Exodus – os novos Moisés Portugueses
26-05-2023 - Rui Santos
Há 960 anos antes de Cristo, Moisés conduziu os hebreus pelo deserto rumo à terra prometida, hoje os jovens Portugueses conduzidos pelo desejo de uma vida melhor, rumam para países de acolhimento, também eles atravessam um novo deserto: o da falta de oportunidades no nosso país.
Portugal, este pequeno país, caracterizado por uma gente simples e humilde, enfrenta mais um desafio, consideravelmente preocupante: a emigração em massa de jovens profissionais, aqueles que são a geração mais bem qualificada de sempre. Nos últimos anos, um número crescente de indivíduos altamente qualificados tem deixado o país em busca de melhores oportunidades no estrangeiro.
Neste artigo tentarei explorar as causas por trás deste fenómeno, examinar as potenciais implicações para a nossa economia e sociedade e explorar os fatores que tornam certos países em destinos atraentes para os nossos profissionais.
Fatores Económicos que Impulsionam a Emigração
Uma das principais razões por trás do êxodo de jovens profissionais portugueses, é o já conhecido cenário económico desafiador (para não dizer quase impossível) pelo qual é Portugal conhecido há décadas. Salários baixos, oportunidades limitadas de avanço na carreira e umelevado custo de vida, têm levado muitos a olhar o futuro noutras paragens. Com salários relativamente estagnados e poucas hipóteses de crescimento profissional, os nossos jovens e talentosos profissionais, são atraídos por condições de vida mais favoráveis noutros países.
Além disso, Portugal tem vindo a enfrentar, nas últimas legislaturas,elevadas taxas de desemprego jovem, o que alimenta ainda mais a emigração desta camada da sociedade. Que é também sensível à valorização das suas capacidades e conhecimento, qualidades reconhecidas noutros países, dada a sua cultura empresarial. Ponto em que alguns empresários portugueses, ainda têm muito para evoluir e neste campo as associações empresariais têm um papel fundamental.
Adicionalmente, o investimento limitado em certos sectores, como tecnologia e inovação, tem criado um vazio para profissionais qualificados em Portugal. A ausência de apoio e oportunidades adequadas nestes campos, tem levado a que profissionais talentosos explorem horizontes mais promissores na europa e no norte da américa, onde podem utilizar em pleno as suas qualidades e contribuir para o avanço dasrespectivas indústrias.
O Papel da Educação
A qualidade do nosso sistema educativo, também tem sido um fator que influi para a emigração de jovens profissionais. Alguns argumentam que o sistema não prepara adequadamente os estudantes para o mercado de trabalho, o que resultanuma falta de competitividade entre os recém-formados, face ao mercado. Esta percepção de inadequação, entre o junior (profissional em início de carreira)e um mercado de trabalho competitivo (repleto de seniors, que mais parecem o Adamastor), resultou num efeito de fuga de cérebros, onde indivíduos altamente qualificados (ainda que juniors),direcionam o seu foco na procura de oportunidades profissionais em países com melhores perspectivas educacionais e de carreira, onde consigam alcançar as suas metas pessoais, profissionais e familiares.
A emigração destes jovens, representa um desafio significativo para o desenvolvimento futuro de Portugal. A perda de capital humano, não apenas enfraquece a capacidade do país de inovar e de se manter competitivo globalmente, mas também priva Portugal das potenciais contribuições económicas e sociais que, esses profissionais, poderiam fazer no seu próprio país.
Setores Mais Afetados pela Emigração
A tendência de emigração, tem tido um impacto profundo em setores específicos da economia portuguesa. A indústria de tecnologia e inovação, por exemplo, tem sofrido com investimento e oportunidades limitadas, o que resulta na fuga de profissionais. A falta de um ecossistema tecnológico vibrante e opções de financiamento, têm levado muitos empreendedores em potencial e profissionais qualificados, a buscar ambientes mais favoráveis no estrangeiro.
Da mesma forma, os setores da saúde e dos cuidados médicos têm sido significativamente afetados pelo êxodo de jovens profissionais. Salários baixos, longas horas de trabalho e condições desafiadoras, têm levado a estes profissionais, incluindo médicos e enfermeiros, a buscar melhores oportunidades noutros países. Esta perda de talentos na área da saúde, representa sérias dificuldades para o nosso sistema de saúde, como tem sido amplamente evidenciado nos noticiários.
Implicações para a Economia
O êxodo de jovens profissionais tem amplas implicações para a economia portuguesa. A perda de mão de obra altamente qualificada prejudica a produtividade, o crescimento económico e a capacidade do país,em atrair investimento estrangeiro. A saída destes profissionais, com a consequente escassez de mão de obra qualificada, afeta tanto as empresas existentes, quanto a capacidade de atrair novas indústrias, que venham a renovar o tecido empresarial do nosso país.
Além disso, a emigração de profissionais com salários elevados, resulta numa redução na receita de impostos para o país. Esta diminuição nas contribuições fiscais,limita ainda mais a capacidade de investimento em infraestrutura, educação e apoios sociais, investimentos necessários ao desenvolvimento de um bom ambiente económico.
