FRANCISCO ASSIS CONTINUA OBCECADO PELA «PROXIMIDADE IDEOLÓGICA ENTRE PS E PSD» E PELO DESEJO DE UM GOVERNO DO «BLOCO CENTRAL»
21-11-2014 - Alfredo barroso
A dez dias do congresso do PS, Francisco Assis continua a dar largas às suas obsessões de direita, salientando a «proximidade ideológica entre o PS e o PSD» e defendendo a constituição de um governo do «bloco central», ou seja, um governo de coligação entre o PS e o PPD-PSD, deixando o CDS-PP de fora. À esquerda não é possível, afirma ele, até porque, segundo ele, António Costa não está à esquerda. Mas considera possível um acordo com o Partido Livre e outros semelhantes que, pelos vistos, Assis considera que não estão à esquerda…
A entrevista foi concedida ao Observador, o jornal on-line da direita neoliberal, e foi conduzida por Maria João Avillez, sem dúvida a jornalista mais reaccionária da Imprensa portuguesa. Francisco Assis disse, sem o mais leve pudor e com grande leviandade, tudo aquilo que Maria João Avillez, e a direita em geral, gostariam de ouvir. E não disse nada de substancial, nem do ponto de vista ideológico, nem do ponto de vista programático, nem do ponto de vista das políticas públicas que é legítimo esperar de um futuro governo socialista. Tudo gira em torno da sua obsessão pelas alianças com a direita. É uma entrevista lamentável, como poderão avaliar pelo texto integral que a seguir reproduzo. Chamo a atenção para insistência com que Maria João Avillez se refere várias vezes a Francisco Assis como «o socialista». Faz parte do «jogo»... Aqui vai a entrevista.
A dez dias do congresso do PS que elegerá António Costa como secretário-geral, o eurodeputado do PS Francisco Assis deixa pistas sobre a intervenção que fará do púlpito do Parque das Nações: «Se houver necessidade de um governo de coligação (…) terá de ser à direita». Numa entrevista ao Observador, Assis é questionado sobre quem seria o parceiro ideal dessa coligação e a resposta é directa: «O Partido Social-Democrata». O CDS fica de fora? «Apesar de todo o respeito que tenho pelo CDS-PP, é inquestionável que há uma maior proximidade ideológica entre o PS e o PSD, do que há com o CDS-PP», justificou o deputado europeu.
Ainda assim, Francisco Assis admitiu nesta conversa com Maria João Avillez que a sua posição «nem sempre é muito popular, nem muito compreendida» no PS, mas defende que «se ninguém tiver maioria absoluta é desejável que exista uma coligação [à direita] (…) para garantir a devida estabilidade política», porque não vê «francamente como é que se possa fazer uma coligação à esquerda».
Mas que direita? Uma que não seja liderada, preferencialmente, por Pedro Passos Coelho. «À direita dir-me-ão alguns: com quem e em que termos? Se o PS ganhar as eleições, à direita vai haver mudanças e essas mudanças facilitarão entendimentos», reforçou o socialista, referindo-se a uma eventual liderança de Rui Rio. Aliás, esta posição já tinha sido assumida pelo antigo ministro socialista Augusto Santos Silva, em entrevista ao Observador.
O caminho do PS passa pela Europa
Assis revelou, ainda, o que pensa sobre o papel do próximo Governo na Europa e qual será a estratégia do PS caso consiga a vitória nas eleições legislativas. O caminho socialista passará, não por afrontar ou «não cumprir» o Tratado Orçamental (TO), mas sim por aproveitar o facto de o «TO estar redigido de uma forma que permite interpretações diferentes. É aí que entra a negociação política» de Portugal na Europa, nomeadamente para a «mutualização parcial das dívidas públicas» do nosso país e de outros países europeus.
Aqui, e mais uma vez, Francisco Assis estendeu o desafio de defender os interesses do país na UE à «direita [que existe] em Portugal, que se reconhece nisto» e sobretudo ao «PSD, [onde] há uma linha (…), que eu julgo que tem expressão e que tem força, que não se reconhece neste modelo [de austeridade]», referindo-se concretamente à ala do partido que apoia uma eventual candidatura de Rui Rio à liderança do partido.
Todavia, o ex-candidato a secretário-geral do Partido Socialista reconheceu que «nem sempre é muito bem compreendido por alguma esquerda que depois me [o] ataca com leviandade» quando assume esta ideia de que o futuro do país depende de largos entendimentos com esta ala do PSD, de forma a conseguir melhores resultados nas negociações com a Europa.
