Ainda estamos num tempo assim?
17-10-2014 - Eurico Henriques
Todos consideramos que o direito à participação na vida pública trouxe melhorias assinaláveis para a nossa afirmação como democratas e interventores livres. Podemos fazer comentários, criticar posições de outrem, sugerir coisas e comportamentos diferentes. É como que um mundo novo, que os jovens de hoje vivem e desfrutam.
Mas há que se ter em linha de conta que tudo isto não apareceu caído do céu. Houve tempos em que não podíamos ter nem exercer nenhuma destas atividades, a não ser que quiséssemos perder o emprego ou, mais ainda, ir para a “gaiola”. Houve um tempo – e isto é quase que lembrar as histórias da carochinha – em que o poder é que determinava o que era bom e o que era mau. Escolhiam e debitavam.
Eu estava a considerar que tudo isto era passado, que se lembra mas não se repete. Estava é uma forma prosaica de sentir a realidade. Porque não é lógico impedir manifestações de conhecimento e de atuação. Só porque não nos agradam ou vão de encontro ao que defendemos.
Há umas semanas – talvez duas – ouvi e vi – a televisão ajuda-nos nesta dualidade de obtenção de informação e conhecimento – uma “briga” na Assembleia da República. Melhor dizer: havia uma exposição sobre os Presidentes da República (ainda há), mostrando os bustos dos mesmos. E vai daí um deputado do PCP e outro do BE entram em pé-de-guerra. T’arrenego satanás, estamos a ressuscitar o fascismo. Expor esses bustos é branquear o dito regime.
No meio deste alarido dei comigo a analisar os comportamentos e ações dos regimes que estes dois deputados defendem. Hoje já não existem, ou então caíram em extremismos tais que não vale a pena assinalar.
Nós não podemos branquear a história. Os factos que ocorreram no passado não são passíveis de adulteração ou transformação. Foram, deram-se, isso aconteceu. A nossa história de Portugal é isso mesmo. E todas as Histórias de todos os povos. É claro que os regimes autoritários e obscurantistas procuram glorificar-se anulando os outros.
Mas esse tempo deixou marcas tão profundas que foram os próprios povos enclausurados nesses ditos “idílicos” regimes, que se levantaram e mudaram os seus países.
Realizar um ato Cultural, que procura o conhecimento e a reflexão, não é ressuscitar. Ninguém pode impedir o conhecimento do que foi o Estado Novo e do que fez. Simplesmente existiu e realizou. Compete-nos avaliar e interpretar os factos de acordo com esta nossa nova forma de ver e de sentir a liberdade.
Já agora fazia uma pergunta: o que fizeram aos senhores do BPN e do BES? Aí é que está a minha surpresa.
Eurico Henriques.
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