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Quarta-feira 3 de Setembro de 2025  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

POVO MANSO QUE RUMINA

08-08-2025 - Francisco Pereira

O tempo corre quente, tão quente que nas árvores os passaritos desfalecem com a canícula, e o manso povo rumina. É Verão, partem a banhos os notáveis, cansados e de algibeiras fartas, cansados partem igualmente alguns dos menos notáveis, mas esses partem só cansados, que vão arejadas as algibeiras, e o manso povo rumina.

Há meses que nos entopem as vistas com não uma, mas duas campanhas eleitorais, há meses que desfilam por cima e por baixo de toda a folha, da maior das urbes até ao mais singelo lugarejo perdido nos confins das berças, cartazes, prospectos e demais poluição visual esborratados com as medonhas carantonhas associadas com as infindáveis listas dos putativos candidatos e demais matilhas de avençados, concorrentes aos lugares, bastante disputados, apesar de muito mal pagos, dizem alguns, dos municípios e juntas de freguesia, é um fartote este desfile de horrores, no entanto o povo manso rumina.

Pelos mágicos panos electrónicos, vão aparecendo em poses mais ou menos marciais os candidatos à presidência desta chafarrica a que gostamos de chamar país, entre almirantes títeres e farsantes, escolheremos lá para o início do próximo ano o senhor que se segue no cadeirão presidencial, entretanto entre esgares e encolher de ombros vamos enchendo as esplanadas, deslumbrados com o caracol e o espectáculo do fogo, a tal época de incêndios, maravilhosa invenção lusa, que nestes meses de estio, em que o futebol está de molho e o resto lhe segue o caminho, vai distraindo a maralha, no entanto o povo manso rumina.

Migrantes pra cima, refugiados para baixo, emigrantes e assim, culturas avessas à cultura, misturas de elementos que não se misturam mas que alguns pobres de espírito insistem em misturar, - somos todos humanos – gritam uns, -abaixo as portas escancaradas – vociferam outros, entretanto o povo manso rumina, apático incapaz de uma reacção, ah, e amamentar só dentro da Lei, sim porque havia aí muita teta seca ainda a dar leite, temos de atalhar à malandragem da mamoca, essa bandidagem que põe em causa o bom nome do país, gosto de governos assim, fortes, que não tem pejo de atacar as mamas da Nação, à bravos de Chaimite, à bravos navegantes que singravam o não conhecido, calem-se as musas que cantaram tais feitos menores, mais os feros Afonsos, tudo é ofuscado por este governo que ataca as tetas e quanta glória há em atacar mamas, o povo manso continua a ruminar.

Neste seráfico país dos bons costumes, nestas eiras povoadas de mansidão, onde urgências hospitalares abertas, enfrentam probabilidades mais ínfimas que vos sair o euromilhões, o povo manso rumina, embascacado, ultrapassado por uma voragem de um tempo demasiado rápido, cheira demasiado a extinção, a tugúrios de rapinadores e a mediocridade, mas não temam, chegando à hora de almoço, liguem-se os ecrãs, - que estará hoje a arder? – perguntam-se.

Lá fora está um calor de gelar a alma, num inferno de labaredas caindo em cascata de um fiorde dos mares lá do Norte, imutável o povo manso rumina.

Francisco Pereira

 

 

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