de trabalho de 8h/dia, que é excessivo para prestar um serviço de excelência e qualidade pretendidas.

Não entendam no que escrevo que estou a desculpar alguém, nada disso, há incúria, as coisas não funcionam, por diferentes ordem de razões, falta de condições de trabalho, equipamento que não funciona e falta de profissionais qualificados a todos os níveis, nós quando estamos doentes é que precisamos de mais cuidados.

O que vi foi assustador e escrevo-vos é uma sorte não morrerem mais pessoas do que aquelas que já morreram, fui às urgências e safei-me……..

Henrique Pratas

 

 

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