A Propósito de Je Suis Charlie
16-01-2015 - Henrique Pratas
Não é que defenda os acontecimentos que ocorreram em Paris mas não posso deixar de escrever sobre o que constituiu abertura durante dois dias seguidos os Jornais da Noite dos diferentes canais televisivos pelo menos no dia dos acontecimentos foram praticamente utilizados todo os minutos disponíveis e no segundo os primeiros 30 minutos foram utilizados a falarem sobre o episódio que ocorreu.
Mais uma vez escrevo que foi lamentável o que aconteceu, mas e há sempre um mas não me recordo de ser tomado tempo na Comunicação Social quando foi a invasão do Afeganistão, do Vietname, o bombardeamento do Iraque realizado pelos americanos ou de quaisquer outros Países sejam eles de origem muçulmana ou não, recordo também os Países Africanos, República Centro-Africana, Guiné Equatorial, Malawi, Botsuana, Nigéria, Tunísia, Mali, Líbia, Sudão, Mauritânia, Brasil, México e outros, onde morre gente todos os dias que nem tordos e não merecem sequer 1 minuto de atenção dos chamados medias, isto porque nesses Países maioritariamente pobres ou com a distribuição da riqueza está concentrada nas mãos de poucos.
O que está em causa é o “paradigma” ou por outras palavras, o privilégio do capital especulativo em desfavor das pessoas e de uma economia assente em sectores produtivos devidamente sustentados e alicerçados em pilares firmes que apoiem o desenvolvimento e crescimento, em detrimento de actividades especulativas desenvolvidas pela Banca e pelos detentores do capital.
Se este estado de coisas não se alterar o Mundo não se modifica para melhor.
O que aconteceu em Paris demonstrou à saciedade que a União Europeia não está preparada para a implementação de determinadas políticas como seja o da livre circulação das pessoas, não foi por acaso que os ministros de todos os países depois de uma reunião acesa decidiram implementar medidas de controlo mais apertadas no espaço Schengen, então pergunto eu e alguns de vocês também, os chamados Países ricos ao implementarem esta politica e por força do domínio do “vil metal” e que necessitam de mão-de-obra barata, que entre os cidadãos europeus não conseguem encontrar, não sabiam que ela iria surgir dos Países mais pobres? O capital precisava deste golpe, as conquistas dos trabalhadores que ocorreram na velha Europa não podiam diminuir de forma tão acentuada os lucros dos capitalistas sem escrúpulos e de uma sociedade decadente em termos de valores morais e princípios éticos.
Há dias falava ao telefone com o meu amigo Matos Serra e ele MILITAR à séria e um HOMEM de grandes valores morais e éticos, não fosse ele também licenciado em Filosofia, se quiserem na arte de pensar, me dizia com grande clarividência que era necessário mudar o “paradigma” da atual sociedade onde segundo as suas palavras e espero citá-lo sem incorreções, o capital, a atividade desenvolvida pela Banca especulativa, que não cria riqueza nenhuma, cava é cada vez mais as assimetrias, que é colocada em primeiro plano não seja substituída por uma nova ordem internacional onde se aposte no desenvolvimento dos setores produtivos da economia, sejam eles na área da indústria, da agricultura, das pescas e também dos serviços acrescento eu, porque teremos um POVO, mais qualificado, mais habilitado e forte se a saúde, a educação, as condições de trabalho, a cultura, estejam à altura do que é espectável para uma sociedade dita desenvolvida.
Os Países ricos, criaram esta monstruosidade, desenvolveram tecnologias nomeadamente ao nível do armamento, que é dos negócios a seguir ou em simultâneo ao narcotráfico que mais dinheiro dá a ganhar aos poderes que se instalaram, estavam à espera que os pequenos que se alimentam miseravelmente quando o fazem, ficassem quietos, sossegados, à espera de raids aéreos onde experimentaram todo o tipo de armamento bélico em Países que nada têm para dar em troca a não ser caminhar no sentido do seu desenvolvimento à velocidade que eles pretendem e não aquela que lhes querem impor.
Pois é esqueceram-se que nesses Países também existem PESSOAS e que estas têm vontade própria, anseiam por uma vida melhor, é normal não, ou será que têm que estar subjugados aos Países ricos, à espera que lhes larguem algumas migalhas.
