PODER LOCAL
23-06-2023 - Joaquim Jorge
As últimas noticias sobre acontecimentos em Espinho e em Gaia mostram o bom funcionamento da polícia e que não aceitam privilégios ou impunidade, nem mesmo no topo do executivo de uma câmara. Ao mesmo tempo, é notório que o país tem um problema estrutural no poder local, em que há inúmeras situações nebulosas e estranhas.
Os suspeitos serem condenados e terem perda de mandato é outra história, em justiça o ónus da prova é relevante e fundamental. Porém a corrupção não passa sempre pela condenação, mas pela intenção.
O preocupante na política portuguesa é que há casos de condenação e essas pessoas não vivem no ostracismo nem sofrem significativa marginalização social, chegando ao ponto de vencerem, de novo eleições.
Entendo, este fenómeno como uma situação atípica, mas é difícil de enquadrar tal tratamento público da corrupção no padrão da maioria das democracias ocidentais.
Há situações que são legais, mas carecem de ética e não são defensáveis. A isso se chama cinismo.
Não é possível continuar-se a tomar decisões nas costas dos cidadãos.
Os políticos (muitos deles) perderam a dignidade e vergonha. Uma vez no poder devem estar atentos àquilo que fazem e também ao que pensam. Quando se é presidente de uma câmara é-se escoltado, honrado, rodeado de todo o tipo de atenções e a sua influência é grande. Porém, há políticos que antes de serem eleitos são cheios de boas intenções, mas, uma vez em funções, tornam-se uns convencidos, arrogantes e esquecem-se rapidamente de onde vieram.
Imaginam que têm o direito de se permitir a certos caprichos e de fazer tudo o que querem, sem que ninguém tenha nada a dizer.
Hoje em dia as pessoas não têm confiança nos políticos. O poder é “sujo”, que causa uma espécie de pus que chega a infectar toda a sociedade. Esta podridão afecta a nossa democracia.
Joaquim Jorge
Fundador do Clube dos Pensadores
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