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PUTIN E “OS IDOS DE MARÇO”

04-03-2022 - Francisco Garcia dos Santos

A invasão da Ucrânia por tropas da Federação da Rússia, sendo previsível, julgo que ninguém esperava -pelo menos os mais atentos a questões de geopolítica e geo-estratégia como eu (perdoe-se-me a imodéstia) e reputados militares meus amigos-, que fosse além da ocupação das auto-proclamadas Repúblicas separatistas pró-russas de Donetsk e Luganks fronteiriças da daquela e com significativas comunidades de população de origem russa, à semelhança do que sucedeu com a ocupação da Abcásia e Ossétia do Sul, outrora territórios da Geórgia, e depoisda Península da Crimeia, esta ucraniana.

Em ambos os casos, as reacções do Ocidente -leia-se países da NATO, UE e seus aliados- foram “pífias”, ou seja, não tiveram qualquer efeito negativo de monta na economia da Federação da Rússia e nas mega-fortunas dos seus oligarcas, os quais são pilares indispensáveis à manutenção no poder de Vladimir Putin há 22 ou 23 anos, se se considerar o seu breve consulado de Primeiro Ministro do Presidente Boris Yeltsin em 1999, até porque foi Putin que lhes proporcionou fazerem mega-fortunas em muito poucos anos, não só em dinheiro depositado em contas bancárias de bancos ocidentais, em sucursais dos mesmos em “paraísos fiscais” europeus como o Luxemburgo e a Suíça, mas também por outros espalhados por esse Mundo fora, e em aplicações financeiras (acções, obrigações e fundos de investimento) negociáveis nas grandes Bolsas do Mercado de Capitais e de Mercadorias de Nova Iorque, Chicago, Londres, Tóquio, Hong Kong e Singapura.

Este passado “putinista” relativamente recente, face à respectiva “distração” ou negligência dos países ocidentais e seus aliados, terá feito com que o Presidente russo prosseguisse na sua tentativa de reconstruir o “espaço vital” ou“anel de países tampão” em redor da Federação da Rússia, o que em termos geopolíticos e geo-estratégicos é compreensível, tendo começado por “fidelizar” as Repúblicas da Ásia Central que com ela fazem fronteiraaté à presente invasão da Ucrânia.

Portanto, se Putin chegou onde chegou, tal deve-se à inércia dos países da NATO e da EU face ao seu gradual expansionismo imperialista, antes se preocupando com guerras no Médio Oriente, como as do Iraque e do Afeganistão, e bem assim como as decorrentes da dita “Primavera Árabe”, as quais destroçaram ou desestabilizaram países muito importantes da bacia do Mediterrâneo, como a Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto e Síria, todos eles “tampões” da Europa face ao islamismo radical, desde a Al Kaeda até ao ISIS.

Mas se Putin não se satisfez com a anexação da Península da Crimeia em 2014, tendo na Europa como aliada a Bielorrússia, já que não estava disposto a enfrentar directamente a NATO no nordeste da Europa, que integra a Polónia e as Repúblicas bálticas da Estónia, Letónia e Lituânia, procurou a sudeste anexar ou tutelar a Ucrânia e, ao mesmo tempo, como há dias disse perante as tvs, intimidar a Finlândia e a Suécia, que, embora sendo membros da EU, não pertencem à Aliança Atlântica.

Quando há alguns dias a Federação da Rússia desencadeou a guerra de ocupação da Ucrânia, talvez Putin não tivesse avaliado ou previsto bem a capacidade de resistência das Forças Armadas da Ucrânia e a onda de solidariedade para com a mesma por parte dos países da EU, NATO e seus aliados, bem como da grande maioria dos Estados membros da ONU, solidariedade essa que se tem vindo a traduzir no fornecimento de material bélico ao Estado ucraniano e de graves sanções económico-financeiras contra a Rússia em geral e aos seus grandes oligarcas em particular, os quais pertencem ao círculo “íntimo” de Putin e, por interesses pessoais, o têm sustentado no poder -isto para já não mencionar uma parte relevante da população russa, sobretudo jovem, academicamente bem formada e informada, à qual nada lhes interessa um conflito com o Ocidente, pois é neste onde consegue boas carreiras profissionais nas suas grandes empresas. Depois, por cada dia de guerra que passa, as baixas (mortos e feridos) das tropas russas vão aumentando, e à medida que os caixões com rapazes russos forem chegando a “casa”, a oposição interna à guerra, que já se vai sentindo em termos populares, tenderá a aumentar.

Voltando às sanções económico-financeiras que os países da EU, NATO, Suíça, Austrália, Japão e outros têm vindo a aplicar à Federação da Rússia, mas também à respectiva oligarquia, congelando os seus patrimónios e impedindo os respectivos negócios, o que significa para os mesmos a perda de muitas centenas de milhar de milhões de Euros e de Dólares norte-americanos, resta saber até quanto e a que ponto estes apoiantes de Putin estarão dispostos a perder e a apoiar o Presidente russo.

Ora se estes grandes oligarcas não se dispuserem por muito tempo a perder as suas mansões, aviões iates e milhares de milhões de Euros, Dólares norte-americanos e Libras Estrelinas, poderão individual ou concertadamente retirar o apoio a Putin, colocando-o na situação de Júlio César, primeiro aclamado e nomeado pelo Senado da República Romana clássica como Cônsul ditador perpétuo, o qual, ao fim de dez anos, foi apunhalado até à morte por vinte ou trinta senadores no próprio Senado, nos famosos “idos de Março”.

Com isto não quero significar que Putin possa ser assassinado pelos seus “amigos” oligarcas, ou a mando deles, mas se estes lhe retirarem o apoio político e financeiro duvido muito que consiga manter-se por muito mais tempo no poder.

Neste momento, o tempo corre contra Putin!

Francisco Garcia dos Santos

Deputado municipal de Lisboa pelo Partido da Terra MPT

 

 

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