Meus amigos o MUNDO é composto por pessoas, elas têm vontade própria, têm querer, podem ser espezinhados durante algum tempo, mais ou menos consoante a sua natureza, mas mais dia, menos dia vão revoltar-se e aí não sei se os sistemas de segurança, as “secretas”, idealizados e desenvolvidos para fazer face a todo o tipo “ataques”, vão dar resposta aos que os conceberam, e depois como é que vão segurar as pontas como dizem os “inteligentes”, fazedores de opinião, teóricos mundiais, políticos de meia tigela e de idoneidade duvidosa da nossa e de outras praças, nessa altura sim pago para ver como é que vão por em prática aquilo que andam a defender há alguns anos e que não tem defesa nenhuma, carecem da maior credibilidade ética, moral e conceptual.
Compraram várias guerras, vão tê-las, como é que vão estancar, em termos náuticos vai haver “água aberta”, todo este processo que pensam que está morto, mas apenas tem estado adormecido, como é que vai ser quando acordarem, duro será para alguns, mas o que vos acabo de escrever é tão certo como eu vos estar a incomodar com as minhas loco brações.
Há uns anos atrás julgo que nos anos 50 - 60, houve alguém que afirmou que era necessário criar várias guerrilhas a atuarem em simultâneo em pontos diferentes do MUNDO, não foi por falta de aviso, mas acho que é o que vai acontecer e não sei como irá acabar, por isso entendo que estamos a colher apenas o que semeámos e a situação que ocorreu em Paris é um exemplo disso.
Já agora e antes de acabar, penso que todos conhecem aquela máxima que violência gera violência, que tanto se carrega em cima dos oprimidos até que um dia “rebentam”, acham que a maneira como a França resolveu a delicada situação, colocando 80.000 polícias e militares, usando na minha opinião uma força desmedida e caracterizada pela caça ao homem, foi a adequada? O que é que pretenderam dar a entender ao Mundo? Isto vai parar por aqui? Vamos todos um dia destes ter um polícia por cada cidadão acham que é assim que as coisas se resolvem, onde anda o bom senso, o equilíbrio, a sensatez, diplomacia, se no País onde aconteceu uma revolução que teve como princípios assumidos a Liberdade, Igualdade e a Fraternidade foram os motores da mesma muito mal vai o Mundo e a História Mundial está cheia de exemplos de situações como as que ocorreram será que não aprendemos nada com esses tristes acontecimentos.
Importa anda fazer uma menção à situação Grega, assim que o FMI e a União Europeia souberam que o Povo grego é capaz de dar a maioria a um partido, dizem os entendidos que provavelmente nunca lá colocaram os pés e não conhecem, nem sabem os desejos desse mesmo POVO, vá de utilizar os media para amedrontarem os gregos com cortes financeiros por parte do FMI, curiosamente a senhora Lagarde, Presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) de origem francesa veio logo dizer que se o dito partido grego tivesse a maioria absoluta, fechavam a “torneira”.
Também o Presidente da Comissão Europeia em exercício vem a terreiro produzir afirmações que lhe ficam mal, afirmando que caso o partido a que me refiro ganhasse as eleições com maioria, os gregos seriam “expulsos” da União Europeia, estaríamos perante uma nova purga?
Face ao exposto questiono quem é que decide o destino de um Pais, o seu povo ou os grandes grupos económicos e Instituições Internacionais, que deviam ser isentassem todo este processo. Ele há cá cada coincidência…...
Termino, escrevendo, que entretanto o Cristiano Ronaldo ganhou mais uma bota de ouro e o Presidente da República foi das primeiras pessoas a felicitá-lo, recordo que há uns meses atrás o nosso maior fadista Carlos do Carmo, ganhou um Grammy, prémio nunca antes alcançado por qualquer artista português e que eu tenha conhecimento o mesmo Presidente nem uma palavrinha lhe deu. Belo exemplo de isenção, de cidadania e tratamento igual para todos os portugueses e o circo continua…………
Lisboa, 12 de janeiro de 2015
Henrique Pratas
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