Notas sobre uma iniciativa interessante e útil
10-10-2010 - Joăo Vasconcelos-Costa
A iniciativa do Congresso Democrático das Alternativas (CDA) “Governar à Esquerda”, sábado passado, foi muito interessante. Só pude assistir à sessão da tarde, sobre a reestruturação da dívida, que teve para mim dois aspectos marcantes: a pluralidade desafiadora de opiniões dos participantes (Castro Caldas, Seixas da Costa, João Ferreira do Amaral, Octávio Teixeira e Marisa Matias) sobre a insustentabilidade da dívida e a ligação entre três problemas: dívida, euro e tratado orçamental.
A apresentação genérica por José Maria Castro Caldas está na página do CDA. Deixo aqui, em notas soltas, um comentário que fiz no debate final.
1. Disse-se que a discussão da reestruturação e de uma eventual saída do euro deixou de ser tabu. Sim, no que se refere à discussão académica e em muitos fóruns políticos, mas não no que respeita à discussão mais importante, a que tem de chegar aos cidadãos, ainda ideologicamente condicionados. Um alvo central de combate é o aparelho da hegemonia, com destaque para a comunicação social e a fábrica académica de formatados.
2. A caracterização de “governar à esquerda” como o aprofundamento da democracia em todas as suas vertentes, política, social e económica (acrescentaria internacional de solidariedade na luta contra o imperialismo e a globalização), obrigatoriamente ligada ao combate à austeridade e à resolução do problema da dívida, é uma aproximação operacional com a virtude de não excluir a não ser os que se auto-excluem.
Mas governar à esquerda, com uma esquerda assim caracterizada, exige uma maioria aritmeticamente suficiente e uma maioria politicamente necessária. Estamos longe de ter como seguro que elas sejam sobreporíeis, nem que só parcialmente.
3. Não creio que, até às eleições, há possibilidades de entendimentos (pré-eleitorais). Em todo o caso, considero que vale a pena tentar ao máximo um esforço de aproximação aos partidos por parte de movimentos sociais, órgãos intermédios, iniciativas comunitárias, etc., para constituição de uma ampla frente de esclarecimento e acção, com uma perspectiva de esquerda e soberania como dito em 2., que leve até ao máximo a atitude inclusiva, mas não podendo, obviamente, comprometer o objectivo comum como preço para incluir a toda a força quem não se queira incluir.
João Vasconcelos-Costa
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