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MONSENHOR ANTÓNIO BARBOSA
In memoriam

12-03-2021 - Francisco Garcia dos Santos

Existem fenómenos na vida de cada pessoa que, para os crentes, são atribuíveis à vontadedivina, ou, para os incréus, à sorte ou azar. Como crente católico apostólico romano que sou, encontro-me entre os que imputam a Deus e seus desígnios determinados acontecimentos da minha vida, e, entre estes, o ter conhecido Mons. António Barbosa.

O Padre António Barbosa (monsenhor é um título honorífico da Igreja Católica Romana),originário de famílias beirãs, nasceu a 28 de Outubro de 1936 no Bairro da Mouraria, em Lisboa. Cursou Medicina em Lisboa e Coimbra, Filosofia e Teologia em Roma, onde se licenciou em Direito Canónico, e em Pamplona, na hoje denominada Universidade de Navarra,onde se licenciou-se em Jornalismo. Na Capital italiana conheceu São Jose Maria Escrivá de Balaguer, padre espanhol fundador do Opus Dei e canonizado pelo Papa São João Paulo II em 2002, também ele canonizado pelo Papa Francisco em 2014. E tal conhecimento fez com que aderisse à Prelatura de Santa Cruz e Opus Dei, uma espécie de Diocese extra-territorial directamente na dependência do Sumo Pontífice, tendo sido ordenado sacerdote em Madrid em 1963.

Em Portugal o Doutor Barbosa, como era conhecido no seu círculo mais próximo, foi por duas vezes dirigente máximo do Opus Dei, tendo o último período ocorrido entre 1989 e 2002, com o título de Vigário Regional.

Foi nesse período que conheci pessoalmente o Doutor Barbosa, tendo-nos tornado grandes amigos, embora eu não pertença nem nunca tenha pertencido ao Opus Dei.

Homem de inteligência superior, verdadeiro intelectual, dotado de humor refinado e notáveis dotes de oratória, era contudo uma pessoa simples, afável, gerador de grande empatia e, como sacerdote, não obstante os seus múltiplos afazeres, para quem, como costumo dizer, seria necessário que o dia tivesse 48 horas para dar conta do trabalho e atender pessoas, tinha sempre aberta a porta da Residência do Lumiar, sede da Vicararia do Opus Dei em Portugal, Lisboa, para receber quem com ele desejasse encontrar-se.

Devo à divina providência ter tido o raro e sumo privilégio de encontrar no meu caminho o Doutor Barbosa, como homem e sacerdote ter-me acolhido no seu círculo de amigos e restricto grupo de leigos a quem prestava directamente assistência espiritual -dizia a minha Mulher, membro supranumerária do Opus Dei:

Tu és um privilegiado!Basta um telefonema para estares, quando queres, com o Vigário (Doutor Barbosa), quando muitos membros da Obra têm dificuldade em o conseguir”.

E era verdade!

Ao Doutor Barbosa, santohomem, muito devo!-desde a sua genuína amizade à dedicada orientação da minha prática religiosa, passando pelo aprofundamento e conhecimento racional da Fé e da própria Igreja.

Tal conhecimento traduziu-se num curso de Teologia e Direito Canónico em que ele era o professor e eu o único aluno. Num dia fixo da primeira semana de cada mês ia à Residência do Lumiar, falávamos um pouco sobre vários assuntos da vida quotidiana e acontecimentos nacionais ou internacionais que nada tinham a ver com religião, depois ouvia uma prédica sobre determinado tema teológicoou canónico e, no fim, o Doutor Barbosa emprestava-me um livro sobre o mesmo para ler até ao próximo encontro; e nesse, após a conversa habitual, eu expunha eventuais dúvidas que persistissem, esclarecia-me e passávamos à sua dissertação sobre novo tema, ou aprofundamento do mesmo, tudo numa espiral de conhecimento.

Como exemplo do seu humor, não resisto a contar a seguinte estória: após uma prédica e subsequente leitura sobre a natureza de Deus e as três Pessoas da Santíssima Trindade, que na Igreja é denominado de mistério, lá disse ao Doutor Barbosa que não tinha entendido essa parte; com um largo sorriso respondeu-me: “Não te preocupes, porque isso nem o Papa sabe!”, o que me fez soltar uma gargalhada.

No âmbito da assistência espiritual, para além de ministrar sacramentos, dava-me sempre uma “palavra” de compreensão, conforto, esperança e fé em Deus, quando atravessava algum período mais difícil da minha vida pessoal, familiar eou profissional. Não exagerarei se disser que o dia da visita ao Doutor Barbosa era um dos por mim mais esperados e felizes, e sempre que saía da Residência sentia-me mais leve e confiante para enfrentar a vida.

Quis Deus que, após cessar o seu mandato de Vigário em 2002, pleno de coragem e confiança, fosse fazer apostolado para o perigosíssimo Líbano, tendo assim, com grande pena minha, cessado o contacto regular com o Doutor Barbosa.

Para não me alongar em considerações pessoais, reproduzo parte da notícia da Vicararia sobre o falecimento do Doutor Barbosa aos 84 anos de idade, vítima de Covid-19, ocorrido no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no passado dia 2 de Março.

A sua personalidade, marcada por um profundo amor ao sacerdócio e à Igreja, impressionava pela determinação inabalável, pela sua jovialidade criativa, e por uma humildade e plena disponibilidade para acolher cada pessoa com toda a tranquilidade. Temperou o seu carácter com um permanente bom humor e alegria”.

Neste Mundo perdi um grande amigo, mas ganhei mais uma estrela nos Céus que, sei bem, continuará a iluminar o meu caminho,e a interceder por mim junto de Maria Santíssima e de seu filho Nosso Senhor Jesus Cristo.

Até à Eternidade, meu querido amigo Doutor Barbosa!

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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