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COESÃO TERRITORIAL

21-07-2023 - Francisco Pereira

Há por aí umas três décadas que me dedico a participar em projectos jornalisticos de escrita com artigos de opinião, não sendo jornalista limito-me a cagar postas de pescada, claro que nunca escrevi em grandes jornais nacionais, essa plataforma só está ao alcance dos cães amestrados, eu, sou cão vadio, daqueles escanzelados, famélicos, cheio de pulgas mas que não responde a donos, logo jamais me será permitido colocar um pé em semelhantes locais jornalísticos, por isso o meu pequeno palco foi sempre amador, jornais regionais, blogs e coisas do género, bem sei que nada disto vos interessa, mas serve apenas para aclarar a afirmação de que ando há quase trinta anos a escrever sobre uma realidade a que fui assistindo ao longo dessas três décadas, o abandono e completo desprezo pelo Interior do país, nestes três decénios nem um só dos vários governos que por aqui passaram durante estes trinta anos, foram vários de várias cores, apresentou o que vagamente poderia ser uma linha concreta de desenvolvimento para o Interior ou uma estratégia de defesa da coesão territorial, o que existiu foram “coisecas” no ar, a maioria feito em cima do joelho, executadas a trouxe-mouxe, as mais das vezes apenas para se aproveitarem fundos comunitários, que era preciso gastar, projectos e iniciativas essas, que essencialmente serviram para encher o bolso aos “amigos” das autarquias bem como aos “amigo empresários e empreiteiros”, desses “amigos”, pouco mais portanto se conseguiu, sem prejuízo de uma ou outra iniciativa até ter corrido bem.

Dizem os cânones que o objetivo da coesão territorial consiste, basicamente, em garantir que as populações dispõem dos mecanismos necessários para aproveitar ao máximo as características intrínsecas das áreas onde vivem. Ora meus caros, com algumas excepções, tudo aquilo que os governos centrais de Portugal fizeram nestes últimos trinta anos, foi destruir sistematicamente todos os “ mecanismos necessários para aproveitar ao máximo as características intrínsecas das áreas onde vivem”, desse modo inviabilizando a permanência das populações daí resultando o mais que óbvio abandono do Interior e perigando a coesão territorial, fecharam os correios, fecharam os postos de saúde, fecharam os tribunais, fecharam os postos dos agentes da Autoridade e por fim fecharam as escolas, o Interior estava morto, começavam as “lágrimas de crocodilo” politiqueiras a correr sempre que o tema “desertificação” do Interior vinha à baila, e curiosamente aqueles, os culpados dessa morte, apareciam nos ecrãs televisivos a lamentar esse fenecimento, e espantem-se, propunham até soluções, especialmente se estivessem na oposição, pois se fossem do poleiro o discurso era outro.

Em boa verdade se diga que isto do abandono do Interior com a consequente fuga das pessoas para o litoral, não é um fenómeno recente, entre nós por exemplo esse fenómeno está documentado desde o século XV, desde essas recuadas centúrias que se percebe esse fluxo de fuga, no entanto essa fuga descontrolou-se no último quartel do século XX, pois a essa fuga juntaram-se alterações demográficas profundas com quebras abissais de natalidade, o que se traduziu por um actual completo abandono de vastas áreas do Interior do país.

Tendo então em conta tudo o que atrás se disse, é pois muito estranho que um ministro deste país, diga que construir um aeroporto a meros 80 quilómetros da capital desse mesmo país, é longe, mas foi isso mesmo que declarou há uns tempos o senhor Ministro das Infraestruturas o senhor Galamba sobre a contrução “hipotética” de um aeroporto no distrito de Santarém: "80 quilómetros é longe e não há muitas cidades com aeroporto a 80 quilómetros", o senhor Ministro com esta tirada revelou o que este tipo de gentinha pensa do interior, o que este tipo de gentinha pensa da coesão nacional, para além de revelar que o tipo é um ignorante, existem de facto cidades com aeroportos a mais de 80 quilómetros, podem não ser aeroportos principais mas são aeroportos importantes, por exemplo o segundo aeroporto mais importante de Barcelona, o Aeroporto de Girona fica a cerca de 100 quilómetros da cidade, outro exemplo é o aeroporto de Skavsta que serve Estocolmo, igualmente a pouco mais de 100 quilómetros, muitos mais exemplos existem de aeroportos com grandes volumes de passageiros construídos como complemento de outros aeroportos que ficam a distâncias entre os 60 e os mais de 100 quilómetros de importantes cidades, daí que um ministro ainda por cima das “infraestruturas” dizer que 80 quilómetros é longe, é uma declaração absurda e que denota uma atroz ignorância acerca da realidade, mas que o senhor tem queda para a “ignorância” já todos nós sabíamos, bastou-nos vê-lo lombrigar completamente perdido enquanto Secretário de Estado do Ambiente, numa prestação quase tão imprestável e medíocre quanto a actual prestação enquanto ministro.

Se tivesse sido eu a proferir a frase que o senhor Ministro proferiu, chamar-me-iam quase de certeza, imbecil, ignorante e ou cretino, clamariam pela minha morte, seria provavelmente apedrejado ou zurzido com chibatadas, no entanto como é óbvio ao senhor ministro ninguém invectivou, ninguém questionou toda aquela atroz ignorância. O mais gravoso nem é o senhor Ministro ter dito o que disse, mais gravoso que isso é que aquela frase encerra em sim mesma a visão que estas gentes politiqueiras possuem do Interior, da “província”, uma visão centralista e miserabilista, que ao longo destas quase cinco décadas que levamos de Democracia a única coisa que conseguiram foi fazer com que um terço do país esteja completamente ao “Deus dará” como sói dizer-se, no mais completo abandono e sem qualquer réstia de presença da Autoridade do Estado, essa foi a grande conquista que toda esta tropa fandanga politiqueira que se sucedeu em vagas de assalto à teta do Estado desde 1974 até hoje, tem para mostrar no que à questão da coesão territorial concerne, este facto deveria fazê-los corar de vergonha, mas não, com arrogância e demonstrando a ignorância típica desta gentinha preferem dizer que "80 quilómetros é longe”.

Francisco Pereira

 

 

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