Edição online quinzenal
 
Quinta-feira 28 de Março de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

O "VOTO" DOS INDIFERENTES

18-02-2022 - Pedro Pereira

É cada vez mais evidente não só em Portugal, mas em toda a Europa comunitária, como exemplos mais próximos, o divórcio crescente entre eleitores e candidatos eleitorais sejam elas eleições autárquicas, legislativas ou presidenciais, entre a maioria dos eleitores e dos eleitos.

Esse divórcio manifesta-se de acordo com o crescente e preocupante índice de abstenção. Os casos recentemente verificados nas eleições regionais autárquicas um pouco por todo o país – cerca de cinquenta por cento, e em alguns casos a raiar os 60%, caso de Portimão, é bem exemplificativo, dos índices abstencionistas, não trazendo nada de tranquilizador numa democracia que se quer saudável, “fenómeno” que vem crescendo desde há algumas décadas para cá em todo o território nacional.

De nada adianta a atitude autista por parte de muitos políticos, no faz de conta que é "normal". Não é preocupante, é grave.

Lutámos quase cinquenta anos para conquistar de novo o direito de voto e agora que o temos não o usamos. Porquê?...

Não estará chegada a altura de reflectirmos profundamente sobre esta triste realidade?...

Causas?... Pois costuma-se dizer que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Os culpados somos todos nós, que nos demitimos de exercer plenamente o nosso direito de cidadania, não militando em partidos, não participando em actividades associativas, – pois se até os sindicatos atravessam uma grave crise - não exigindo os nossos mais elementares direitos, aqueles que até estão consignados em corpos de leis, aceitando resignados como os burros de carga ao dorso a "fatalidade" de sermos um país pequeno onde se produz pouco e mal, distanciando-nos cada vez mais rápidos nos nossos vizinhos espanhóis, para não falar dos restantes parceiros comunitários.

Nós, os mais antigos, voltamos a ouvir de novo frases salazarentas como: "pobrezinhos mas honrados", "é o destino", "a política é para os políticos" ou a variante, "eu não sou político".

Triste mentalidade sobrante de um regime opressivo. O velho e caduco regime caiu em poucas horas abrindo o caminho à democracia, mas as mentalidades herdeiras da cultura salazarista não mudam em horas, já levam décadas e esperemos para bem de todos nós que não leve muitas mais.

Os regimes podem mudar em minutos, mas as mentalidades levam anos.

A maior parte do povo é letrado, mas analfabeto funcional. Lê pouco e mal e os museus pouco mais são do que desertos decorados, por exemplo. Mas a populaça digerem horas de telenovelas, de concursos e programas televisivos bacocos, indigentes, acéfalos, abaixo de cão. Triste sina a nossa.

Sejamos honestos: parte da culpa deste panorama cabe a larga faixa da classe política, porque não basta governar para os cidadãos, tem de se governar com os cidadãos.

Quantos eleitores sabem quem são os representantes do seu círculo na Assembleia da República?... E quantos dos eleitos convivem com os seus eleitores?... Auscultam os seus problemas visitando as populações das regiões, concelhos ou locais por onde foram eleitos?...

O divórcio começa aqui. É como nos casamentos: falta o diálogo e sem diálogo não existe entendimento.

A maior parte dos detentores de cargos públicos quando eleitos, distanciam-se à velocidade de luz dos seus eleitores. Tornam-se intocáveis, incomunicáveis, "esquecendo-se" que a democracia se constrói todos os dias de mãos dadas.

Por outro lado, os partidos políticos são pouco abertos ao exterior, porque a verdade é que se quiserem abrir tem de ser imaginativos, transformando as suas sedes em fóruns permanentemente abertos a debates de ideias, mesmo para os que não são seus militantes, saindo inclusivamente fora das suas portas intervindo nesse mesmo sentido, ou seja: promovendo o debate, a discussão permanente de tudo aquilo que interessa e preocupa os cidadãos.

A maior riqueza das nações reside na sua massa cinzenta e para a sua formação os partidos políticos tem um papel importante a desempenhar, sob pena virem a contribuir com a sua quota-parte para aquilo que ameaça transformar Portugal a médio prazo, ou seja: num imenso deserto de forças de vontade, de indiferentes, exportador de mão de obra qualificada e importador de mão obra desqualificada paga e explorada miseravelmente.

Pedro Pereira

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome