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O bom, o idiota, e o labrego

02-07-2021 - Francisco Pereira

Um destes dias, o deputado Duarte Marques do PSD, chamou “idiota útil” ao pobretanas do senhor Berardo, um conhecido pé rapado da nossa praça, a quem os bancos emprestavam dinheiro como se não houvesse amanhã, naquilo que foi um caso do mais puro altruísmo bancário, porque condoídos com a penúria em que vivia o senhor Berardo os banqueiros acharam por bem rechear-lhe as algibeiras, facto que o bom do Berardo aproveitou, apesar de como é sabido ele não ser possuidor de nada.

Mas retomando o tema do “idiota útil”, que é uma figura que abunda na politiqueirice nacional, olhe-se para o actual governo, prenhe de idiotas úteis, não sendo este governo diferente de outros anteriores, dado que os idiotas uteis sempre existiram nos governos, o que me surpreendeu porém foi a inusitada quantidade de “idiotas úteis” que no elenco do actual governo, por ali assentaram arraiais ministeriais, a existência desses idiotas úteis é uma praga que assola transversalmente a administração publica portuguesa, os municípios por exemplo estão cheios deles, muitos presidentes de câmara fazem-se rodear de vereadores da espécie “idiota útil”, que servindo os propósitos dos presidentes, não lhes fazem sombra e abanam diligentemente a cauda a cada traque do chefe, os “idiota útil” continuam a ser preciosos nas chefias intermédias, servem às mil maravilhas para a política de sabujice e miserabilismo intelectual que vigora na administração publica, apesar de como se viu no caso do Berardo a figura do “idiota útil” poder ser um pau de dois bicos, ganhando vida própria e crescendo até ficar um monstro descontrolado, no entanto o “idiota útil” é omnipresente e transversal na nossa sociedade há centenas de anos, é uma instituição nacional.

Portugal é também um antro de labregos. Verdade insofismável, veja-se a ida de Berardo ao Parlamento, o homem é claramente um labrego, do mais fino recorte, veja-se igualmente a atitude de um certo ministro que manda o carro seguir a mil à hora pela faixa da esquerda, que atropela e mata um pobre desgraçado, ministro esse que agora atira as culpas, mentirosas, para uma fantasiosa e alegada falta de sinalização, como se isso justificasse a velocidade e a condução na faixa da esquerda, quando devia seguir exemplarmente na faixa da direita como diz o código da estrada, o que é isso senão um exemplo do mais puro labreguismo egocêntrico das elites politiqueiras intelectualmente indigentes que temos.

Não seremos porém dos piores países ao nível do fenómeno labrego. Estou a pensar por exemplo nos Estados Unidos, no Brasil ou no Reino Unido, para citar exemplos que conheço, onde o labreguismo é avassalador, curiosamente, nós portugueses adoramos emular a cultura anglo saxónica e o seu labreguismo provinciano.

Querem provas disso? Existem catadupas delas, vou, por exiguidade de espaço, dar apenas dois exemplos, cingindo-me a esses por exemplares que são. A semana passada na Sexta-feira, foi pelo Governo decretado que não se podia sair nem entrar em Lisboa, por causa dos números avassaladores de infecções por Covid, e que fizeram os labregos lisboetas, anteciparam a fuga, fugindo nos dias anteriores para as terrinhas, resta saber se levaram a infecção com eles, numa clara demonstração do labreguismo incivilizado egoista que campeia em Portugal, atentai que isto aconteceu, na capital deste Reino do Disparate, onde supostamente residem as populações mais inteligentes e letradas, muito vegans, muito cultas, muito urbanas e esclarecidas por oposição a nós os provincianos medíocres, que vegetamos aqui pelas berças, afinal, são os de lá, tal e qual tão ou mais labregos que os de cá.

Um outro exemplo do labreguismo nacional, foram as matrículas para os veículos automóveis com a nova configuração, foi vê-los ir a correr gastar dinheiro para instalar essas matriculas com a nova configuração em chaços velhos, os labregos não poupam esforços para se sentirem irmanados nesse grande rebanho de carneirada labrega que mansamente pasta pelas luzidias charnecas deste paraíso de patetas à beira mar plantado. Se tal medida tivesse sido imposta, não faltariam as matilhas ululantes a vociferar contra o governo, acusando-os de serem proxenetas, de explorarem o povo e assim por diante, como a medida foi aprovada apenas para os veículos novos adquiridos a partir de determinada data, os labregos sentindo-se atingidos no seu orgulho correram em massa às novas matrículas, naquilo que é mais um misterioso comportamento grupal, uma espécie de psicose colectiva desta súcia de labregos que por aqui anda,

Já dessa labrega propensão se queixava Guerra Junqueiro, lembrei-me dele porque passou há dias mais um aniversário da sua morte que se cumpre a 7 de Julho, no caso foi o nonagésimo oitavo ano, em 2023, cumprir-se-á o centésimo aniversário, sempre quero ver, se vivo for claro está, como farão estas presentes alimárias, para perpetuar a memória de um dos portugueses mais insigne, um dos bons, um dos nossos melhores, tão injustamente, como tantos outros, esquecido, ele que foi o último dos famosos “Vencidos da Vida” a desaparecer, em 1923.

E tanto que a sua poesia panfletária e verdadeiramente sentida, questionou e zurziu neste Portalegrete miserável do “fin de siécle”, como não ler Finis Patriae, e a Canção do Ódio e perceber ali o desencanto por uma pátria irremediavelmente perdida, habitada por medíocres, por gentalha boçal incivilizada até ao tutano e avessa ao cumprimento dos deveres, gente que em 100 anos passados pouco mudou, creio até que Guerra Junqueiro, estranharia pouco as mentalidades do hoje, se pudesse aqui voltar, veja-se a moda das bandeirinhas nas varandas, por causa dos empurra bolas, como se não houvessem todos os dias motivos de nos orgulharmos do nosso país, bastou a equipa nacional ter sido eliminada e foi vê-los a enfiar as bandeiras no saco, só apetece gritar, “cambada de pulhas, bela súcia de patriotas de merda que vocês são, oh corja”.

Francisco Pereira

 

 

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