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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

TRAÇOS DA CRISE À PORTUGUESA

19-11-2021 - Pedro Pereira

Acordo meio estremunhado de uma noite mal dormida, que os uivos sibilantes do vento vindo do mar nas persianas da janela do quarto, mal me deixaram pregar olho.

Preparo-me atabalhoadamente e no primeiro café que encontro, entro e acerco-me do balcão. Displicentemente, depois de saracotear ronceiramente o enorme traseiro uma dúzia de vezes ao longo do estrado do balcão à procura de qualquer coisa que aparentemente não encontrou, a empregada estancou frente a mim e sem abrir a boca abanou a cabeça para cima e para baixo.

Quem não soubesse, podia pensar que a dama tinha qualquer problema no pescoço, estilo tique nervoso, mas como já estou habituado... aliás, não só nesse tasco, mas na maior parte dos cafés nesta santa terrinha, não estranhei. Como pensei que podia ensinar-lhe qualquer coisinha, fiquei a olhar para ela. De má catadura a harpia pergunta: - O que quer?

Respondo-lhe com humildade: - Dê-me uma bica e um copo de água por favor. Traz o café, mas esquece o copo de água ao mesmo tempo que me vira as costas. Peço-lhe com ar patético – reconheço - de dedo espetado no ar: - E o copo de água! - Nem me responde. Reparo nos clientes que vão chegando e observo que o comportamento da madame é linear. Aparentemente sofre horrivelmente de uma qualquer menstruação dolorosa.

Deixo 75 cêntimos ao pé da chávena vazia e saio do estabelecimento com sede.

Entro no carro e ala que se faz tarde. Tenho de ir a Lisboa mas antes de encetar viagem tenho de encontrar onde substituir os quatro pneus do carro. Tem sido desleixo meu não o ter feito já.

Depois de percorrer alguns estabelecimentos da especialidade na cidade e arredores, concluí que o melhor era tentar mudá-los ao longo do percurso em alguma estação de serviço, isto, porque nas oficinas que visitei, recusaram-se a mudá-los nesse dia alegando muito trabalho, pese embora não visse por lá tantos carros assim, que justificasse o adiamento para o dia seguinte.

Já de caminho, depois de mais duas tentativas com resultados semelhantes, desvio-me da estrada principal atraído por um letreiro e acerco-me da entrada de uma oficina de pneus onde se encontrava uma única viatura, de volta da qual se afanava denodadamente a montar um pneu, um moçoilo de fato-macaco encardido. Tanto, que não devia ver água desde o dilúvio.

A olhar para o rapazola com ar entendido, uma barriga orgulhosamente espetada, montada numas pernas arqueadas. Encimava este colosso, um carão vermelhusco com um boné coçado alcandorado no cocuruto. Era o patrão. Pergunto-lhe se tem os pneus que pretendo e qual o preço. - Tudo bem. Então quando os pode colocar? - Interrogo.

A realíssima besta responde-me com ar imbecilóide: - De manhã já não pode ser. Como não vejo mais carros por ali, argumento: - Mas ainda são dez horas! - Nem me responde. Pergunto de novo: - Então e de tarde? - Só lá para a tardinha, - responde agastado, virando-me as costas.

Meto-me de novo ao caminho e em S. Bartolomeu de Messines sou atendido com cortesia e vejo o meu problema satisfeito rapidamente numa oficina ampla, arejada e asseada, a abarrotar de viaturas a entrar e a sair.

Poucos dias passados regresso ao Algarve pela auto-estrada. Um Domingo ao fim do dia. O trânsito era fluído no meu sentido, porém, já o mesmo não acontecia no sentido de Lisboa. Desde a ponte 25 de Abril até ao fim da auto-estrada no Algarve, o trânsito circulava compacto, nalguns troços com dificuldades, como se fosse mês de Agosto. Milhares de carros num normal fim-de-semana esmifravam-se para chegar à grande Lisboa, ou para além dela.

Mas caganda crise à portuguesa!

Pedro Pereira

 

 

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