10 do quê?
20-06-2025 - Francisco Pereira
Fará sentido fazer do 10 de Junho a festarola pateta que hoje é? Pior, os discursos proferidos neste ano de 2025 a propósito dos eventos festivos comemorando essa data, foram supimpamente patéticos.
A senhora escritora, produziu uma grande peça literária, quanto à forma nada a objectar, confesso que gostei, bem escrito, escorreito e objectivo, já quanto ao conteúdo, aí já a porca torce o rabo, se a tónica sobre o grande Camões, me pareceu muito bem, apesar de a senhora escritora estar um pouco equivocada sobre as crianças das escolas e as escritas de Camões, a “mesquinha realidade” como diz a senhora escritora a certa altura do seu discurso, essa realidade é mui diferente daquela que esplana, na realidade os putos estão nas tintas para Camões que acham uma grande seca, não entendendo muitas das palavras ali usadas, os professores coitados veem-se e desejam-se para lhes enfiar pelo gorgomilo as redondilhas camonianas.
A senhora escritora, produziu uma dispensável aula de História, que claramente a ninguém aproveita, em especial aqueles a que se devia dirigir, ao Povo, tal não fez, dirigiu-se à elite, essa não precisa desse tipo de discurso, sabe-o de cor e salteado, e foge como o Diabo da cruz de o aplicar, a lenga-lenga sobre Sagres, Lagos, comércio da atlântico, achei particularmente pateta a referência a uns quantos “...raptados na Costa da Mauritânia…”, não que o tráfico negreiro não tenha sido, para os actuais padrões, algo de abjecto, mas ficar-lhe-ia bem à senhora escritora, falar dos muitos milhares de portugueses que os piratas norte africanos raptaram para alimentar os mercados do Norte de África, mas isso se calhar era capaz de ser chato, chatas foram as alusões a Cervantes, Shakespeare e demais “historices” todas perfeitamente dispensáveis, pior, foi o “nós agora somos outros”, ora se isso é verdade que sentido fará então estarmos a comemorar o 10 de Junho, Camões e as comunidades portuguesas?
Igualmente o discurso de sua excelência o senhor Presidente da Republica soou um pouco a patetice, a dada altura declara Sua Excelência que “...não há quem possa dizer que é mais puro e mais português do que qualquer outro." Se no caso do “puro” concordo em absoluto, porque é minha convicção que um português racista, é um estúpido ignorante que desconheça a enorme mescla de que somos produto, no que toca ao resto da frase “...mais português do que qualquer outro.", tenho muitas dúvidas, e tenho essas muitas dúvidas por muitos e variados exemplos que vou vendo, as mais das vezes a realidade desmente as intenções e os “nobres sentimentos”, basta por exemplo olharmos para os exemplos dos nossos emigrantes, muitos deles nascidos por esse Mundo fora, são efectivamente muitas vezes mais portugueses do que alguns que nunca saíram de cá.
Resumindo ambos os discursos ficaram aquém daquilo que eu esperava, o “somos”, o “fomos”, mais a restante verborreia passadista, com navegantes e navegações à mistura, parece aquela cassete daquele putativo partido da Esquerda que só tem vitórias e que continua a insistir nas cantigas do proletariado e tal e coiso.
Esperava algo mais na linha da necessidade de realmente construir um país, algo que nos escapa há 50 anos pelo menos, com imigrantes, emigrantes migrantes e mais o que se queira, mas com o máximo de equidade e respeito pela Lei, com informações assertivas sobre Direitos e Deveres, sem deixar margem para dúvidas aos cada vez mais “parasitas” que vivem do trabalho dos outros, esperava um discurso sobre uma Democracia forte onde cabem todos mas com regras claras onde quem prevarica deve ser punido com severidade, para conseguirmos construir um país digno desse nome ao invés desta gaiola de malucas, deste Reino do disparate e do faz de conta que hoje somos, infelizmente ficaram curtos os discursos, demasiado arrastados presos a passadismos, a líricas camonianas e a delírios de habitantes de uma bolha que não é o Portugal que nós o Zé Povinho bem conhecemos ou antes que cada vez mais desconhecemos, não sei se vos assalta esta sensação, mas cada vez mais me sinto estrangeiro no meu próprio país, por isso ao invés de discursos patéticos e patetas, esta gentalha politiqueira deveria estar era a tentar ouvir as pessoas para tentar perceber como é que chegámos a esta miséria moral e a este despertar de extremismos bacocos.
Francisco Pereira
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