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A MOSCA DOS DEUSES

25-06-2021 - Francisco Pereira

É confrangedor, assustador e completamente estapafúrdio, que se continuem a utilizar métodos estalinistas, salazarentos e muito pouco democráticos para tentar governar este nosso país, o exemplo mais recente foi o bem conhecido caso passado no município de Lisboa, que anda e parece que andou a fornecer dados das pessoas que organizam manifestações junto a embaixadas de países conhecidos por serem declaradamente anti democráticos, isto como se essa gentalha precisasse desse favor, pois estou seguro que para cada manifestação que haja frente às embaixadas deste tipo de países, exista elaborado pelos agentes secretos colocados nessas embaixadas, um excelente arquivo com fotografias, vídeos e detalhados relatórios sobre os participantes, só alguém muito ingénuo acredita que aquela rapaziada está à espera dos tolinhos da câmara municipal para saber pormenores sobre quem organizou a manifestação.

Ainda assim o município da capital do reino, fica muito mal na fotografia, fica ali aquele travo estalinista e salazarento, pior, fica ali plasmada uma subserviência absolutamente degradante que nos faz temer pela nossa segurança, afinal aqueles que elegemos e pagamos, principescamente para nos representar, governar e defender, são os primeiros a venderem-nos pelos tais trinta dinheiros, isto é tudo tão patético que chega quase a ser anedótico, pior que o caso em si, são as desculpas aduzidas em sua defesa, que o chefe da edilidade apresentou à populaça e consequentemente ao país através da comunicação social, desculpas esfarrapadas, patetas e patéticas, que só tiveram paralelo nas igualmente cretinas e disparatas declarações que o nosso primeiro dos ministros, entendeu por bem fazer, em defesa do “camarada” autarca.

Invocar o uso, para defender o absurdo, é ao nível do argumento, o mesmo que dizer que os nossos governantes apresentam um grau zero de intelecto, não havendo entre aquela chusma de desvalidos do intelecto ninguém que aparentemente consiga ter pelo menos dois neurónios funcionais, a coisa ainda se torna mais patética e grave, porque com a transposição para o ordenamento jurídico nacional do famoso Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 2016, que se tornou aplicável obrigatoriamente a partir de 2018, passados três anos já passou tempo suficiente para que esta rapaziada, o senhor autarca de Lisboa incluído, ter dado instruções claras aos serviços para que este tipo de insanidades fosse extinto, infelizmente, como em numerosas outras situações, demasiadas para caberem agora aqui, as leis existem, mas ninguém parece querer cumpri-las, ou sequer implementar e fiscalizar o seu cumprimento, e tanto isso é verdade que num recente artigo de um jornal (1) se afirma que “57% dos municípios não cumprem a lei de proteção de dados, mas ainda não foi aplicada qualquer coima.”, pessoalmente acredito que a realidade seja bem pior, mas essa é apenas a minha convicção.

Nos tempos da senhora governanta do famoso “botas” de Santa Comba, legislação existia que por exemplo, obrigava a que “...os patrões deviam reportar oportunamente a greve ao Instituto Nacional do Trabalho e Providência e à PIDE, caso se ocultasse por detrás do descontentamento laboral a desafeição política…” (Cerezales 2011) (2) . Como está à vista, mesmo que desarmada, de todos, tal prática de antanho, e esta prática mais modernaça, praticada pelo município de Lisboa, tem o mesmo cariz e intenção, a pura delação, por outras palavras, o salazarismo bafiento finou-se em 1974, será, mas os métodos, entre outros, estes da “bufaria” e da “sabujice” mantiveram-se activos e bem de saúde mesmo quando já estava em vigor legislação específica que os proibiria, e bem pode o senhor chefe da autarquia lisboeta dizer que não consegue saber o que todos os funcionários da edilidade fazem, pois não, apesar de eu acreditar que é seu dever ter pelo menos uma ideia geral, sendo que para isso é preciso sair do ar condicionado do gabinete, para visitar os subordinados, conhece-los, falar com eles saber o que fazem, porque afinal ele é o chefe, é ele que colhe os louros, logo solidariamente é o responsável, afinal quem é que juridicamente representa o município?

O senhor autarca pareceu-me desnorteado, surgiu-me a alegoria de ele ser uma mosca dos Deuses, uma mosca que ao serviço desses deuses exigentes, quanto mais esbraceja na merda que fez, mais atolado nela fica e mais mau cheiro exala, ainda assim não acredito que nestes casos as demissões serviam alguma coisa excepto, para a vulgar “fuga com o rabo à seringa” como sói dizer-se, uma efectiva ida ao banco dos réus seria o mais desejável, mas para isso seria necessário que a legislação deixasse de proteger este tipo de galfarrices, até porque ao contrário daquilo que quer o governo quer o senhor autarca de Lisboa se esforçaram por esconder, os dados transmitidos, não eram de cidadãos estrangeiros, visto que pelo menos dois deles são cidadãos com nacionalidade portuguesa, o caso que já era mau ficou ainda pior, tenham vergonha.

1. Artigo Jornal O Observador, https://observador.pt/2021/06/22/57-dos-municipios-nao-cumprem-lei-de-protecao-de-dados-mas-ainda-nao-foi-aplicada-qualquer-coima/ , acedido em 24-06-2021

2. Cerezales, Diego P., Portugal à Coronhada, Tinta da China, 2011

Francisco Pereira

 

 

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