A Indignação Europeia
16-01-2015 - Raquel Varela
Os líderes europeus estão a transformar a indignação genuína das populações contra a barbárie deste atentado - indignação que começa, recordo, nas redes sociais e nas redacções de jornais deste mundo - numa sessão de propaganda de apoio ao expansionismo no Médio Oriente e em África, aproveitando de forma demagógica a manifestação de amanhã em França.
Em nome da liberdade de expressão era importante as nossas televisões entrevistarem todos aqueles que em França - incluindo várias organizações políticas - repudiaram o atentado veemente, estão nas ruas a lutar pela liberdade política, religiosa e de expressão, mas recusam-se a fazê-lo ao lado de Sarkozy, que chamou "escumalha" aos guetos de emigrantes, essas bolsas de força de trabalho barata onde a regra é a segregação social, de Durão Barroso que ajudou a destruir o Iraque inventado armas que nunca existiram, de Le Pen, que evoca o maior pesadelo da história da Europa.
Convém ter as mãos limpas e a face erguida, quando se trata de defender os nossos preciosos valores civilizacionais europeus.
Não há nem igualdade, nem fraternidade, nem liberdade na actuação política de quem tem governado a Europa e que agora cavalga uma onda real de defesa desses valores para impor os outros - o da desigualdade social, o da competição entre Estados e povos europeus, e o da restrição de direitos e liberdades e garantias fundamentais.
Um Estado securitário e vigilante, feito em nome de qualquer valor nobre, será sempre uma prisão, obscura. Era uma boa altura para erguer uma bandeira bem alto que em tempos fez parte destes valores europeus que tanto acarinhamos - não estamos com nenhum terrorismo, nem o individual, nem o colectivo nem o de Estado.
Raquel Varela
Voltar |