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OS OLHOS DO COSTA

13-05-2022 - Francisco Pereira

É Domingo de Páscoa, rumo à capital em visita pascal aos meus sogros, é quase meio dia, está já um trânsito inusitado, ei-los que regressam, vindos das berças, vindos de um fim de semana alargado de comezainas pascais, do outro lado circulam os que vão procurar um almoço naquele restaurante que o amigo lá do emprego disse que era espectacular, bem se percebe que está em marcha uma espécie de “libertação pascal”, o dia já está quente, sigo pela faixa mais à esquerda, mantenho uma velocidade média entre os 100 a 120 por hora, para poupar combustível, mesmo que o meu carripano seja poupadinho, se eu o ajudar conduzindo com tino, melhor, o mais curioso, é que sou ultrapassado por todos, ou seja aquela Lei do limite de velocidade, esqueçam, ninguém cumpre, é só mais uma.

Imagino o Costa a olhar para as câmaras de vigilância refastelado a debicar uns amendoins com uma mini bem fresca, os olhos dele nem pestanejam, olha para a velocidade despreocupada dos condutores, ninguém parece preocupado com o preço dos combustíveis, carros novos em barda, mercedes, bmw’s, audi’s, ocasionalmente surge um porshe ou um ferrari, já os teslas são cada vez mais, um país rico portanto, é isso que os olhos do Costa vêem.

Quanto a mim, lá continuo, olha vou ultrapassar um camião que segue carregado, um monstro mecânico que vai resfolgando, emitindo gemidos e silvos enquanto galga a estrada, apertado pela subida, chia incomodado, será o único veículo que ultrapasso em 80 quilómetros de auto estrada, os outros circulam demasiado rápido, impetuosos de chegar a um qualquer sítio, passam por mim assobiando, devem achar-me um cepo, um pobre coitado, pois que achem pouco me interessa.

Enquanto isso os olhos do Costa não param, vai contabilizando os carrões, as máquinas novas, - sim senhor – pensa alto o Costa – carroças novas, topos gama em barda, além dos labregos que ainda gastaram dinheiro a trocar de matricula para terem um carro velho com uma matricula nova, sim senhor e depois quando os vemos na televisão é só queixarem-se, que está mau e mais não sei quê, quem tinha razão era o Coelho pá, isto são só piegas.

Pois quem vê o auto estrada aquela hora, alguém que não conheça a realidade deste país, pensará seguramente que está numa das mais importantes e pujantes economias da gasta Europa, quando a realidade é o oposto, Portugal não tem economia digna desse nome, há décadas que vivemos de mão estendida, somos os campeões da pedinchice, por isso é que por cá os madraços subsidio dependentes se dão tão bem.

Na seguinte segunda-feira, antes de entrar ao serviço, passo pela pastelaria do costume, que convenientemente fica perto do meu local de trabalho, é paragem obrigatória matinal para beber um café com uma rapaziada amiga que ali se junta para espairecer antes da hora da “ferra”, dando dois dedos de conversa, discutem-se ali todo o tipo de assuntos, dos casos de política internacional ao sempre eterno futebol.

Ficamos normalmente junto a uma mesa de pé alto, não nos sentamos, até porque por norma, as mesas estão ocupadas, essencialmente, e diariamente, por reformados a enfardar meias de leite e bolinhos, sempre a queixarem-se de quão pouco recebem, enquanto mais ao fundo está a trupe dos subsídio dependentes, sempre prontos a reclamar mais direitos, eles a afogarem-se em cerveja e bagaços, elas e os fedelhos, que a esta hora deviam já estar nas salas de aula, a enfardarem bolos rasos de creme e refrigerantes açucarados, esta é uma imagem comum deste país, em milhares de pastelarias em milhares de cidades, vilas e aldeolas deste pais, enquanto isso os olhos do Costa não param, contabilizando a estúrdia e tomando notas.

Uns metros ali ao lado existe um daqueles estabelecimentos onde se vendem jogos sociais, lotarias, raspadinhas e assim, eu e os meus amigos, vamos constatando o corropio diário, de gente que gasta ali diariamente quantias interessantes, velhinhas de ar remendado, todos os dias compram raspadinhas, falcatos de ar gasto, arranjam sempre dinheiro para o maço de tabaco e para registar apostas em vários jogos, o mesmo vemos gente que sabemos desempregada que vive com dificuldades, parece impossível mas aquele estabelecimento pede meças no que à quantidade de gente que lá entra, à pastelaria vizinha, muito dinheiro se desbarata, e os olhos do Costa atentos.

Os olhos do Costa, vêem então um país rico, onde se gastam diariamente fortunas em pequenos-almoços hiper calóricos, em jogatanas, em combustíveis, em especial gente que se diz “pobre”, os olhos do Costa olham para esta realidade e regozijam com tal facto, afinal a tal “pobreza” é de espírito, porque os gajos estão cheios de bago, pensa o Costa enquanto à sua cabeça, aparece a frase do outro “...ai aguentam, aguentam…”

Francisco Pereira

 

 

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