IRONIAS – QUESTÕES POLÍTICAS E HUMANITÁRIAS
17-02-2023 - Francisco Garcia dos Santos
Gostava de não escrever estas linhas, pois, infelizmente, as mesmas devem-se à catástrofe humanitária e material que assola a Turquia e a Síria, mas, ao que consta, parece que mais gravemente aquele país membro da NATO.
Nunca tive o Presidente turco Erdogan como grande democrata e tolerante. Aliás, até à sua chegada ao “poder”, o Estado Turco, cuja esmagadora maioria da população é islâmica, embora tenha uma parte cristã (uma ortodoxa e outra católica romana, ambas com liberdade de culto), era mais ou menos laico, tendo a partir de 2002, enquanto Primeiro-Ministro, e após 2013 até nossos dias como Presidente da República num sistema puramente presidencialista “musculado”, o laicismo tem vindo a perder terreno face ao islamismo, Erdogan a tornar-se cada vez mais autoritário, e, enquanto Chefe de Estado dum país da NATO, mais dúbio e menos fiável face aos seus aliados -recordemos a compra pela Turquia de sitemas sofisticados de defesa à Rússia de Putin e seu comportamento aos ziguezagues após a invasão da Ucrânia pelas tropas russas e mercenários do actual “Czar” desde há cerca de um ano.
Após a invasão do Leste da Ucrânia pelas tropas russas e mercenários de Putin, a posição de Erdogan, enquanto “membro” da NATO,tem sido, no mínimo, “singular”, para não dizer dúbia. É como aqueles que tentam “agradar a gregos e a troianos”, mas que, invariavelmente, segundo reza a História, “acabam mal”!
Mas, para além de com Erdogan a Turquia ter vindo progressivamente a ser cada vez menos um Estado laico e mais islamita, aquele tem-se assumido desde há muitos anos como um verdadeiro autocrata encapotado, intolerante face a quem dele discorda e/ou se lhe opõe, para além de manifestamente desrespeitar os legítimos direitos humanos, civis e políticos da Nação Curda, a qual, não se resume estrictamente ao PKK – Partido dos Trabalhadores do Curdistão (esquerdista), que desde 1984 enveredou pela luta armada face ao poder centralizador e dominador de Ancara, mas a uma esmagadora maioria de um Povo que se estende pelo Norte da Turquia até ao do Iraque.
Ora, foi precisamente com sucessivos pretextos políticos relacionados com os curdos, e depois com um certo fundamentalismo islâmico, que Erdogan tem criado obstáculos à adesão da Suécia à NATO, adesão essa que, para quem não saiba, tem de ser votada favoravelmente e por unanimidade pelos Estados que integram a Aliança.
Pois bem, voltando ao início destas linhas, pergunto: face à catástrofe sísmica que assolou a Tuirquia e seu Povo devido ao recente terramoto, Erdogan dispensará a parte da ajuda europeia e da ONU que compete à Suécia?
Para coerência pessoal e política de Erdogan, julgo ser seu dever vir a público perante as tvs internacionais recusar toda e qualquer ajuda que a Suécia possa dar aos turcos neste seu momento dramático.
Francisco Garcia dos Santos
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