FACEBOOK DE DOUTORES
13-05-2022 - Joaquim Jorge
Apercebi-me que o Facebook, recentemente, virou queima das fitas, os filhos dos meus “amigos” vão ser todos doutores. Onde nasci e passei a minha infância, agora, são pais ( alguns conheço) não me gramavam por que eu tirei um curso há cerca de 44 anos, mas agora é só armanço. As pessoas revelam-se...
Meus amigos ter uma licenciatura hoje em dia é normal. O que é importante é os vossos filhos serem felizes e terem um bom emprego.
Um pouco mais de contenção e descrição. O Facebooké um campo de alarde, de bons carros e de locais de férias, agora é um local de cursos, muitos deles tirados numa universidade privada ( bem pago). Porém, acho que o Facebook devia ser um local de boas maneiras, saber estar e de aprendizagem.
Há uma pseudo-elite de Lisboa que está no Twitter e não se quer misturar com a plebe do Facebook. Porém o Facebook se for bem utilizado é deveras interessante, já me permitiu encontrar pessoas amigas que já não via há muitos anos.
Convém explicar que uma licenciatura pós- Bolonha ( 3 anos) é o equivalente ao bacharelato (3 anos) pré- Bolonha. O mestrado pós- Bolonha ( licenciatura, 3 anos + 2 anos), que é o equivalente a uma licenciatura pré-Bolonha ( 5 anos). Só para esclarecer.
O problema do nosso país, evidentemente, que não se pode generalizar, mas é um traço marcante – o exibicionismo.
Esse exibicionismo mostra uma educação deficitária. Toda a gente tem orgulho nos seus filhos e quer o melhor para eles, mas também têm que perceber as figuras que faz.
Como há novos-ricos que têm necessidade de mostrar o que têm e o que compram, também há os novos-ricos intelectuais que têm necessidade de dizer que têm um curso e que são doutores. Isso mostra provincianismo.
Como diz um amigo meu, “muita gente saiu da aldeia, mas a aldeia não saiu deles”.
Ser licenciado deve ser algo que se alcança com naturalidade para poder-se entrar-se no mundo do trabalho e satisfação pessoal.
Sou licenciado há 44 anos, por uma universidade pública e nunca precisei de dizer a quem quer que fosse que o era.
Este país tem que evoluir em mentalidade. Estou farto de doutores a armarem-se, e a maioria está no desemprego.
Sempre tivemos a mania, é por isso, que Portugal está na cauda da Europa. O que se deve fazer é dignificar qualquer profissão e ser reconhecida socialmente, respeitando-se as suas idiossincrasias.
Não vejo no Facebook, ninguém a dizer que o seu filho tirou o curso de picheleiro, eletricista, serralheiro, jardineiro, construção civil, etc., porém, são os mais bem remuneradas.
Se calhar, vamos ter que alterar a terminologia, para este tipo de profissões e elevá-las à condição de doutores: doutor picheleiro, doutor serralheiro, doutor jardineiro, etc.
As pessoas devem usar unicamente o seu nome que é a coisa mais bonita que têm e deixarmo-nos de discriminações e etiquetas presunçosas e parolas. O nome, assim como, o bom nome de uma pessoa é algo que não há licenciatura ou dinheiro que pague.
Joaquim Jorge
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores
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