O meu menino é d’oiro
21-11-2014 - Francisco Pereira
O título deste artigo foi roubado um fado de Coimbra que minha mãe cantava, e que me fazia sempre chorar, sei lá porquê, talvez porque já adivinhasse que este país chegaria a este miserável estado.
Devo confessar que os “vistos dourados”, não me chocam muito. Aliás já muito pouca coisa me choca, para além da estupidez, da incompetência e da falta de honestidade, mas quanto a isso, cá em Portugal estamos conversados. Tenho algumas reservas, sobre essas actividades dignas dos “vendilhões do templo”, sob o ponto de vista ético, moral e deontológico, parece uma actividade miserável para um país, mas tendo em conta o miserabilismo intelectual que este mundo atravessa, não espanta.
Ademais, justificando-se com o facto de outros países de aparente maior grandeza e importância também utilizarem este expediente, logo essa espécie de merceeiro das negociatas mal amanhadas, que vegeta pelo podre poder, decidiu também lançar mão dessa estapafúrdia cretinice, e como em outras negociatas que promoveu, submarinos e viaturas Pandur, por exemplo, a coisa só podia dar asneira. E sim, estou como é claro, a falar do senhor Portas!
Objectivamente o dinheiro que esta coisa dos vistos dourados atraiu, está com certeza já espalhado por offshores, aliás seria interessante verificar quanto dinheiro em impostos é que toda esta traficância produziu, pois sabemos que em termos de investimento directo, com consequente criação de riqueza e emprego, a coisa é absolutamente miserável. Quanto ao resto é apenas a goela do senhor Portas a dizer as barbaridades que lhe conhecemos quando fala em causa própria, veja-se que o cavalheiro até conseguiu fazer passar um irrevogável por transitório e de muito curta duração, isto demonstra bem a capacidade de iludir que a personagem possuiu.
Ora voltando aos tais vistos, sou obrigado a dar o braço a torcer e a concordar com a camarilha comuna, quando estes avisaram de que isto ia dar bota. Era previsível que acontecesse dados os montantes envolvidos e o modo como tudo isto é feito, leia-se, na mais absoluta balbúrdia e completa podridão legal e conhecendo nós a propensão que os senhores dos altos cargos têm para a corrupção, e é preciso que se o diga com frontalidade, Portugal é um país absolutamente de terceiro mundo no que à corrupção concerne, é dos nossos maiores dramas, depois mesmo quando não estão directamente implicados, como é o caso de Miguel Macedo, as teias de interesses, as parcerias, as amizades, os negócios e negociatas, as sociedades e toda a rede absolutamente mafiosa de compadrios que esta gente estabelece uma com a outra para viver à conta dos dinheiros públicos, faz com ao cidadão comum, abrasado com impostos, taxas e taxinhas, lhe seja difícil já acreditar na inocência de alguém, ainda que como tenho a certeza muitos o serão, incluindo o ex-ministro Macedo.
Para cúmulo, a trapalhada ainda foi mais longe envolvendo essa espécie de polícia secreta que parece actuar em Portugal, que ao que foi revelado faz favores pessoais a amigos, ao invés de andar atenta a fenómenos mais perigosos, é absolutamente patético, os vistos dourados são acima de tudo uma grande e enorme trapalhada com a cara do senhor Portas.
Os vistos dourados, são também o epitáfio de uma Europa, de um Ocidente, cada vez mais debilitado e à míngua. Um sinónimo de que a União Europeia soçobrou por completo, que o projecto europeu falhou, e culpa não é apenas da Alemanha mas de todos, os que deixam a Alemanha ditar as leis.
Pediria no entanto ao senhor Portas, o auto proclamado paladino, da agricultura dos velhinhos e de Portugal, que repensasse a coisa. Ao invés de dar o visto ao chinês que compra uma casarão bafiento, de qualidade medíocre e hiper inflacionado, substitua isso pela obrigação de importar produtos portugueses, olhe obrigue o chinês a importar para a China, ou para onde ele quiser, uma tonelada de morcelas de arroz por mês durante 5 anos, quem diz isso diz, chispe, orelheira fumada, garrafões de tinto, e o céu é o limite.
Se o senhor Portas defende assim tanto o seu país pense melhor e ajude aqueles que ainda cá estão, ao invés de promover iniciativas que depois redundam nestas falcatruas miseráveis, isto claro está se conseguir, se como dizia o zarolho poeta, “para tal tiver arte e engenho”!
Francisco Pereira
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