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“9 DE ABRIL” - BATALHA DE LA LYS E “DIA DO COMBATENTE”

29-04-2022 - Francisco Garcia dos Santos

Em 9 de Março de 1916,na vigência da I República, sendo Presidente Bernardino Machado e Presidente do Conselho de Ministros (Primeiro Ministro) António José de Almeida, Portugal entrou formalmente em guerra com o II Império Alemão e seu aliado Império Áustro-Húngaro, ou seja, na Grande Guerra de 1914-1918, também conhecida por I Guerra Mundial. Tal verificou-se como consequência do “pedido” da sua velha aliada Inglaterra para aprisionar todos os navios alemães que se encontrassem aportados ou fundeados em portos e águas nacionais, ao que o Governo português acedeu; depois, a entrada na Guerra também foi justificada em termos políticosinternosmediante o argumento de que se o nosso Paísfosse beligerante ao lado dos “Aliados”(França, Império Britânico/Inglaterra, Itália, Estados Unidos da América, Canadá, etc.) contra a aliança Germânico-Áustro-Húngara conseguiria, em caso de provável vitória “aliada”, manter as suas Colónias africanas de Angola, Guiné e Moçambique, pois conseguiria, como veio a conseguir, um lugar à “mesa das negociações”, o que veio a ocorrer aquando da celebração do tratado de Versalhes em 28 de Junho de 1919, o qual entrou em vigor em 10 de Janeiro de 1920 isto após o “armistício” verificado em 11 de Novembro de 1918 em Compiègne (França), mediante a capitulação daqueles Impérios face aos “Aliados”, tendo ficado assim Portugal na posição de Estado vencedor e alcançado o seu objectivo de manutenção das ditas Colónias.

Em terras de África, sobretudo no sul de Angola e norte de Moçambique, as tropas portuguesas bateram-se contra as alemãs estacionadas nas ex-colónias germânicas do Sudoeste Africano, hoje República da Namíbia, e Tanganica, atual República Unida da Tanzânia, respectivamente.

Masa participação de Portugal na Guerra teve maior relevo na Europa, ou seja, na Flandres francesa (junto às fronteiras da França com a Bélgica e a Alemanha) mediante o Corpo Expedicionário Português dotado de 55.000 efectivos e cujo Comandante foi o Tenente-General F. Tamagnini. Este Corpo de Exército, composto por duas Divisões, sendo a 2ª comandada pelo então Major-General Manuel de Oliveira Gomes da Costa (mais tarde honrado com a patente honorífica de Marechal), foi a que combateu na Batalha de La Lys travada de 9 a 29 de Abril de 1918, sendo aquela que historicamente é considerada como a segunda maior derrota do Exército português a primeira sucedeu na Batalha de Alcácer Quibir ocorrida em 4 de Agosto de 1578, em Marrocos.

A Batalha de Alcácer Quibir travou-se no local do mesmo nome no norte marroquino, situado entre as cidades de Tânger e de Fez, na qual as tropas portuguesas e outras europeias de países aliados, chefiadas pelo próprio Rei D. Sebastião, e outras do seu aliado Sultão Mulei Maomé (Abu Abdalá MaoméSaadi II), que também comandou as suas, ambas contra as do sobrinho deste último, o Sultão Mulei Moluco (Abu Maruane Abdal Malique I), as primeiras foram chacinadas e desbaratadas pelas deste, tendo agrande maioria dos representantes da velha nobreza de Portugal sido morta, ficado desaparecida e feita prisioneira. Curiosamente, os dois monarcas marroquinos perderam a vida na batalha, e no caso do Rei português, quiçá por conveniência política portuguesa e espanhola, foi considerado desaparecido em combate. Em termos de baixas, os portugueses e seus aliados sofreram 9.000 mortos e 16.000 presos; já as tropas suas inimigas sofreram 3.000 mortos, 1.000 desaparecidos e 6.000 feridos.