Implicações Sociais
A tendência de emigração, tem também implicações significativas para a sociedade portuguesa. A partida de jovens profissionais, acentua o problema do envelhecimento da população do país. Com menos jovens no país, aumenta o ónus sobre os sistemas da segurança social e o serviço nacional de saúde, geram-se assim, grandes desafios para manter a qualidade e a sustentabilidade destes serviços. O que vem revelar que o caminho mais provável, pela sua sustentabilidade (ou falta dela), será a privatização da saúde (na sua totalidade ou em parte) e a redução considerável dos apoios sociais (dos não essenciais ao desenvolvimento económico do país).
Além disso, as desigualdades sociais, são acentuadas, pela emigração de profissionais qualificados. Aqueles indivíduos que possuem maiores recursos e mais habilitações, têm maiores probabilidades de ter os meios e as oportunidades para emigrar, enquanto aqueles sem tais vantagens são deixados para trás.O que perpetua um ciclo de desigualdade e enfatiza o empobrecimento do país, com as consequências conhecidas para a sociedade.
Destinos Atraentes para Profissionais Portugueses
Para entender por que razão, certos países se tornaram ímanes para profissionais portugueses, é necessário examinar os fatores que os tornam altamente atractivos:
a) Economias Fortes e Oportunidades de Emprego:Países como o Reino Unido, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Canadá e países nórdicos, possuem economias robustas e estáveis. Estas nações oferecem uma vasta gama de oportunidades de emprego e potencial de crescimento profissional em setores como finanças, tecnologia, engenharia, saúde e educação. Como é do conhecimento geral, as perspectivas de salários mais altos, melhores condições de trabalho e oportunidades de progresso na carreira, são factores chave, para que estes países sejam considerados como opção para os nossos jovens emigrantes.
b) Um bom Ambiente Empresarial: Muitos dos países de destino cultivaram ecossistemas de apoio a empresas e startups. Oferecem condições favoráveis, como acesso a financiamento, consultoria empresarial, oportunidades de networking e procedimentos simplificados para estabelecer e desenvolverempresas. Isso atrai os profissionais portugueses com mentalidade empreendedora, que desejam criar as suas próprias stratups ou juntarem-se a outras empresas igualmente inovadoras.
c) Oportunidades na Educação e na Investigação: Países como os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha são a casa de universidades e instituições de investigação de renome mundial. Essas instituições atraem profissionais portugueses que procuram realizar estudos avançados, participar em pesquisas e colaborar com os principais investigadoresnas suas áreas de estudo. O acesso a educação de qualidade e a oportunidades de investigação, é um fator atrativo para os profissionais que procuramo seu desenvolvimento e a oportunidade de participarem, com os seus conhecimentos, na evolução das suas respectivas indústrias e campos de investigação.
d) Equilíbrio entre a Vida Pessoal e Profissional e a Qualidade de Vida: Vários países, conhecidos por atrair profissionais portugueses, priorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e oferecem uma alta qualidade de vida. Factores como horários de trabalho flexíveis, leis laborais favoráveis, benefícios sociais adequados, excelentes sistemas de saúde, sistemas tributários justos, infraestruturas bem desenvolvidas,grande variedade de equipamentos culturais, recreativas e sociais (adequados ao seu contexto) contribuem para um elevado padrão de qualidade de vida, desejável por todos e hoje impossível de encontrar em Portugal.
e) Políticas de Imigração: Países como Canadá e as nações nórdicas implementaram políticas de imigração vantajosas, onde facilitaram a entrada e a integração de profissionais altamente qualificados. Com processos simplificados de visto, autorizações de trabalho e directivas claras para a residência permanente ou cidadania, proporcionam uma sensação de segurança e estabilidade para os profissionais que ponderam a sua mudança para estas nações.
Ao oferecer uma combinação destes fatores, os países mencionados posicionaram-se como destinos atraentes para profissionais portugueses, em busca de melhores perspectivas de carreira, recompensas financeiras, desenvolvimento pessoal e qualidade de vida em geral.
Conclusão
A emigração de jovens profissionais portugueses, representa desafios significativos para a economia do país, estado social, desenvolvimento humano e económico. Fatores económicos, oportunidades limitadas de carreira e percepções de deficiências no sistema educacional, contribuíram para o fenómeno da fuga de cérebros. Para mitigar esta tendência, Portugal deve abordar estas questões subjacentes e criar um ambiente que nutra o talento, estimule a inovação e ofereça amplas oportunidades de crescimento profissional.
Além disso, compreender os fatores que tornam certos países atraentes para profissionais portugueses, permite aosnossos políticosa identificação de áreas que necessitam melhorar e, com isso, implementar estratégias para reter e estimular o desenvolvimento de talentos em Portugal. Ao fortalecer a economia, aprimorar os sistemas educativos, apoiar o empreendedorismo e a inovação e criar condições de trabalho favoráveis, Portugal pode reverter a fuga de cérebros e reter os seus jovens profissionais, ao mesmo tempo em que atrai os talentos de outros países, com vista, também, ao desenvolvimento da sua economia e sociedade.
Ao investir no desenvolvimento e retenção de profissionais qualificados, podemos construir um futuro próspero, onde indivíduos talentosos optem por ficar e contribuir para o crescimento do nosso pequeno país, numa economia vibrante e competitiva.
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