Francisco Assis admitiu, também, que o PS, caso forme Governo em 2015, terá como preocupação conduzir a sua política em conjunto com os parceiros europeus – desde logo com o próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker – que querem protagonizar uma mudança profunda nas políticas económicas e orçamentais da União Europeia (UE). De outra forma, o socialista não antevê que qualquer Governo, à esquerda ou à direita, consiga por si só resolver os problemas estruturais do país.
«As posições dos partidos à nossa esquerda» inviabilizam coligações
Confrontado por Maria João Avillez com uma possível aproximação de António Costa aos partidos posicionados à esquerda do PS, e lembrando que Costa, principalmente no seu primeiro mandato como presidente da Câmara de Lisboa, celebrou acordos com o Partido Comunista, o deputado europeu afastou a possibilidade de um eventual entendimento com o PCP e com o BE no âmbito governamental.
Descrevendo como «disparatada» a avaliação generalizada que coloca António Costa mais à esquerda do que os seus antecessores – Mário Soares, António Guterres e José Sócrates – Francisco Assis argumentou que qualquer entendimento com os partidos mais à esquerda do PS está a priori afastado pelas «posições assumidas pelo BE e principalmente pelo PCP», designadamente as relativas às questões europeias e de política internacional. O socialista lembrou, inclusivamente, o artigo recentemente publicado pelo jornal Avante! sobre «a chamada queda do Muro de Berlim» e a República Democrática Alemã.
Assis, no entanto, não descartou a hipótese de os socialistas se coligaram com o «Partido Livre ou com qualquer outra formação» que surja entretanto, «desde que respeitem as linhas matriciais do PS», enquanto partido do centro-esquerda.
A herança de Sócrates, de Seguro e o virar de página com Costa
Apesar de nunca renunciar ao passado do PS quando tinha como líder José Sócrates, Francisco Assis acredita que «se o discurso político se fizer a partir de um fantasma político, que, ainda por cima, não está lá no Parlamento para se defender é evidente que isso nos prejudica», referindo-se ao episódio vivido no debate do Orçamento do Estado para 2015, quando o actual líder parlamentar da bancada socialista, Ferro Rodrigues, evocou o nome do antigo primeiro-ministro, o que motivou um «coro de assobios» dos deputados do PSD e do CDS.
Ainda assim, o deputado socialista no Parlamento Europeu não deixou de defender José Sócrates, um homem «obstinado», que «tentou até ao último momento (…) evitar a necessidade de pedir este auxilio (da Troika)».
O socialista também não esquece António José Seguro, de quem foi apoiante nas eleições primárias – uma decisão que reconheceu como «muito difícil de tomar» – e que considera ter sido um dirigente de «grande rigor na forma como produziu o seu discurso político» e na forma como «não cedeu à tentação de radicalizar o discurso do Partido Socialista, o que talvez lhe tivesse dado um apoio momentâneo mais elevado».
Reconhecendo que Seguro foi «muitas vezes injustamente atacado (…) pelo meu [seu] próprio partido e por pessoas fora do partido (…)», Francisco Assis previu que o antigo secretário-geral «ainda vai ter papel importante na vida política portuguesa», depois do natural período de hiato político.
Mas, agora, «essa página está virada» e António Costa é a figura que o PS escolheu para candidato a primeiro-ministro de Portugal. Sobre o ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Francisco Assis considerou que «a afirmação de António Costa está feita: se ganhou como ganhou [primárias socialistas] é porque, na verdade, é respeitado no país inteiro como uma das grandes personalidades da vida política portuguesa e [porque] despertou uma enorme esperança» nos portugueses.
Mesmo quando questionado sobre o início do agora líder da oposição aparentemente «aos solavancos» – nas palavras de Maria João Avillez, que lembrou o atraso na apresentação do Orçamento da Câmara, a hesitação na definição da devolução da totalidade ou de forma parcial dos cortes salariais em 2016 e as dúvidas sobre a questão da renegociação da dívida soberana – Francisco Assis desvalorizou, justificando algumas dessas questões como resultado de um período de «adaptação» de António Costa e sobretudo do partido, que, no final do mês, elegerá oficialmente e ao que tudo indica Costa como secretário-geral dos socialistas».
Akfredo Barroso
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