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As Forças Vivas

18-06-2021 - Rui Filipe Freitas

(Advertência preliminar: o artigo que se segue é um texto satírico que não pretende ser, de nenhuma maneira, ofensivo ou atentatório da dignidade de terceiros, apelando, tão-só, à capacidade de nos rirmos de nós mesmos.)

Imediatamente a seguir à quadrienal época das rotundas, como seu corolário, temos o espectáculo Kitsch mais concorrido e aguardado da república — as eleições autárquicas. Espectáculo de variedades de grande fôlego, aqui podemos entregar-nos, sem qualquer reserva de ordem intelectual, à mais pura contemplação estética. Há números para todosos públicos e sensibilidades artísticas, sendo que todos obedecem ao mais estrito rigor estético da paródia em estado puro.

Um dos números mais aplaudidos e apreciados são as arruadas. Aqui, podemos observar um grupo capitaneado pelo cabeça de lista, rodeado pela sua guarda pretoriana, isto é, pelo seu séquito pessoal e intransmissível de bajuladores. É nesta fauna que ele recruta os candidatos às juntas de freguesia. Fauna densa, mas de grande homogeneidade, constitui-se por dois espécimes da mesma família zoológica, mas com morfologia e competências distintas: os videirinhos e os arrivistas. Os videirinhos têm como desiderato somar uns cobres à conta bancária, normalmente para fazer face às pulsões mais patuscas, como comprar um mercedes ou uma casa de férias no Algarve. Já os arrivistas, normalmente mais novos e pertencentes às juventudes partidárias, somam ao desiderato material, uma patológica ambição socioprofissional. Este número é tanto mais rico, se o candidato for já presidente do município. (A figura do presidente de câmara veio substituir o medieval Senhor da coutada e, dizem as más línguas, preserva ainda o direito de pernada.)

Outro número muito aguardado, são os artigos de jornal dos candidatos a qualquer coisa. Num desses artigos, há uns dias, um candidato dizia pretender adoptar uma “atitude de positivismo”, isto é — há atitudes marxistas, estruturalistas, desconstrucionistas, existencialistas etc. Ele, que parece ser um homem prático e sensato, acha por bem adoptar a atitude de Auguste Comte.

Infelizmente, este ano, decorrente das limitações profilácticas impostas pelo Governo, este esplendoroso espectáculo será bastante mais modesto. Mas não é caso para desânimo, em Portugal, somos ciosos das nossas tradições.

Rui Filipe Freitas

 

 

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