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Viagem ao Reino dos Lambekús

28-04-2023 - Francisco Pereira

Dom Beltrão Sarapatão, Cavaleiro Vilão da casa Real, narra a sua Majestade El Rei, por esta via a relação da torna viagem em que aportou e visitou o distante Reino dos Lambekús nas Ilhas da Fantasia pertencentes ao Arquipélago do Faz-de-Conta no grande Mar Oceano dos Impostores, no ano da Graça de Nosso Senhor de mil quatrocentos e sessenta e nove.

Aos 13 dias do Mês de Fevereiro, no dia de São Sinfrósio Anastácio protector dos intrujões, arribou a frota ao Reino dos Lambekús, passadas que tinham sido duas semanas de feras tempestades que por pouco não arruinaram a ventura, em boa hora arribámos a esta enseada, a qual tomamos em nome de sua Sereníssima Majestade e à qual demos o nome de Baía dos Intrujões, por ser achada no dia desse santo padroeiro.

O Reino dos Lambekús, é ele mui pequeno, tem apenas quatro localidades, a cidade capital Lambekuzeirim, onde fica o palácio do Grão Vizir, que é quem manda em estas terras deste Reino, as outras localidades não passam de lugarejos, de pouca gente, de xafaricas de casebres decrépitos e outros trastes, de resto habitadas por vassalos extremosos do Grão Vizir a quem prestam honrarias e encómios em longas e vastas procissões em quase iguais às que em nosso Reino existem, diferindo apenas no objecto e no tipo da devoção, em nosso Reino honram-se os santos, as santas e Deus nosso Senhor, no Reino dos Lambekús, honra-se o Grão Vizir. Dizem os Lambekús que são os habitantes deste Reino que este Vizir é omnipotente, omnisciente e todo poderoso, o dito Vizir retribui todas essas honrarias com bem feitorias nas estradas onde largam pez por cima e ou mais comum festarolas e arraiais onde se empanzinam que nem alarves, donde resultam quase sempre orgias báquicas sempre recordadas, pelos tais alarves comensais.

O Grão Vizir tem uma vasta corte de seguidores e apaniguados, a corte principal dos mais próximos, consta de três espécies distintas, os Capachos, os Mangueireiros e os Sabujos, esta corte responde, aos desejos, às acções bem como aos mínimos anseios, birras e embirrações do Grão Vizir, tal qual os mastins de Vossa Majestade, ou antes, ainda respondem melhor, fazendo fé naquilo que me foi mostrado, que os mastins de vossa Majestade.

O Grão Vizir é mui adorador dos Mangueireiros, tanto que adora vestir um vistoso colete cor de açafrão que os Mangueireiros usam à guisa de fardamenta, sempre que a ocasião se apresenta lá anda ele de colete rodeado de Mangueireiros, que cuidam das mangueiras, uma árvores vistosa que dá agradáveis frutos em especial aos chefes Mangueireiros, que engordam as algibeiras à conta das vastas prebendas que o Grão Vizir lhes dá.

O Grão Vizir possui também uma espécie de guarda pretoriana, que emula a guarda dos imperadores da antiga Roma, são os “Sabujos”, que zurzem e atacam de imediato toda e qualquer pessoa que ousar questionar, invectivar e ou criticar qualquer acção e ou afirmação que o Grão Vizir faça, os Sabujos estão sempre vigilantes e são irredutíveis levando a sua função muito a sério. Por último os Capachos, são a corte mais próxima, aquela que habita no palácio, cumpre sem questionar todas as vontades do Grão Vizir, existem para lhe agradar e fazem-no com todo o desvelo. Toda esta corte, toda esta gente compõem uma enorme teia de clientelas, de subserviências é um gigante sorvedoiro de cabedais do erário público, é a toda esta gente que o Vizir distribuiu, directa e ou indirectamente, de uma forma paternal, os empregos do palácio, as promoções, as reais tenças mais a ocasional atenção, fingida, a que todos respondem abanando o traseiro e quase uivando de prazer, como fazem de modo geral os cães. Aqui não se distinguem as fêmeas dos machos, há até uma competição instalada para ver quem mais e melhor lambe o traseiro ao Vizir, daí o nome deste Reino, o Reino dos Lambekús, que bem descreve os que habitam este estranho Reino.

As ruas desta capital do Reino Lambekuzeirim, são em geral porcas, mal cuidadas, de pedra ou cheias de buracos, um verdadeiro suplício, pior só para aqueles que tem de circular a pé, os passeios estão quase sempre ocupados com todo o tipo de porcarias, rondas de beleguins, que façam cumprir as Leis, também não existem nesta cidade, as pessoas fazem basicamente o que querem, mas os seus habitantes parecem gostar de viver assim nesta anarquia, que aos nossos olhos, mais civilizados, parece estúpida e bárbara, na realidade é, porque o civismo e respeito pelos outros é quase nulo, os Lambekús estão tal com os porcos, tão habituados a chafudar na própria trampa que não se vêem a fazer de outro modo e ai de quem lhes aponte alguma falta, reagem com fúria, acometendo e invectivando o acusador.

Os Lambekús, parecem na sua totalidade um povo apático e patético, uns cabeças desmioladas, um povo enredado na sua pequenez, pouco espertos, mais interessados em comezainas e bebedeiras, pontificam mais pelo lado da imposturice, são no dizer de Frei Cosme, que me acompanhou nas várias visitas que fomos fazendo aqui por este Reino, diz o bem frade que acha os Lambekús “uns megeros pavões”. No meu observar concordo com Frei Cosme, os Lambekús, pareceram-me na sua grande maioria uma manada de bois mansos, gente mesquinha, cobarde, e em demasia lambe botas, mais preocupados em parecer do que em ser, mais preocupados com o faz de conta do que com a miséria em que vivem, estranhas gentes existem neste Reino dos Lambekús, os poucos que desafiam a ordem estabelecida e os corruptos poderes, são apontados a dedo pela maioria, escarnecem deles, chamam-lhes nomes, além de incorrem na ira e pronta vingança do Grão Vizir.

Depois de fazermos águada, partimos o mais prestes que nos foi possível, aproveitando os bons ventos, sem levarmos saudades deste Reino dos Lambekús, um sítio estranho, doentio e deprimente, nunca nas várias viagens que fiz, ao serviço de sua Magestade, me deparei com tantos e tão rematados, impostores, intrujões, farsantes e trapaceiros como vi em tão pródiga quantidade medrar neste Reino dos Lambekús, uma terra que só vista, para perceber a sua realidade.

Um criado de vossa Alteza Real

Beltrão Sarapatão, Cavaleiro Vilão da casa Real.

P.S. - Comemoraram-se esta semana, numa infeliz e medíocre cerimónia, agradeçam aos seus vários protagonistas, na cada vez mais patética Assembleia da Republica, os 49 anos do 25 de Abril de 1974, como se pode ver, Portugal está em plena regressão, falta cumprir o sonho de Abril, a esperança desse Abril redentor está cada vez mais mirrada.

Francisco Pereira

 

 

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