LEGISLATIVAS 22 - O TERRAMOTO POLÍTICO
04-02-2022 - Francisco Garcia dos Santos
Ao longo da campanha eleitoral fui escrevendo e dizendo a amigos e conhecidos que até ao passado Domingo tudo seria possível. Porém, este “tudo” tinha limites, os quais eram o PS ou o PSD poderem vencer as eleições mas sem maioria absoluta, o Iniciativa Liberal (IL) não vir a ser o 4º partido com assento parlamentar, o CDS manter uma representação mínima (3 deputados) na Assembleia da República (AR) e o Livre (L) nãoconseguir eleger Rui Tavares.
Face ao resultado das eleições, não só admito que me enganei rotundamente, como fiquei estupefacto com o mesmo, pois os “limites” que acima referiforam largamente ultrapassados, sobretudo no caso do CDS, partido fundador desta III República, que não conseguiu eleger qualquer deputado, assim como o PCP-CDU cujos candidatos do Partido Ecologista os Verdes (PEV) não terem sido eleitos.
Quanto aos demais partidos com assento parlamentar decorrente das eleições legislativas de 2019, em que o L até elegeu aquela figura caricata e esdrúxula denominada Joacine Katar Moreira, mas que logo foi expulsa do Partido, já esperava subidas significativas do Chega (CH) e do (IL) e descidas acentuadas do PAN, PCP-CDU (PCP) e BlocodeEsquerda (BE), mas não tanto;e pela positivaa eleição de Rui Tavares peloL e o IL ter superado o PCP e o BE, tornando-se o 4º maior partido na Assembleiada República (AR).
Agora que esperar do futuro?
Se nos últimos 6 anos de governação socialista, ainda que sem maioria absoluta, assistimos ao maior nepotismo jamais visto em Portugal (maridos e mulheres, filhos e parentes como ministros e secretários de estado ou nomeadospara os mais altos cargos de nomeação política da Administração Pública, ainda que sem a mínima competência para o desempenho das funções dos respectivos cargos), d´hoje em diante, com maioria absoluta, é de esperar o pior. Depois, com as dezenas de milhar de milhões de Euros da chamada “bazuca europeia”, auguro um aumento da corrupção e de favorecimento pessoal de membros e amigos do PS. Veremos!
O PSD continuará a sua “travessia do deserto” e conhecerá um novo líder que não imagino quem possa ser, já que do meu ponto de vista será a prazo, isto é, transitório até às próximas eleições, pois não se me afigura que algum dos seus militantes mais proeminentes esteja disposto a assumir a chefia dos social-democratas.
O CDS, ao fim de 47 anos consecutivos de representação parlamentar, não tendo eleito sequer o seu líder Francisco Rodrigues dos Santos “cabeça de lista” pelo círculo de Lisboa, muito dificilmente (para não dizer impossivelmente) conseguirá voltar ao Parlamento, já que o seu espaço político foi ocupado à esquerda pelo PSD, em termos liberais pelo IL e à direita pelo CH. Porém, estou expectante sobre qual dos notáveis centristas acérrimos adversáriosdo atual líder demissionárioestará disposto a assumira chefia dum partido ausente da AR e cuja larga maioria dos seus autarcas eleitos em Outubro de 2021 o foram mediante “inúmeras” coligaçõescom o PSD, ou seja, “à sombra deste”.
Como referido acima as derrotas do PAN, PCP-CDU e BE foram clamorosas.Osanimalistas conseguiram eleger apenas 1 deputado contra 4 em 2019, o PCP 6 contra os anteriores 12 (o seu satélite PEV nenhum) e o BE 5 face aos 19 aos que tinha até 30 de Janeiro. Assim, à esquerda do PS, com excepção do L, que acabou por eleger Rui Tavares quando em 2019 tinha eleito a guineense Joacine, e assim manter/recuperar 1 assento na AR, o PAN, muito provavelmente, desaparecerá nas próximas eleições; o PCP acelerou a sua caminhada para a extinção e o BE tenderá para, quando muito, voltar a ser um partido residual.
Já no centro-direita e direita, exceptuando o CDS, o PSD manterá mais ou menos o mesmo número de deputados, pois falta ainda saber os resultados dos círculos eleitorais dos emigrantes na Europa e de fora da Europa, os quais elegem 4 deputados, 73 contra os 79 obtidos em 2019; o IL 8 deputados, quando antes tinha apenas 1 e igualmente o CH que de 1 passou a ter 12 parlamentares. Nesta área sociológico-política a única incógnita é conhecer o perfil e competência dos novos parlamentares do IL e do CH, já que em ambos os casos, até hoje, não se conhecem figuras de 2ª linha para além dos seus líderes João Cotrim de Figueiredo e André Ventura.
Concluindo, nestas eleições, ao centro-direita e direita (excepto o PSD) CH e IL podem cantar vitória, e à esquerda (excepto PS e L) PAN, PCP-CDU e BE podem chorar a sua amarga e enorme derrota. Por fim, uma palavra para a abstenção, que baixou para 42,04% face aos 48,57% verificados em 2019.
Francisco Garcia dos Santos
Deputado municipal de Lisboa pelo MPT
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