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Uma atitude que se esperava!

31-10-2014 - Eurico Henriques

De há muito que era necessário estabelecer uma funcionalidade enriquecedora da Igreja do Divino Espírito Santo, mais conhecida como as Escolas Velhas.

Esta designação de Escolas Velhas é suscetível de provocar dúvidas ou então falsas certezas. Já tive a oportunidade de referir que a Escola e a escolaridade, para a maioria da população, chegou tarde a Almeirim. E estas “escolas velhas” não fogem a esta classificação.

Quem seguir pela rua do Paço é só virar para o Mercado, entrando na rua Febo Moniz. Daí, seguindo à direita, entra na rua da Igreja, alto é rua Dr. João Cesar Henriques. Isto de se dar outro nome, mesmo que tenha sido o primeiro, não esclarece ninguém. Voltemos ao percurso, entrando na rua Dr. João Cesar Henriques encontra-se à esquerda o edifício a que nos referimos. Está na entrada de duas ruas importantes na cidade. Para além da que já referi há a rua da Alagoa, na parte poente.

Possuindo uma torre nela tem instalado um relógio, de dois mostradores, resultado de um concurso público feito pela Câmara Municipal no ano de 1892.

Na frontaria do mesmo, acima da janela, há o brasão da Ordem Terceira da Penitência. Aqui começamos por identificar o primeiro de alguns erros. Já ouvi e li classificações de hospital de S. Francisco, de convento e outros que mais. Esta forma ou tendência de se atribuir nomes ou explicações a determinados espaços e edifícios públicos, na cidade, continua a ser uma surpresa para mim. É que o edifício em causa foi a Igreja do Divino Espírito Santo e pertenceu à Irmandade do mesmo nome. É que em Almeirim, a par de outras oito, também existiu a Irmandade, ou confraria, do Divino Espírito Santo. Esta foi extinta no ano de 1873, por despacho do então Governador Civil de Santarém.

A Ordem Terceira da Penitência foi instituída em Almeirim por Breve do Papa Benedito (ou Bento) XVI. Este chefe da Igreja exerceu o cargo de Papa entre 1740 e 1758. A primeira referência que encontrei sobre a ação desta Ordem refere-se ano de 1748. O Prior de Almeirim, José António de Oliveira Barreto, que exerceu o cargo até 1834, escreveu que esta Confraria se tinha instalado sobre os bens da Irmandade do Espírito Santo, aliás: tinha usurpado os bens da mesma. Foi ele que, em 1826, reativou a dita Irmandade através da organização de novos estatutos. A Ordem Terceira foi extinta após a vitória liberal e de acordo com os decretos de Mouzinho da Silveira.

No ano de 1881 a Junta de Paróquia de Almeirim põe a concurso as obras da Igreja, sendo o mesmo ganho pelo Dr. João Cesar Henriques. Daí, provavelmente, a ideia de que seria um hospital. É que após a extinção da Irmandade os bens passaram à junta de paróquia.

No ano de 1902 já funcionava como Escola. O acrescento que ocupou a parte do altar e sacristia fez-se a partir de 1915, sendo então um acontecimento local pois passou a ser o complexo escolar da vila. Atenção! Não houve derrocada com o terramoto de 1909. Foi demolida para aí se fazer o novo edifício.

Uma vez que a então Escola não satisfazia a procura, dado o número de crianças em idade escolar, o presidente da Comissão Administrativa da Câmara, Sr. Guilherme Andrade Godinho, pede ao governo a criação de mais dois lugares femininos, isto em 1933. Satisfação conseguida no ano seguinte. Fizeram-se novas obras no primeiro andar. Este primeiro andar terá sido construído em 1881, pois a altura da igreja permitia a sua instalação.

O Passo ligado à procissão dos Passos, que estava construído junto à torre do relógio, foi demolido em 1914, por motivos relacionados com a salubridade do local, foi o que se disse.

Hoje apresentámos a proposta para a criação do Centro de Interpretação Histórica de Almeirim. Projeto feito, discutido e aprovado, vai agora iniciar-se a primeira fase que será a de recuperação desse complexo escolar. O interior da igreja será restaurado e o arco que se encontra entaipado e que a separa do outro bloco, será aberto e as funcionalidades do espaço permitirão uma nova leitura.

Esta obra, realizada neste espaço, constitui uma resposta adequada ao desejo de qualificação urbana e, muito importante, histórica da cidade.

Eurico Henriques -   Lic.º em História. Mestre em Ciências da Educação.

 

 

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