Na história de Marrocos, devido a nessa refrega se terem confrontado, desaparecido o Monarca português e morrido os dois Sultões marroquinos, é conhecida pela “Batalha dos 3 Reis”.

Voltando à Batalha de La Lys, o facto de a 2ª Divisão portuguesa ter sido dizimada na mesma, a qual sofreu 1.341 baixas mortais, 1.932 desaparecidos e 7.440 prisioneiros, acabou por se tornar numa vitória para os “Aliados”, já que a sua heróica resistência face ao avanço das tropas germânicas, retardou o mesmo e permitiu às Divisões britânicas da retaguarda concentrarem-se/reagruparem-se e impedirem o inimigo de as “partir ao meio” e progredir até á foz do Havre (o 2º porto de mar mais importante de França sito na costa do Canal da Mancha; o mais importante é o de Marselha na costa do Mediterrâneo), o que poria em sério risco o reforço da frente norte dos “Aliados” em homens e logística com origem em Inglaterra e prolongaria a guerra.

Assim, devido ao sacrifício das tropas portuguesas a Guerra abreviou-se, tendo, como acima ficou escrito, terminado pouco mais de seis meses após La Lys, o que ocorreu com a capitulação da aliança germânico-austro-húngara a 11 de Novembro de 1918.

Assim, o “9 de Abril” passou a ser comemorado em Portugal como um misto de derrota e de vitória, mas sobretudo como um “marco” da heroicidade dos soldados portugueses, e mais tarde instituído como “Dia do Combatente”.

Tal originou a fundação da Liga dos Combatentes em 1923, oficializada por “Lei” em 29 de Janeiro de 1924, tendo a respectiva Delegação de Estremoz (hoje Núcleo dessa minha cidade natal e ancestral de Família há pelo menos 175 anos), sido criada em 11 de Novembro de 1925, a qual, não obstante várias dificuldades, conseguiu erigir em 1945 um dos mais belos e expressivos monumentos de homenagem aos Combatentes da Grande Guerra existente em Portugal e não só com grande pedestal em mármore branco característico daquela cidade e seu concelho, e simulação duma trincheira na mesma pedra, com três estátuas em bronze de soldados e em tamanho natural, onde um soldado dispara a sua metralhadora, outro jaz morto e o último se encontra em queda ferido de morte. Hoje, tal monumento também evoca os Combatentes de Estremoz mortos em campanha na Guerra do Ultramar (1961-1974) mediante lápide de mármore branco colocada frente à parte dianteira do mesmo tendo inscritos os nomes dos mortos.

Anualmente, no Domingo imediatamente seguinte ao dia 9 de Abril, o Núcleo de Estremoz da Liga conjuntamente com o Regimento de Cavalaria Nº 3 “Dragões de Olivença”, a actual Unidade mais antiga do Exército português e aquartelada desde 1875 na Cidade, evoca em cerimónia militar junto ao monumento a Batalha de La Lys e o Dia do Combatente, honrando os seus mortos.

A esta comemoração procuro nunca faltar, até porque com grande orgulho sou sócio extraordinário da Liga dos Combatentes inscrito por aquele Núcleo, o qual é de todos o que conta com mais sócios inscritos (cerca de 2.000).

Deste modo, e porque a história e a memória colectiva não deve ser perdida na bruma dos tempos, aqui deixo estas singelas palavras de recordação daqueles que um dia, independentemente das circunstâncias sócio-políticas nacionais e internacionais, deram a vida ao serviço da Pátria.

Nota: Sobre a Batalha de La Lys vide “A 2ª Divisão Portuguesa Na Batalha de La Lys (9 DE Abril de 1918)” da autoria do Major Vasco de Carvalho e prefaciado pelo T.Gen. F. Tamagnini, cuja 1ª edição data de 1924 e a 2ª edição de 2016 pela Liga dos Combatentes.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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