uma sereia louca
e disruptiva
brinca ao Armagedão na caixa de Pandora com a nossa vida
e o código ancestral
preso por um fio
na cinza da poeira
anda à sorte do milagre e do desvario
criaturas técnicas
bastardas de ninguém
emergem do silício ao assalto neuronal
e muito mais além
a incerteza quântica anula o Ser no estar
o princípio da teoria viola o da realidade e a nuvem pode matar
a natureza sangra
na fronteira do martírio
e o lume da hibridação
alastra incendiário
na distopia do delírio
autómatos celulares profanam a cromatina e uma coisa muito feia
governa a eutanásia
o vírus e a vacina
o avatar de Prometeu tresanda de maus agouros
e toda a violência futura
fermenta no sacrilégio
da edição de vindouros
mas não há virtude digital
nem alma cibernética
e o dano antropofágico pode ser terminal
e sem solução aritmética
Yourcenar ergue do tempo o mandala do porvir
Borges crê que a desordem cabe no Universo Divino e o Tigre Azul no Zahir
Pessoa reduz a ciência ao preconceito de si Shakespeare avisa
que o inferno está vazio
e os demónios todos aqui
a Insurgência virá
da aliança de inimigos das alcateias secretas
do egoísmo solidário dos Mortos e dos Vivos a Rosa Subversiva
não pode ser confinada
e a última Matrioska
da fertilidade perpétua
nunca será encontrada
Fernando Pacheco 2021 |