OS TROTINETEIROS
25-07-2025 - Francisco Pereira
A terreola onde habito, permitiu que se criassem, nas últimas duas décadas, hábitos insanos e desrespeitosos, cada vez mais perniciosos além de absolutamente medíocres, mercê de um abandalhamento colectivo que congrega na mesma espiral de miséria e indigência intelectual, múltiplos elementos da sociedade local, desde logo os meus caros concidadãos, depois as várias autoridades locais e restantes representantes da quase inexistente autoridade do Estado.
Este laxismo conjuntural, onde uns se queixam dos outros e os outros se queixam dos uns, sendo ao mesmo tempo, à vez, pilares de suporte uns dos outros, é a cola unificadora de uma grande orgia de demência surreal.
Esse laxismo propiciou então uma incubadora perfeita para este estado de miséria que por cá se vive, uma coisa que vou apelidar de “labreguismo laxista”, cujas características principais passam essencialmente por um respeito muito liberal e comedido pelas leis do país além de uma sui generis abordagem ao cumprimento dessas leis tudo polvilhado com o umbiguismo típico destes tempos bem como com a falta de respeito pelos outros, a falta de civismo e urbanidade.
O “labreguismo laxista” tem então produzido pérolas de comportamento deveras inclassificáveis que nem o adjectivo “simiesco”, traduz nem quadra bem, com o que por aqui se passa, correndo eu o risco de algum símio cumpridor ver a sua honra ofendida ao ser comparado com esta verdadeira horda de babuínos boçais, recorrendo, e bem, aos tribunais para apresentar a sua queixa contra a minha torpe comparação.
Há uns anos a esta parte, e disto já vos dei notícia amiúde, os passeios desta localidade, servem para tudo. Primeiramente passaram a parque de estacionamento de todo o tipo de veículos, depois para ser deposito de todo o tipo de materiais, equipamentos, sinais, postes e contentores do lixo, mais recentemente começaram a servir de improvisadas ciclovias, velhos e novos, homens e ou mulheres, por vezes até gente que mercê da sua actividade profissional em funções públicas, deveria dar o exemplo, assistimos a alegres cavalgadas ciclistas por cima dos passeios, isto tudo com a mansa complacência de quem de direito.
Entretanto, mais recentemente, advento destes tempos de loucura colectiva, ganhámos uma outra tendência, “os trotineteiros”, esta novel "raça" segue a velocidades quase alucinadas por cima dos passeios como se nada fosse, com a maior das displicências, aquilo é tudo deles, permitindo-se até, pasmem-se, invectivar o pobre peão, para arredar do passeio para que eles, os trotineteiros, possam passar, fazem lembrar o famoso “Arreda” 1 que qual foguete, faíscava pelas ruas de Lisboa nos finais do século XIX e princípios do século XX na sua caranguejola motorizada, gritando para os transeuntes,“arreda...arreda…”.
Eis meus caros o estado da nação, o pobre peão que habita aqui por estas berças, saído à rua por qualquer necessidade, faz verdadeiras gincanas para atravessar as vias desta gaiola de malucas, tendo de estar sempre alerta, porque de uma qualquer esquina pode surgir um bicicleteiro e ou um trotineteiro tresloucado, por isso caros leitores se vierem a esta terra tenham cuidado, ao dobrar da esquina pode vir um trotineteiro desvairado que vos passa por cima sem mais aquela, sendo que aquilo que mais dói, é a falta de respeito além do laxismo de todos aqueles que deveriam fazer respeitar a Lei.
Francisco Pereira
1 https://sinalaberto.pt/o-arreda/
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