Viver um tempo de privilégio?!
27-12-2014 - Eurico Henriques
Estamos no fim do ano. Agora, quando pressiono as teclas para compor estas palavras, é dia de Natal. Esta celebração cristã tem raízes bem diversas. Vai buscar fundamentos à sociedade romana e ao nascimento de Cristo. Que se chamava Jesus mas o martírio acrescentou-lhe o nome.
Francisco de Assis eternizou a cerimónia do nascimento com a criação do presépio. Eram tempos difíceis para os europeus. A pobreza e o abandono deixavam milhões de pessoas sem cuidados e sem proteção. Ele saiu de casa para encontrar uma solução para este problema.
Sair de casa agora é um desamor. Está frio. Mas tive que sair. Fui pôr o lixo no contentor. Já não é surpresa fazer esta tarefa. Os contentores da reciclagem estão a meio. De restos de tudo o que não nos interessa e deve ser despejado. Há uns 15 anos estavam cheios. Tanto que havia que se deixar o lixo fora, em sacos. O nosso consumo sofreu uma redução extraordinária. Os serviços de limpeza do município terão menos trabalho e despesa. Será válido?
Este tempo que vamos vivendo tem coisas de assinalar. Há uns dias parei para refletir sobre o que já vi e assisti. Houve a descolonização portuguesa. Quando pensávamos no processo que se deveria seguir e como tudo iria terminar, eis que terminou.
A Leste Nada de Novo, escreveu em tempos Erich Maria Remarch. Bom livro. Afinal havia muito de novo para acontecer. A famosa e poderosa URSS (aquela dos universitários reunidos saúdam Salazar – quem se lembra?) desapareceu, no ar desfeita em pó. Bastou a frase de Gorbachev “Perestroika”. A guerra fria terminara. Era o que diziam. O mais famoso de todos, o Muro de Berlim, caíu. Bastou um responsável do governo da extinta RDA – República Democrática Alemã – falar no assunto. Uma das maiores aberrações humanas do século vinte desapareceu para dar lugar à paz e à liberdade. E havia quem idolatrasse esta situação.
A famosa china do camarada Mao. A que se idolatrava como a terra dos trabalhadores e camponeses. Com milhões de mortos para prazer de dirigentes. Mao o herói, não, o bandido! Esta China de hoje é o resultado do que se procurou destruir.
E o nosso famoso barbudo? O Fidel Castro. Desaparecida a URSS e o apoio que lhe dava, Cuba deixou de ter capacidades de sobrevivência. O regime instalado naquela ilha conduziu o povo e o país a uma situação de extrema miséria. Agora vão ter boas relações com o seu poderoso vizinho. As transformações sociais, económicas e políticas vão liquidar esse regime de opressão. Esperemos que não se matem uns aos outros.
A situação de permanente vingança e opressão de Israel sobre os palestinianos gerou um monstro: estado islâmico. O célebre Bush, o do país mais poderoso da terra, destruiu o Iraque. Ia haver democracia e liberdade. Fazer a guerra e a destruição de um país para impor a democracia, constitui um processo de atuação inverso ao que se pretende.
Nestes breves momentos de escrita, em que lembro estes factos, há que se ter em conta que não podemos saber tudo ou prever o futuro.
Tive um tempo de privilégio por assistir a tudo isto e muito mais.
Igualdade e liberdade para todos, mas com responsabilidade e respeito pelo nosso vizinho.
Eurico Henriques.
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