Crónica de um dia frio de Sol
22-11-2013 - Francisco Pereira
A manhã apesar de gélida, estava bonita, o Sol brilhava esplendoroso e os trinados dos pássaros que rasgavam o ar gelado enchiam de alegria essa manhã, de um azul intenso estava o firmamento maculado, além ainda se via a estrela da Alva fulgurante. O quase sonoro e profundo azul era aqui e além pontilhado por uns pequenos farrapos de uma alvura cândida, e os raios luminosos de luz intensa feriam o chão com a sua força benéfica.
Cheguei a mecha à pirisca e depois de cumprimentar o senhor onde diariamente, ou quase, compro o meu dilecto diário, para ler as passadas últimas imbecilidades politiqueiras, estugo o passo direito ao café, pareço um perdigueiro de nariz levantado pelo meio das estevas a perseguir o odor intenso daquela perdiz que insiste em se esconder.
Entro no café, atiro um sonoro bom dia, lá dentro um casal já entrado na idade provecta, nem tuge nem muge, a um canto um outro cavalheiro a gozar a reforma, por certo, enfia os olhos nas grossas parangonas da lusitana vitória futeboleira sobre a frieza viking travestida, e tal como os outros dois ao meu repto queda-se mudo e calado pigarreando ligeiramente, um toque de bronquite por certo que nestas idades a saúde já falta na prateleira do corpo.
O meu trinado, ensinado pelos meus pais que apesar de apenas terem a instrução primária, me ensinaram a dizer palavras importantes, como sejam o “bom dia”, o “obrigado” e o “com licença”, dizia eu, que o meu repto de boa educação ao entrar no local apenas foi correspondido pela funcionária do local, que respondeu com um agradável sorriso e um educado bom dia.
Pedi um café, e que bem o servem ali, coloquei o jornal em cima do balcão e fui lendo, entrementes, atrás de mim entra um senhor que igualmente diz o urbano e educado “bom dia”, retribui o cumprimento, e do outro lado o casal começa num desfiar de “bom dia sôtor”, “sotôr” pra cá, “sotôr” para lá entrecruzados por risos e esgares subservientes e patéticos, o português é seguramente dos seres mais lambe-botas e subservientes que existe, rais’parta, pensei para comigo.
O homem sai, e a conversa entre o casal de cucos e a funcionária desenrola-se sobre o homem que acabara de sair. Não o conhecem, sabem apenas que é advogado e que lhes parece muito educado, e que convém conhecer sempre gente de bem e porque assim e assado.
Saí com o café entalado no gorgomilo, que cambada, mal educados, subservientes, lambe-botas e patéticos é isto que somos, o cultivo das “doutorices”, a subserviência aos poderosos e a falta de educação.
Que bela estava aquela manhã o ar gélido entrava pelas narinas, quase que podíamos sentir pequenas agulhas geladas a causar piquinhos no nariz, que belo o Sol, concedi a mim próprio um pequeno desvio à norma auto imposta de só fumar um cigarro de manhã, enrolei outro e fui-me rua afora, olhando o céu, realmente que bela manhã fria de Sol estava.
Francisco Pereira
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